Certificações ambientais são peça-chave para integrar ciclo de investimento

Restam cada vez menos dúvidas de que o futuro do imobiliário será mais verde, e quem não cumprir com as exigências ambientais poderá ficar fora do mercado, e com os seus ativos desvalorizados. Por isso, são cada vez mais os investidores e promotores imobiliários que apostam nas certificações ambientais para garantir estes standards. Este foi o tema em debate num dos painéis da conferência “O caminho para o imobiliário sustentável”, organizada pela APPII e pela Green Lab a 6 de dezembro, em Lisboa. Os presentes concordam que, chegada a taxonomia Europeia, as certificações, como BREEAM ou LEED, podem ajudar a definir a estratégia de sustentabilidade para vários projetos, e que este será um fator de diferenciação. Há que “apanhar o comboio” agora. Paulo Reis Silva, da Saraiva + Associados, afirma mesmo que «quem não fizer certificação vai ficar fora do mercado nos próximos tempos».Para João Cristina, da Merlin Properties, é necessário «educar os agentes económicos para práticas ambientalmente sustentáveis». Dá o exemplo da empresa, cujos edifícios já são praticamente todos certificados LEED ou BREEAM. E explica que «a taxonomia é muito relevante para entidades cotadas como nós, porque ao nível do mercado de capitais, vão existir vários incentivos neste âmbito». Por outro lado, destaca que «o sistema de incentivos atual funciona ao nível do mercado de capitais. Se custar mais ao investidor não ser sustentável, vai certamente adotar essas medidas mais verdes». Ao nível do mercado ocupacional, «Portugal dá os primeiros passos, mas já se nota que os edifícios que são mais sustentáveis e mais eficientes ao nível da operação, têm maior redução ao nível das despesas comuns, e permitem cobrar um adicional da renda, porque os próprios ocupantes têm benefício». José Cardoso Botelho, da Vanguard Properties, dá também o exemplo da promotora, que aposta na certificação BREEAM, um sistema que «os clientes valorizam bastante», até porque «todos gostam de fazer bons negócios, com edifícios que valorizem no futuro». “Grande desafio é convencer o utilizador a pagar mais”Os investidores já estão dispostos a pagar um premium por um edifício que cumpre todas as exigências ambientais. Mas o consumidor final ainda não, ou não tem essa possibilidade. Certo é que «a sustentabilidade tem de deixar de ser só uma moda» e há que «convencer o utilizador a pagar mais por uma casa mais sustentável, o que este ano ficou ainda mais difícil, quando as pessoas estão mais preocupadas em conseguir pagar o aquecimento», afirma Carlos Cercadillo Cuerda, da Clever Real. «É um esforço cultural, que tem de começar pelo Estado e pelas entidades financeiras, têm de financiar mais os projetos sustentáveis», completa.Paulo Reis Silva defende a necessidade de «transferir responsabilidade para quem compra», apesar de nem todo o mercado ter capacidade para isso atualmente. «Há que simplificar as regras e torna-las compatíveis, esta indústria já está a chegar tarde a este tema. A transferência de responsabilidade para quem faz a compra vai ajudar imenso». E Pedro Vicente, da Overseas, concorda que «vivemos hoje entre a emergência climática conhecida e a dificuldade de perceção e dificuldade de adoção destas medidas». Aponta que «há um enorme caminho a fazer, e a generalidade dos clientes tem uma enorme falta de perceção da urgência destes passos que têm de ser dados. Ainda na eficiência energética há muita falta de conhecimento do que isso significa no dia-a-dia. Mas temos sinais positivos, incluindo esta conferência». Mas acredita que «tudo isto muda quando for obrigatório. E quem não seguir este caminho, terá os seus produtos desvalorizados num futuro próximo».

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