Na última quinta-feira, Lisboa foi palco do Meridiana Meetup – MAPIC, um evento organizado pela Meridiana, representante da MAPIC na Península Ibérica. Realizado no centro IDB, com o patrocínio da IDB Lisbon, Jamestown e Placer, o encontro reuniu líderes e profissionais do setor para discutir o futuro dos espaços comerciais.
Após as boas-vindas por Jan Verwijs, Vice-presidente, Asset Management da Jamestown Europe, o debate iniciou-se com uma mesa-redonda moderada por António Gil Machado, Diretor do Grupo Iberinmo, que convidou os presentes à reflexão: «Qual é a grande mudança nos ativos nos últimos três, quatro, cinco anos? As classificações estão cada vez mais complexas. Agora, os centros comerciais acolhem spas, clubes de saúde, clínicas médicas, espaços de co-working e escritórios de compras».
"É um momento muito desafiador, porque temos de ser criativos, pensar nas melhores e mais diversificadas soluções, sempre com o objetivo de proteger o planeta, as pessoas e os lucros"
Sofia Ferreira de Almeida, Head of Property & Asset Services (PAS) da Nhood, referiu que «agora podemos ir aos centros comerciais e realizar várias atividades. Ir ao médico, divertir-nos com amigos, levar os nossos filhos, viver novas experiências e, claro, fazer compras. Esta oferta diversificada e complementar ajuda a satisfazer as necessidades dos consumidores e a melhorar o ambiente. A ideia é aumentar o tempo que os clientes passam nos centros comerciais e transformá-los em destinos locais, não apenas lugares onde se compra e sai. Com este aumento de permanência, as vendas devem aumentar, o que beneficia os investidores e os gestores».
Ricardo Rosa, Director of Innovation da Sonae Sierra, explicou que a experiência do cliente vai além das simples compras. «Um cliente, quando entra num centro comercial, mesmo que continuemos a chamar-lhe centro comercial, não espera apenas fazer compras. Há um ponto de experiência que pode incluir diversão, mas também a ida ao médico, entre outras coisas. E digo 'outras coisas' muitas vezes porque está a multiplicar-se».
"Temos de perceber o que o cliente quer, mas ao mesmo tempo, compreender como essa valorização do ativo pode ser maximizada ao longo do tempo"
Ricardo Rosa enfatizou a necessidade de equilíbrio entre atender às procuras imediatas dos clientes e garantir a sustentabilidade a longo prazo dos centros comerciais. «É um ato de equilíbrio. Temos de perceber o que o cliente quer, mas ao mesmo tempo, compreender como essa valorização do ativo pode ser maximizada ao longo do tempo. Não podemos olhar apenas para os próximos 2 meses. Temos de considerar que estes ativos estão aqui há muito tempo, e continuarão a estar por muito tempo. Portanto, temos de maximizar a rentabilidade dos ativos».
Por outro lado, Jan Verwijs, Vice-presidente, Asset Management da Jamestown Europe, trouxe uma perspetiva interessante sobre a evolução dos espaços de trabalho. «Abordamos a questão de uma perspetiva ligeiramente diferente, uma vez que estamos a começar como um edifício de escritórios. Mas acho que, de certo modo, muito pouco está a mudar. Os ocupantes dos escritórios continuam a ver o seu espaço de trabalho como algo central para a sua marca, como sempre foi. No passado, muitas empresas consideravam que edifícios envidraçados e grandes lobbies de escritórios impressionavam as pessoas e as faziam querer trabalhar ali. Estamos a ver essa dinâmica a mudar. As pessoas agora preferem espaços com história, vida e cor, como o IDB Lisbon. Penso que todos temos um objetivo comum: fazer com que alguém saia do nosso espaço sentindo-se melhor do que quando entrou».
Já Eduardo Pinto Basto, Managing Partner da Placer, destacou a transformação dos centros comerciais e a necessidade de adaptação ao novo cenário de consumo. «Os centros comerciais foram construídos para responder a uma necessidade. E agora essa necessidade é atendida de uma forma muito mais eficiente em casa. Hoje em dia, compras tudo o que precisas de onde podes consumir. Hoje, os retalhistas precisam de estar mais próximos da experiência de consumo do que estão a vender. Responder à necessidade de compra não é o que levará as pessoas aos centros comerciais no futuro. Precisamos de estar onde as pessoas querem passar o tempo».
