Uma nova geração de escritórios

As empresas saem de um ciclo onde a redução e otimização de custos com o imobiliário foram determinantes, para uma fase de crescimento económico e diminuição da disponibilidade da força de trabalho qualificado. Como na escassez de qualquer produto e sua consequente valorização, para a grande maioria das empresas a principal preocupação passou a ser a retenção e atração de talento. Talento esse que, numa geração millennial em que o salário não é tudo e muito focada num certo estilo de vida e forma de trabalhar, quebra muitas tradições. As empresas com colaboradores mais jovens, normalmente ligadas aos setores mais dinâmicos e de crescimento mais rápido, passaram a ter de atrair a sua força de trabalho com pacotes de condições com forte impacto no espaço físico que ocupam. Surgiram, assim, na primeira linha dos critérios de escolha dos escritórios, preocupações acrescidas com a acessibilidade, uma vez que muita desta população laboral não tem viatura própria nem condições para a sustentar, para além de algumas preocupações ecológicas. O acesso por transportes públicos ou outras formas de mobilidade torna-se crítico. Veja-se a explosão de bicicletas e trotinetas partilhadas que surgiram nos centros urbanos. A quantidade de serviços e comércio nas proximidades é outro fator altamente valorizado. Esta população necessita de ter a curta distância a possibilidade de fazer compras, alimentar-se ou divertir-se, uma vez que os seus horários laborais são cada vez mais flexíveis e há uma clara mistura entre as horas de trabalho e de lazer. Finalmente, a forma como se trabalha e utilizam os espaços corporativos. O impacto da tecnologia, a diluição e indefinição dos horários de trabalho versus o tempo pessoal, tendem a uma “hotelarização” dos escritórios com vista a propiciar bons níveis de conforto e de serviços numa ótica totalmente flexível. Algumas empresas fazem os possíveis para que os seus colaboradores se sintam “em casa” melhorando a produtividade, quer por se sentirem bem quer por passarem mais tempo no local de trabalho. Este último fator pode contribuir verdadeiramente para a tal revolução deste setor, uma vez que os arquitetos e promotores passam a desenhar um produto que, tendo o mesmo fim, é utilizado de forma diferente. Os espaços comuns são agora mais generosos em detrimento do posto de trabalho fixo. Existem mais áreas de socialização e algumas zonas de retiro ou lazer. Preferencialmente deverão existir espaços verdes ou zonas exteriores. O próprio mobiliário é diferente. A comunicação entre colaboradores é privilegiada, permitindo a tecnologia essa faceta nómada no interior ou exterior dos edifícios. Continua a ser importante a racionalidade financeira dos projetos do ponto de vista do promotor e do utilizador mas claramente estamos a assistir ao surgimento de uma nova geração de edifícios de escritórios, que vão marcar de forma indelével não só a paisagem das nossas cidades mas sobretudo a forma como vivemos.

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