COPIP
18 de junho
Monsanto Secret Spot
APPII e Vida Imobiliária
348
Promotores, investidores e demais profissionais do setor da construção e do imobiliário mobilizaram-se para estar presentes na V edição da Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal – COPIP. Na agenda estava o desafio no acesso à habitação, um problema que persiste e que o novo Governo pede «tempo e confiança» para resolver. Mereceram destaque as estratégias de Lisboa e do Porto para a criação de habitação acessível, bem como o exemplo espanhol de parcerias público-privadas para a construção de habitação acessível – o Plan VIVE. A par da habitação, a V edição da COPIP abordou os desafios da transição energética e da sustentabilidade, bem como o impacto da inteligência artificial no mercado imobiliário, da digitalização, do BIM e da nova taxonomia europeia no acesso ao financiamento.
Entre outras personalidades, marcaram presença nesta conferência a Secretária de Estado da Habitação, Patrícia Gonçalves Costa; o Presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio; a Vereadora da Habitação e Obras Municipais da Câmara Municipal de Lisboa, Filipa Roseta; o Vereador do Urbanismo e da Habitação da Câmara Municipal do Porto, Pedro Baganha; o Viceconsejero de Vivienda, Transportes e Infraestructuras da Comunidad de Madrid, José Maria García Gómez; e a Presidente da ASPRIMA, Carolina Roca.
Hugo Santos Ferreira, Presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários – APPII, considera que os portugueses «vivem um clima de emergência habitacional» sendo necessárias medidas urgentes, tais como, a descida do IVA para 6% na construção, a redução da «bruta» carga fiscal e, sobretudo, devolver confiança aos promotores e investidores. «Falta sobretudo confiança. Aos investidores foi retirada de forma abrupta e aos proprietários foi retirada a pouca confiança que faltava para colocar casas no mercado. A confiança é a base de qualquer mercado que almeja ser robusto. No setor da habitação a confiança pode ser restaurada com medidas concretas».
O alerta foi claro «os portugueses não podem esperar mais quatro anos por uma habitação condigna, a preços que possam pagar. É fundamental urgência, celeridade e ação». O Presidente da APPII reconheceu o mérito da Nova Estratégia do Governo para a Habitação, mas sublinhou a necessidade de rapidez na sua implementação, uma vez que «precisamos de mudanças urgentes».
2024 é um ano de «transformação significativa, que tem no centro as cidades, na sua capacidade de se reinventarem. As cidades têm forçosamente de ser mais inclusivas, próximas, sustentáveis e digitais». A nova diretiva (Diretiva sobre o Desempenho Energético dos Edifícios) «será central nesta transformação».
«Está a ocorrer um processo de transição, marcado pela descarbonização, descentralização e digitalização», começou por referir Sofia Tavares, Diretora de Marketing e Produto B2B, EDP Comercial. Um caminho que «necessita de acelerar». Na sua opinião «a eletrificação será uma consequência natural dos esforços de descarbonização» e o crescimento do número de bairros solares «são um bom exemplo do que é descentralizar. Estão a democratizar o acesso à energia solar».
A descarbonização está também preconizada nos objetivos da Taxonomia Europeia e «o imobiliário tem um papel crucial para o efeito», sublinhou Ângela Monteiro, Diretora de Financiamento Sustentável, Millennium bcp. «O roteiro da descarbonização não avançará se não formos aos edifícios. E, para cumprimos as metas, a esmagadora fatia dos edifícios precisará de intervenções profundas». Para Ângela Monteiro, «o sistema financeiro funcionará como um acelerador da transição climática».
Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios em Portugal – ELPRE
Estima que para a renovação e melhoria energética dos edifícios seja necessário um investimento que vai de €82/m2, até 2030, a €258/m2, até 2050.
Da simplificação de processos até à da tomada de decisões, a inteligência artificial já começou a revolucionar o mercado imobiliário e as empresas que estiverem preparadas poderão experienciar um crescimento acelerado. Na opinião de Luís Gregório, especialista do IBM, a inteligência artificial «representa um desafio para a maioria das empresas, mas também uma enorme oportunidade». A revolução que se aproxima não passa apenas pela integração das tecnologias de inteligência artificial é, também, evidente na digitalização do setor da construção e no uso de ferramentas como o BIM. «Embora em Portugal o emprego do BIM já seja uma realidade», Miguel Alegria, CEO da Engexpor, reconhece que «estamos atrasados em relação ao que se faz no Norte da Europa». Na sua opinião «o custo significativo ainda é uma das desvantagens deste software, que também implica um investimento significativo em equipamento (hardware), além de implicar um esforço de formação – em que o tempo pode ser o mais desafiante. E, num mercado pequeno como o de Portugal, isso implica um esforço acrescido». Não obstante, começam a multiplicar-se as obras com recurso ao BIM, exemplo disso, Diogo Abecasis, Co-Founder & Managing Partner da MAP Engenharia, apresentou o Alecrim 53, «uma obra de reabilitação de um edifício residencial com 2.000 metros quadrados em que o projeto foi todo moldado com BIM». Reconhece que se trata de um «investimento muito significativo», mas acredita que «se os promotores trabalharem de A a Z os seus projetos com recurso a BIM, conseguem ter um bom retorno e antecipar muitos dos problemas».
