A fileira da construção e da energia está bem ciente da necessidade de concretizar as metas de descarbonização, eficiência energética e também eficiência hídrica. Foi nesse sentido que a ADENE, em colaboração com parceiros como a FLC - Fundacíon Laboral de La Construccíon; a FORMEDIL - Ente Nazionale per la Formazione and L'addestramento professionale Nell'edilizia e a CRES - Center for Renewable Energy Sources and Saving, lançaram o projeto WATTer Skills, cofinanciado pelo programa europeu ERASMUS+.
Este projeto tem como principais objetivos desenvolver, implementar e propor um currículo, quadro de qualificação e esquema de acreditação comuns a toda a Europa para a formação e desenvolvimento de competências de eficiência hídrica e nexus água-energia dos profissionais dos setores da construção e reabilitação de edifícios.
A conferência final do projeto ("Eficiência Hídrica nos Edifícios - Novas Oportunidades") decorreu esta terça-feira, num formato online, organizado pela ADENE e pela VI. Na ocasião, Nelson Lage, Presidente da ADENE, lembrou que «é importante formar os especialistas em eficiência hídrica», principalmente numa altura em que «até 2030, muitas das competências dos técnicos atuais terão mudado».
Acredita que «é possível ganhar riqueza e bem-estar a partir da redução de emissões e da eficiência hídrica. O WATTer Skills vai permitir gerar novos recursos, vai abrir os horizontes laborais e aumentar a empregabilidade destes profissionais no mercado europeu». Porque «está em causa a sobrevivência do homem, e temos de vencer esta batalha com dedicação e compromisso», avisa.
Filipa Newton, Coordenadora de Novos Sistemas da ADENE, afirma que «o WATTer Skills é um projeto muito importante para a ADENE e para o país. O Plano de Recuperação para a Europa vem aí. É uma ótima oportunidade para olharmos para estes profissionais e melhorarmos a nossa capacidade de adaptação».
Por um lado, a gestão da água deve ser feita para poupar o recurso, especialmente em situação de seca progressiva, mas também porque a água tem influência no uso de energia dos edifícios e nas metas de descarbonização. «Há um racional ambiental, mas também económico. Podemos reduzir em 800 milhões de euros por ano os custos das famílias, é um volume muito significativo», aponta a responsável.
«Estamos prontos para a aplicação do WATTer Skills no mercado nacional. Este é apenas o início da sua discussão, que se vai prolongar, nomeadamente ao longo do próximo ano. Vamos agora trabalhar na transposição para o mercado nacional», completa.
Entre as novas profissões que o WATTer Skills se propõe criar estão o Técnico de Eficiência Hídrica ou o Especialista de Eficiência Hídrica, que serão «porta-voz de uma cultura de eficiência na construção», diz Ana Poças, Gestora de Projeto WATTer Skills da ADENE. «É fundamental o envolvimento dos conselhos consultivos e dos stakeholders», completa.
Miguel Nunes, da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, concorda que «é extremamente importante capacitar os profissionais e melhorar a qualidade da água», destacando ainda a importância de dar mais valor a este recurso e às poupanças económicas que podem ser feitas.
Armando Silva Afonso, da Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais, destacou que «as questões relacionadas com água são 85% dos problemas que temos nas nossas casas. Precisamos de aumentar a qualidade, e a eficiência hídrica é um dos grandes aspetos da qualidade da habitação».
João Ribeiro de Sousa, da OET, saluda este projeto, e salienta a importância de rever o diploma relativo à engenharia hidráulica, que «há 40 anos que não é revisto». E deixa a mensagem: «espero que a eficiência hídrica não demore 30 anos a ser incorporada, e que com esta revisão das qualificações seja um tema nos próximos 10 a 20 anos e um objetivo mais a curto prazo olharmos para os nossos edifícios com outro contexto e consciencialização».
A propósito da eficiência hídrica e do sistema de classificação hídrica AQUA+ lançado pela ADENE, destacado ao longo da conferência e com forte ligação às novas profissões previstas no WATTer Skills, Nuno Lacasta, da Agência Portuguesa do Ambiente, mostrou-se convencido de que «as pessoas vão-se habituar à certificação hídrica como à certificação energética. Para que isso aconteça em toda a sua plenitude, precisamos de métricas comuns a vários países. E a oportunidade económica está muito presente». Garante que «continuaremos a trabalhar com a ADENE nestas iniciativas, e é muito importante ter o setor do imobiliário e construção neste projeto. Os programas de recuperação vão ter esta temática no seu centro, porque Portugal iniciou finalmente a reabilitação urbana, não podemos perder esta oportunidade de renovar os edifícios das nossas cidades».
Nesta conferência, participaram ainda Helena Alegre, do LNEC; Armando Jorge Carvalho, do IEFP; Vanda Cruz, da UGT; Carlos Miranda, da CICCOPN; Ana Cristina Correia, do Ministério da Defesa; Ana Luísa Cabrita, da APEA; Sandra Lameira, da ANQEP, e Tânia Santo António, da Agência Nacional ERASMUS+.
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