A Savills apresentou aos jornalistas, no arranque desta semana, o estudo Portugal Real Estate Market Overview, num encontro onde traçou um balanço de 2022 e as perspetivas para o ano de 2023.
Consoante os resultados do estudo, em 2022, o volume de investimento em imobiliário fixou-se nos 3.300 milhões de euros. De salientar que os estrangeiros representaram 85% do capital investido no ano transato e, também, o facto de os norte-americanos ganharem cada vez mais força, em termos de investimento estrangeiro realizado em Portugal.
Os resultados atingidos no setor imobiliário em 2022 apontam para um «ano bastante positivo, onde tivemos um outlier: a venda dos fundos ECS ao fundo Davidson Kempner Partners, por um valor na ordem dos 850 milhões de euros», contou Alexandra Gomes, Associate Director da Savills.
A responsável atentou para aspetos preponderantes que decorreram em 2022: o segmento hoteleiro «ganha liderança»; os escritórios são o «ativo de grande referência dos investidores»; a logística é «o grande destaque do ano, um segmento que renasceu e tem vindo a ganhar importância por parte dos investidores».
No que respeita ao mercado de escritórios, a consultora enfatiza o facto de este segmento ter tido «o melhor ano de sempre», com uma ocupação de 272.000 metros quadrados somente na Grande Lisboa. No Porto, o mercado é dependente do setor das TMT´s, sendo que há muitas companhias novas a entrar no Porto e empresas que querem expandir a sua atividade na cidade.
A consultora indica que as tendências ESG e de novos conceitos de espaços de escritórios, que oferecem um conjunto de amenities aos trabalhadores, mantêm-se em 2023. Frederico Leitão de Sousa, Head of Corporate Solutions da Savills, aponta para uma consolidação do mercado de escritórios em 2023, sendo que «não há previsões de abrandamento da procura, mas não haverá tanta oferta em Lisboa e Porto». O responsável acrescenta ainda que Braga começou a «ganhar protagonismo» neste mercado.
No setor residencial, o aumento dos custos de construção de habitação (11,7%), em termos homólogos, não consiste num entrave ao número total de projetos, porém, a consultora refere que «já se faz sentir» o aumento das taxas de juro. A Savills indica que, entre 2023 e 2025, as zonas de Alcântara, Lumiar e Avenidas Novas têm projetos em pipeline direcionados para a classe alta.
Prevê-se «otimismo» e «expetativa de um crescimento moderado» para o mercado high-end, onde a Savills atua, diz Miguel Lacerda, Lisbon Residential Director da Savills. O responsável indica que «os promotores olham cada vez mais para o produto high-end, todavia não vai deixar de haver uma aposta noutros mercados». Oeiras destaca-se como uma das zonas com «mais novos projetos planeados», conta Miguel Lacerda.
Em termos do setor do retalho, há a previsão de «abrandamento do consumo privado e da redução do poder de compra», aponta a consultora, que acrescenta que Portugal está ainda «muito aquém do comercio online, abaixo da média europeia». José Galvão, responsável de Retalho da consultora, enfatiza que «os negócios direcionados para o segmento de luxo e para o turismo deverão ser os menos impactados».
Não obstante, o mercado de centros comerciais continua a ser «dos mais maduros em termos europeus» e tem crescido «por via de modernizações e requalificações, em detrimento de novas aberturas», refere a Savills, que destaca os Retail Parks como «um dos formatos mais resilientes, que aproveitaram a crise pandémica para gerar oportunidades».
O segmento hoteleiro português «vai continuar a expandir-se este ano», reforça a Savills. Os proveitos relativos a aposentos aumentaram 120,4%, em resultado de 24.900 milhões de hóspedes (+86,6%) e 65.800 milhões de dormidas (+89,4%). Portugal recebeu mais 77 unidades hoteleiras e, em 2023, vai continuar a seguir esta tendência de crescimento. A consultora atenta ainda para o facto de os «nómadas digitais precisarem de alojamento, o setor do turismo tem de se adaptar a este novo público».
Em 2022, no que toca ao segmento de Industrial e Logística, a absorção situou-se nos 538.000 metros quadrados. Em Lisboa, no ano em análise, a ocupação de 269.000 metros quadrados registou uma quebra de -35% face a 2021, a passo que no Porto, 120.000 m², a diferença homóloga foi de -22%. A Savills antecipa que, em 2023, «vamos continuar a ter níveis de procura estáveis neste setor», sublinhando que «a tendência de nearshoring está a crescer, bem como a procura por plataformas middle-mile».
Os especialistas presentes na apresentação reforçam que, embora o abrandamento previsto, não há razões para alarme. Portugal é um país distante de conflitos, seguro e com ótimo clima e localização geográfica. Para os especialistas, estes são fatores que colocam Portugal na órbita dos investidores internacionais, ou seja, os mesmos vão «continuar a apostar no país», salienta a consultora.