Refazer cidades para os cidadãos

Ensaio apenas um parágrafo: gentrificação, desertificação, ruído nocturno, movimentos pendulares de populações, reabilitação urbana, edifícios inteligentes, domótica, elitismo rejuvenescimento populacional, vida nocturna versus vida diurna, “popup shops” (em Português lojas temporárias), lojas de marca, investimentos, desinvestimentos…É apenas um parágrafo mas poderiam ser muitos mais, pois este tema da reabilitação e regeneração dos centros históricos pode levar-nos para onde quisermos, incluindo para a projecção dos medos que qualquer potencial bolha imobiliária sempre geram ou de outros fenómenos mais complexos.Sei de investidores que apostam na reabilitação urbana e tentam investir em pequenas hotéis instalados em centros históricos e em edifícios reabilitados mas pedem aos arquitectos a quem encomendam o desenho dessas reabilitações que proponham soluções que possam servir como residências temporárias enquanto o fenómeno turístico estiver em alta mas possam também ser facilmente transformadas em frações habitacionais num regime da propriedade horizontal.O mercado imobiliário não tem preços tabelados e perante uma escassa oferta quando a procura não pára de crescer é natural que haja um aumento nos preços. Decorre da mais básica lei da economia, a Lei da Oferta e da Procura. Mas muitos investidores, em muitos países, também sabem - alguns dolorosamente - que as árvores não crescem até ao céu, como por vezes parece.Saber encontrar esse tal ponto de equilíbrio entre turismo e habitação nos nossos centros urbanos é o que importa, de momento, ao setor imobiliário português. Como importa saber se as regiões que apostam nesta dinâmica têm ou não o apoio das companhias aéreas que colocam milhares e milhares de turistas e podem, ou não, contar com políticas que previnam situações potencialmente desagradáveis para a promoção turística.Tudo isto conta e tem de contar quando abordamos o tema do mercado habitacional dos centros urbanos com a certeza de que não podemos permitir que esses centros não sejam reabilitados, caminhando para a degradação, nem podemos pretender inverter a tendência da desertificação dos centros sem soluções atrativas e inteligentes para quem possa dar outra vida a esses polos habitacionais históricos.Sabemos como é perigoso aprofundar soluções urbanísticas que concentrem os serviços numa zona fazendo com que essa zona seja densamente povoada de dia e desértica à noite. Sabemos como é desumano construir bairros residenciais por excelência que são verdadeiros dormitórios quase sem povoamento visível considerando que os que neles vivem só aí estão na hora de dormir.O que deve estar sempre no nosso horizonte é esta ideia de refazer cidades para os cidadãos, num quadro onde a Reabilitação Urbana é fundamental e inquestionável, mesmo com os riscos inerentes aos erros que sempre se comentem, especialmente quando mudamos de paradigma.

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