Os desenvolvedores de espaços públicos
O representante da Placer perspetiva que os centros comerciais do futuro «provavelmente serão locais onde as pessoas querem estar; não querem ir a um ambiente artificial apenas para comprar um produto específico. Acredito que tanto os retalhistas como os desenvolvedores vão tornar-se desenvolvedores de espaços públicos. Queremos criar espaços onde as pessoas queiram conviver, jantar, praticar desporto, entreter-se com artes ou espetáculos, e depois vender-lhes o que nem sabiam que precisavam. Provavelmente, é o retalho que vai financiar os espaços públicos. É muito interessante o modelo de centros comerciais emergir com parcerias público-privadas, concessões de parques, museus e arenas para espetáculos. E isso diz muito sobre onde está o consumidor e onde temos de o encontrar».
Juntar o online à loja física
Ricardo Rosa abordou uma questão fundamental levantada no debate: como ajustar o modelo de negócios frente à possibilidade das pessoas comprarem online, inclusive dentro da loja física? Segundo o responsável, «essa é, no final das contas, a questão mais difícil que a indústria tem enfrentado nas últimas décadas. O ponto para nós é que os espaços continuam a ser absolutamente centrais para o negócio». Os consumidores frequentam os espaços físicos «não apenas para realizar compras, como também para experienciar produtos, testá-los e até mesmo para devoluções mais convenientes», acrescentou.
O representante da Sonae Sierra sublinhou ainda evolução na relação entre o mundo físico e online: «Há uma ligação entre o mundo físico e o online que agora é muito evidente, coisa que não era há 10 anos», afirmou, acrescentando que os espaços físicos «têm um valor fundamental nos modelos de negócios dos retalhistas, mesmo quando as transações ocorrem predominantemente online». Além disso, Ricardo Rosa apontou a importância de evoluir continuamente para integrar esses dois mundos: «precisamos de ver como podemos lucrar com isso. Esta é uma conversa contínua sobre como podemos partilhar esse tipo de negócios para garantir que todos continuam a ganhar».
Retail Experience
Sofia Ferreira de Almeida falou ainda sobre o retail experience, levar o consumidor a um patamar além da compra. «O 'Retail Experience' visa proporcionar aos clientes experiências únicas e memoráveis. Se estas experiências 'não são boas para o Instagram', então não valem a pena. Para que isso aconteça, há três eixos principais: o primeiro é envolver os consumidores nas experiências (experiências únicas e imersivas). Em segundo lugar, envolver os consumidores e a tecnologia. Por último, ter uma presença omnicanal. Tem de haver uma presença física, uma presença online e também uma presença nas redes sociais. Acho que a ideia é manter-se ágil, adaptar-se rapidamente às necessidades dos consumidores e usar o digital»
Sierra anuncia inovação digital no Colombo e no NorteShopping
«Fiquem atentos ao que acontece no Colombo porque tenho a certeza de que viram as gruas em torno do centro comercial, o que significa que estamos a expandir. Vão surgir notícias muito interessantes lá. Estamos a reformular toda a relação digital entre nós e o cliente final no Colombo e no NorteShopping», indicou Ricardo Rosa.
«Começamos a fazer isso agora mesmo. Relançamos as aplicações e estamos a redesenhar toda essa relação para algo muito mais profundo, porque, na verdade, trata-se de como integramos o digital no espaço físico, mas vai muito além disso. Acreditamos que esta relação pode e deve ser muito mais ampla do que apenas quando lá estão fisicamente. Vão começar a ver isto com muita intensidade a partir de setembro», acrescentou o responsável.
Após a mesa-redonda de debate, Rui Coelho, Business Development Director in Portugal da Meridiana, representantes oficiais da MAPIC na Península Ibérica, proferiu uma intervenção conclusiva enfatizando a relevância das feiras internacionais para o desenvolvimento de oportunidades de negócio e para a aprendizagem sobre as tendências emergentes no setor. Destacou particularmente a estratégia fundamental da MAPIC nesse contexto.