Acabaremos por recuperar, porque o turismo é muito dinâmico

Opinião Um quarto de hotel é pior do que o jornal do dia anterior, ou seja, se não se vende é prejuízo. E o que perdemos em março, abril e maio, já não recuperamos. Mas tenho esperança que, havendo voos, em agosto poderemos estar a trabalhar bem, até porque já tivemos manifestações de interesse de vários operadores internacionais. Por outro lado, acredito que os portugueses vão fazer férias cá dentro, até como forma de terapia e de arejar, depois deste tempo todo fechados em casa. E porque confiam na hotelaria nacional e sabem que é muito segura e de qualidade. Nos últimos anos, este setor evoluiu muito em Portugal e temos equipas muito bem preparadas e profissionais. É precisamente isso que explica grande parte do sucesso turístico do nosso país. Nesta conjuntura, não podemos pensar que a recuperação vai ser rápida e que vamos voltar aos resultados dos últimos anos de um dia para o outro. Mas acabaremos por recuperar, porque o turismo é muito dinâmico. Soubemos fazer o trabalho de casa e, com as crises anteriores, aprendemos a ultrapassar as adversidades. Aliás, não é por acaso que o turismo é apelidado de motor do desenvolvimento, que nos permitiu equilibrar as contas. De qualquer forma, há aprendizagens que as empresas e a indústria do turismo podem retirar desta paragem forçada, que também deve ser aproveitada para refletir e tomar medidas que acelerem a retoma. Desde logo, devemos apostar fortemente no reforço da sustentabilidade, na mobilidade elétrica e nas energias alternativas. Acredito que essa seria uma ótima forma de posicionar e diferenciar Portugal enquanto destino turístico. Nesta lógica, seria também importante dinamizar o transporte ferroviário elétrico e intensificar políticas “plastic free” e “paper free”. Nos hotéis Vila Galé, há muito tempo que estamos a reduzir o uso de plástico não reutilizável e do papel, aderindo a processos mais amigos do ambiente. Também tenho defendido muito – e praticado - a aposta no interior do país, pelo potencial que tem e para permitir uma melhor distribuição dos turistas pelo território. Só assim conseguimos aliviar o litoral, ao mesmo tempo que se melhora a vida das populações. Por exemplo, e nessa lógica, acabámos de abrir um hotel em Alter do Chão e outro em Manteigas. Em termos urbanos, é essencial revitalizar os centros das cidades com habitação para jovens e idosos a preços controlados. A par disso, proteger e estimular a autenticidade dos centros históricos e assegurar a qualidade arquitetónica, por exemplo através de programas como o Revive, que dão nova vida ao património histórico, mas também da valorização cultural da oferta turística. Por fim, já que ‘ganhámos’ tempo, esta é também uma oportunidade única para repensar o novo aeroporto. É imperativo que, em vez de ser um remendo, seja uma alternativa consistente à Portela, com menos impacto ambiental, de baixo custo e que possa construir-se faseadamente, consoante as necessidades.

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