O setor do imobiliário e da construção foi sempre o mais resistente à evolução tecnológica, mas com a inteligência artificial a ganhar terreno, em todas as áreas, é expectável um grande impacto também neste setor. O potencial é enorme! De processos mais autonomizados e industrializados, até à redução do tempo e dos custos, a digitalização, industrialização e emprego da inteligência artificial poderão ser os passos decisivos para conseguir colocar mais casas no mercado e a preços mais acessíveis. Isso mesmo ficou patente nas conclusões da mesa de debate participada por José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties; Luís Corrêa de Barros, CEO da Habitat Invest; Ricardo Sousa, CEO da CENTURY 21 Portugal | España; Francisco Campilho, CEO da Victoria Seguros; Sérgio Ferreira, Partner da EY; e moderada por Patrícia Barão, Head of Residential da JLL.
José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, alertou para o facto da mão-de-obra ser hoje um dos grandes problema do setor e de como o «impacto brutal» da inteligência artificial pode ajudar a resolver esse problema. Sérgio Ferreira, Partner da EY, admite que em economias mais desenvolvidas, «não vai demorar 24 meses até termos robôs que vão ser pedreiros ou carpinteiros. Teremos um ser humano a controlar a obra, mas quem estará lá dentro a executar serão máquinas». Também Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal e Espanha, não tem dúvidas de que «todos os sectores que se recusem a abraçar a tecnologia estarão em risco», ressalvando, contudo, que a «inteligência emocional irá sempre prevalecer sobre a artificial».
Com uma forte atividade dirigida para as famílias portuguesas, Luís Corrêa de Barros, CEO da Habitat Invest, acrescenta à inteligência artificial os desafios da sustentabilidade. «Este é um caminho sem retorno e, embora vá ter muitos recuos e obstáculos, é um caminho incontornável. Se não o traçarmos, vamos ter de sair do mercado». Pesando desafios e oportunidades, Francisco Campilho, CEO da Victoria Seguros, encara o futuro do setor com otimismo, «o setor da construção tem todas as caraterísticas para continuar a ser uma locomotiva da economia».
«Somos uma das autarquias com maior capacidade de resposta em termos de trâmites urbanísticos e de licenciamento», afirmou Ricardo Rio, Presidente da Câmara Municipal de Braga, destacando a competitividade da cidade, em termos de custo, e o potencial para investir e rentabilizar investimento.
Para uma sala que aguardava com expectativa, as palavras da Secretária de Estado da Habitação, Patrícia Gonçalves Costa foram de compromisso, garantindo o seu propósito de «trabalhar em equipa» com o setor. «Temos de estar juntos para criar equilíbrio neste setor, entre proprietários, inquilinos, Estado central, poder local». Admitiu que os problemas da habitação «estão longe de estar resolvidos, mas temos de dar os passos necessários e trabalhar em conjunto para criar este equilíbrio».
Numa entrevista conduzida por Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII, e por António Gil Machado, Diretor da Vida Imobiliária, a Secretária de Estado da Habitação abordou, ao longo de quase uma hora, alguns dos temas que têm marcado a atualidade. Do Simplex Urbanístico, ao arrendamento acessível, passando pelo alojamento local, a entrevista terminou com uma reivindicação antiga do setor: a redução do IVA na construção para 6%. Patrícia Gonçalves Costa sublinhou que a medida do IVA «não é isolada de outras medidas, sendo que estas medidas só vão fazer sentido se forem tomadas em bloco e se forem avançadas com a mesma urgência», adiantando que «o que está agora a ser trabalhado até vai um pouco mais à frente do IVA a 6%. Gostamos de partilhar só aquilo em que já temos alguma segurança».
O acesso à habitação é um desafio transversal a toda a Europa e na V edição da COPIP foi possível conhecer as estratégias de Lisboa, do Porto e de Madrid para a promoção de habitação acessível. Em Madrid está em curso o Plan VIVE, assente num modelo de parcerias público-privadas para a construção de habitação acessível. «O Plan VIVE é o primeiro grande plano deste género a ser operacionalizado na Europa e é com muita satisfação que dizemos que já está em curso», contou José Maria Garcia Gómez, Viceconsejero de Vivienda, Transportes e Infraestruturas da Comunidad de Madrid. O responsável enfatizou a importância de confiar no setor privado para melhorar e expandir a oferta habitacional. «Se queremos deixar mais e melhor habitação aos nossos filhos, devemos confiá-lo ao empresário», sublinhou. Um dos principais objetivos do Plan Vive é revitalizar terrenos públicos subutilizados para a construção de habitação acessível. «A Comunidad Madrid tinha mais de 1 milhão de metros quadrados de solo de domínio público que não cumpria os seus objetivos» contou, explicando que «o que fizemos foi movimentar todo este solo através de concursos para a concessão de habitação acessível por privados, garantindo segurança jurídica e rentabilidade para os investidores».
