O TURISMO E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

O setor vive tempos de grande dinamismo, com adequada promoção externa e reconhecimento internacional, bons índices de satisfação junto dos que nos visitam, atenuação da sazonalidade, melhores infraestruturas, novas rotas aéreas. Mas também há desafios.Sendo um grupo que, mesmo nos anos mais difíceis, manteve o ritmo de investimento e a abertura de novos hotéis, continuamos à procura de projetos para expandir a marca Vila Galé. Há três anos que tentamos ter um segundo hotel em Lisboa. Mas a valorização excessiva dos imóveis, em especial no centro de cidades como Lisboa e Porto, têm travado esta ambição.Os valores praticados na venda de ativos imobiliários já não são viáveis para a operação hoteleira. Nos últimos anos avaliámos mais de 30 edifícios em Lisboa. Contudo, optámos por não avançar porque os preços estão de tal forma exagerados que não permitem concretizar qualquer investimento. A pressão da procura levou à especulação dos valores imobiliários que inviabilizam aquisições, até porque, no caso da hotelaria, há ainda que ter em conta todo o custo da reconversão para hotel. Mesmo com boas taxas de ocupação, seriam negócios muito difíceis de rentabilizar devido ao elevado investimento na componente imobiliária.Discordo de quem diz que há turistas e turismo a mais e considero que ainda há espaço para mais hotéis em determinadas localizações. Mas é preciso que os ativos entrem no mercado cumprindo pressupostos que deixem margem para viabilizar as operações hoteleiras e o retorno do capital investido.Ainda assim, também há oportunidades. Por exemplo, no que diz respeito à reabilitação do património arquitetónico. Acredito que o sucesso de Portugal também passa pela valorização da nossa riqueza histórica e cultural até porque é um fator verdadeiramente único, não copiável. É por isso que na Vila Galé temos seguido a estratégia de recuperar edifícios com história, transformando-os em hotéis que se diferenciam, que oferecem experiências enriquecedoras aos hóspedes.São disso exemplo o Vila Galé Collection Palácio dos Arcos, hotel que resultou a recuperação de um antigo palácio do século XV. Ou dos futuros Vila Galé Braga, assente na reconversão do ex-hospital de São Marcos, um edifício sem uso desde 2011. E ainda do Vila Galé Elvas, que nascerá no antigo convento de São Paulo, atualmente muito degradado. Trata-se de atribuir novos usos ao património dando-lhe ao mesmo tempo um sentido económico viável. Mesmo que isso signifique enfrentar a morosidade e a burocracia que alguns destes processos representam, tendo em conta os numerosos pareceres, autorizações e licenciamentos exigidos.De qualquer forma, trata-se, acima de tudo, de confirmar e reforçar o impacto positivo que o turismo tem tido em Portugal. Recuperar edifícios e investir em novos projetos é contribuir para renovar as cidades, o seu comércio o seu tecido social, para melhorar as condições de vida dos moradores – com mais segurança, mais zonas verdes, mais lazer -, para revitalizar a economia local e gerar emprego.

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