Uma nova etapa, os mesmos problemas

A APPC - Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores conhece agora uma nova direção, liderada por mim, após doze anos de dedicada liderança de Victor Carneiro. Conforme a APPC tem vindo a alertar no espaço público, mas sobretudo nas instâncias competentes, a leitura enviesada que tem vindo a ser feita do atual Código dos Contratos Públicos é uma ameaça à sobrevivência da engenharia portuguesa, que tão boa conta de si dá no mundo. Em causa, está o preço mais baixo como principal ou, em vários casos, único, critério de avaliação de propostas para serviços de engenharia ou a desadequada fixação dos preços base dos concursos. A nossa posição tem sido, desde sempre, o combate à ilusão de que a poupança imediata é a melhor opção. A médio e longo prazo, a poupança no momento inicial pode ser apenas irresponsável, sobretudo quando falamos de obras públicas, que se destinam ao uso de largos milhares de pessoas. No momento de se avançar para uma contratação, é preciso pesar o preço, claro, mas também é necessário relevar o conhecimento, a experiência, a capacidade técnica e económica das empresas e suas equipas. A situação atual apenas fomenta a precariedade da contratação e o risco de incumprimento de prazos e objetivos dos empreendimentos. Como sempre defendeu o meu antecessor, devemos adotar princípios e procedimentos de valorização da qualidade, usando, por exemplo, o método do “duplo envelope”, em que primeiro é avaliada a proposta técnica e só depois de conhecidos os resultados dessa avaliação é que se abrem as propostas de preço. Outro dos problemas clássicos do setor da construção e do projeto é a fatalidade do país não crescer e a subsequente necessidade de procurar novas geografias onde os profissionais portugueses possam acrescentar valor, dado que são vistos como estando entre os melhores do mundo. Cabe a várias entidades fazer essa busca de oportunidades que podem ser supridas por profissionais portugueses. Nós, na APPC, tentamos fazer a nossa parte, através da realização de estudos/fichas de mercado de países de interesse e pertinência para os nossos associados. Engenharia e Arquitetura no Mundo A APPC vem desenvolvendo, desde meados de 2017, o projeto “Engenharia e Arquitetura no Mundo”, que tem como objetivo o apoio ao processo de criação de associações congéneres em países de língua portuguesa, nomeadamente Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Pretende-se fomentar o apoio à internacionalização do setor da consultaria de engenharia, arquitetura e ambiente, que visa capacitar as PME para a exportação e, claro, aumentar a notoriedade do setor. Este projeto SIAC – Sistema de Apoio a Ações Coletivas – Internacionalização, no âmbito do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, no quadro do COMPETE 2020, representa um marco deveras importante para o nosso setor. À conquista de novas geografias Igualmente no âmbito do mesmo projeto, a APPC está a liderar o estudo de mercados emergentes de elevado potencial, como é o caso da Argentina, Colômbia, Marrocos, México e Perú. Estas geografias são vistas como oferecendo oportunidades aos profissionais portugueses e das outras latitudes presentes no projeto e para além do estudo, serão feitas ações de promoção do setor junto de decisores dos mercados em causa. Por conjunturas económicas, politicas ou de outra ordem, mercados onde empresas portuguesas tradicionalmente atuavam como Angola ou Moçambique oferecem agora menos oportunidades e como o Engenharia e Arquitetura no Mundo mostra, vemos esses países como preciosos parceiros e não apenas como mercados a explorar.

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