Um modelo que inspira Lisboa. «É precisamente o que está a acontecer em Madrid que gostávamos que pudesse acontecer em Lisboa, um modelo de parceria público privado para a produção de habitação acessível em escala», afirmou Filipa Roseta, Vereadora da Habitação e das Obras Municipais da Câmara Municipal de Lisboa. A Vereadora falou sobre os planos ambiciosos da Câmara de Lisboa para os próximos anos, incluindo a meta de desenvolver 9.000 novos fogos na próxima década, dos quais 4.000 a cargo de privados. No Porto, o trabalho desenvolvido dentro do programa "Porto com Sentido", parece estar na iminência de dar frutos. Pedro Baganha, Vereador do Urbanismo e da Habitação da Câmara Municipal do Porto, expressou otimismo quanto ao futuro deste programa, mencionando o interesse crescente de investidores institucionais. «Precisamos apenas de quebrar uma barreira de condicionalismo para ver este programa alavancar; até porque já temos várias manifestações de interesse de investimento institucional para este programa», afirmou.
Do lado dos promotores imobiliários há uma vontade assumida de construir habitação a preços acessíveis. Questionados sobre o que falta para chegarem ao terreno estas novas casas, respondem que falta confiança. Esta foi a principal conclusão da mesa de debate participada por Carlos David, Development Director da Nhood Portugal; Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate Investments; Tiago Eiró, CEO da EastBanc; e moderada por Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário.
Tiago Eiró, CEO da EastBanc, deu o exemplo do que acontece nos EUA e onde «o build to rent é o segmento que mais cresce. Aqui (Portugal) não acontece porque ainda não houve confiança para isso». Claude Kandiyoti, CEO, Krest Real Estate Investments, acredita que «as coisas podem mudar e melhorar um dia, sim, mas não será hoje. E não sabemos quando». A par de maior certeza e segurança, o mercado reclama por mais apoios. Carlos David, Diretor de Desenvolvimento da Nhood Portugal, sublinhou que são necessários «mecanismos para dinamizar o investimento privado». Em Portugal «vemos muitos projetos com incentivos ou promoção pública, mas na realidade espanhola o foco não é o investimento público, e sim o investimento privado».
«É fundamental falar de colaboração público-privada e é nisso que estamos a trabalhar na ASPRIMA. Historicamente a habitação é investimento privado e temos de ser capazes de o atrair», disse Carolina Roca, Presidente da ASPRIMA.
O lançamento oficial do Guia Exclusivo dos Promotores e Investidores Imobiliários fechou com chave de ouro a V edição da COPIP. Na ocasião, Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII, destacou que «os promotores imobiliários, nestes anos e talvez nesta década, são cada vez mais parte da solução: os promotores são a solução. Num ano em que o problema da emergência habitacional se agrava, contar com os fazedores de cidades, que têm nas suas mãos o poder de construir mais casas para todos os portugueses, faz com que realmente sejam a solução do problema». O dirigente da APPII saudou ainda «todos os investidores imobiliários em todos os segmentos do mercado, pois são estes empresários que impulsionam o país. Uma palavra de agradecimento a todos estes investidores, que são responsáveis, construtores e fazedores, mas que, acima de tudo, alavancam a economia do nosso país. Não podemos viver sem os investidores, que são também parte da solução. Esta edição de 2024 é o guia dos empresários que fazem parte da solução».
17.ª edição do Guia Exclusivo dos Promotores e Investidores Imobiliários
O Guia Exclusivo dos Promotores e Investidores Imobiliários foi apresentado no encerramento da COPIP, durante um cocktail com o apoio da Century 21 e apresentação por Bárbara Guimarães.
Patrocinaram esta edição da COPIP a Barbot, BOSCH, Caixiave, Century 21, Cosentino, EastBanc, EDP, Engexpor, EY, Fidelidade Property, Greenlab, Grohe, Grupo 8, Habitat Invest, Howden, JLL, Kōzōwood Industries, KREST, MAP Engenharia, Millennium bcp, Morais Leitão, Nhood, NOS Smart Home, Revigrés, Reynaers Aluminium, Saint-Gobain, Schmitt + Sohn Elevadores, Schneider Electric, Smeg, Soudal, Uponor, Victoria Seguros, VIZTA e com o apoio institucional da ADENE.
Nelson Lage | Presidente da Adene
Luis Gregório | Partner Technical Specialist do IBM
Sofia Tavares | Diretora de Marketing e Produto B2B, EDP Comercial
Miguel Alegria | CEO da Engexpor
Diogo Abecasis | Co-Founder & Managing Partner da MAP Engenharia
Ângela Monteiro | Diretora de Financiamento Sustentável, Millennium bcp
Ricardo Rio | Presidente Câmara Municipal de Braga
Filipa Roseta | Vereadora da Habitação e Obras Municipais da Câmara Municipal de Lisboa
Pedro Baganha | Vereador do Urbanismo e da Habitação da Câmara Municipal do Porto
Carolina Roca | Presidente da ASPRIMA