A incorporação de estratégias ESG na gestão de portfólios imobiliários

Se há uns anos o ESG era um “nice to have” com importância crescente, hoje é um “must have” e no futuro estará de tal forma imbuído nas estratégias corporativas que deixará de “ser assunto”.Ainda que frequentemente o ESG seja mal confundido com uma ideologia, o argumento corporativo tem vindo a ganhar peso. Ao abordar a sustentabilidade na esfera empresarial, é incontornável referir as cartas de Larry Fink, CEO da BlackRock. Desde 2018 que o CEO da maior gestora de ativos mundial, refere a importância das estratégias de ESG, Larry Fink associa a sustentabilidade ao objetivo maior de qualquer empresa, a maximização do lucro. Estas duas realidades são hoje indissociáveis, se aplicarmos, de uma forma honesta, a perspetiva de longo prazo à gestão das nossas empresas e dos seus negócios. A comunidade científica está hoje muito alinhada no impacto que as alterações climáticas vão trazer ao planeta, este impacto vai inevitavelmente ter consequências na economia, e é esta a mensagem que desde 2018 Larry Fink tem passado aos CEOs das empresas em que investe.As recentes introduções legislativas na União Europeia vieram reforçar a necessidade da transformação. O regulamento europeu da Taxonomia, ainda que imponha para já apenas a obrigação de reporte, veio transformar a postura das empresas europeias face à sustentabilidade. Esta transformação será alargada a outras geografias, pois o principio da extraterritorialidade, e a sua aplicabilidade a toda a cadeia de valor, obriga a uma transição de todos os agentes económicos que queiram continuar a trabalhar na União Europeia.Dado o seu comprovado impacto na esfera ambiental o negócio imobiliário é um dos mais visados nas discussões de sustentabilidade, sendo um dos 8 setores identificados na Taxonomia. A incorporação de estratégias ESG na gestão de portfolios imobiliários é hoje incontornável; não se trata de um artifício para mero benefício da imagem da empresa, vai muito para além disso. Todo o ciclo do imobiliário está a ser impactado: Os bancos são já hoje obrigados a publicar o Green Asset Ratio, e de futuro será definido um treshold abaixo do qual será exigido um reforço de capitais próprios. Os fundos de investimento serão também avaliados à luz da Taxonomia, sendo penalizados no levantamento de capital em caso de baixo alinhamento. Existe ainda uma série de impactos diretos cujo crescimento é exponencial: os níveis de ocupação e as rendas estão já a ser afetados, com os grandes ocupantes a adotar políticas rigorosas de inibição de ocupação de edifícios não alinhados em termos de sustentabilidade. O impacto na estratégia de saída é também uma realidade, com a generalização da convicção de que existe um “prémio verde” associado às yields de ativos imobiliários.É hoje muito claro que o não alinhamento com a sustentabilidade vai provocar uma perda de valor nos ativos imobiliário. O facto é que o processo de transformação traz enormes desafios e o mercado não está preparado para a transformação que já chegou: existe uma enorme escassez de profissionais com formação em sustentabilidade, o stock imobiliário em Portugal está muito longe do alinhamento ambiental desejável, a ameaça do “greenwashing” é cada vez mais visível - veja-se a capa do The Economist de 23 de Julho - e a opção por soluções mais sustentáveis traduz-se, ainda, no pagamento deum prémio. À luz dos recentes acontecimentos à escala mundial, que estão já a ter um forte impacto na economia, surge uma última questão: não irá a anunciada crise económica generalizada provocar um atraso na transição?Ainda assim, o desafio deve ser encarado por todos os intervenientes no mercado, sob pena de se traduzir em perda de competitividade e destruição de valor.

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