A zona do Chiado, em Lisboa, é a localização de comércio mais cara de Portugal, e mantém-se no Top 30 das zonas comerciais mais valorizadas em todo o mundo. Ocupa agora a 30ª posição, tendo descido um posto face ao ano passado. É o que mostra a 34ª edição do relatório “Main Streets Across the World", da Cushman & Wakefield.
A renda prime desta zona de Lisboa atingiu o seu máximo histórico, com valores a rondar os 1.620 euros por metro quadrado por ano, ocupando assim o 9º lugar no Top 10 dos destinos onde as rendas mais aumentaram a nível mundial, com uma subida homóloga de 8% face ao ano passado.
A C&W recorda que, nos últimos dois anos, o Chiado tem registado um grande volume de novas aberturas de lojas, num total de mais de 5.800 metros quadrados de área útil inaugurada e cerca de 50 novas aberturas. Mais de metade desta área diz respeito ao setor da restauração, seguido pela moda, representando 20%.
João Esteves, Partner, diretor de Retail Agency da Cushman & Wakefield Portugal, explica que «a posição que o Chiado ocupa, quer no ranking global quer no Top 10 de subida de rendas a nível mundial, é um reflexo da enorme procura das marcas por localizações de topo. No Chiado e em outras localizações prime em Portugal, sobretudo em Lisboa e Porto, a elevada taxa de ocupação e a diminuta rotatividade acabam por justificar este aumento de preços, sendo algo que o mercado aceita com alguma naturalidade, de acordo com o que temos vindo a verificar».
Milão lidera a lista
De acordo com o relatório, a Via Montenapoleone, em Milão, onde as rendas subiram quase um terço nos últimos dois anos, já ultrapassou a Quinta Avenida, em Nova Iorque, e é hoje a localização de comércio mais cara do mundo. Esta é a primeira vez que uma localização europeia ocupa o primeiro lugar da lista. Destino de excelência da moda e do luxo, a Via Montenapoleone tem vindo a subir no ranking nos últimos anos, tendo alcançado o segundo lugar em 2023.
Nesta localização, as rendas aumentaram 11% para 20.000 euros por metro quadrado por ano nos últimos 12 meses, ao passo que as rendas na Quinta Avenida permaneceram estáveis pelo segundo ano consecutivo, nos 19.537 euros por metro quadrado por ano. Segundo a C&W, além da forte procura por parte dos retalhistas num contexto de oferta limitada, a Via Montenapoleone também beneficiou da valorização do euro face ao dólar americano.
Por outro lado, a New Bond Street de Londres ultrapassou a Tsim Sha Tsui de Hong Kong e ficou em terceiro lugar, apesar do crescimento positivo das rendas desta última. Os Champs Elysées, em Paris, ocupam a 5ª posição, seguidos por Ginza, em Tóquio; Bahnhofstrasse, em Zurique; Pitt Street Mall, em Sydney; Myeongdong, em Seul, e Kohlmarkt, em Viena, que encerra o top 10.
Robert Travers, diretor de Retalho EMEA da Cushman & Wakefield, afirma, por seu turno, que «estas localizações icónicas a nível global caracterizam-se por uma intensa competição na procura por espaço e uma oferta extremamente limitada, mesmo nas atuais condições desafiantes do mercado de retalho. As marcas, desde o luxo até ao “mass market”, estão a duplicar as suas lojas físicas nas localizações de topo, uma vez que a disputa pela atenção do consumidor leva à necessidade de proporcionar uma excelente experiência de compra e de exposição de produto». Está seguro de que «embora o comércio eletrónico desempenhe um papel importante na estratégia omnicanal, é com a personificação física da marca que os clientes se relacionam. Em resultado, as taxas de desocupação permanecem excecionalmente baixas, refletindo as rendas que os retalhistas estão dispostos a pagar para garantir e manter o seu espaço».
Rendas sobem cerca de 4,4% a nível global
A grande competitividade e espaço limitado neste setor legou a que se tenha registado um aumento das rendas em 57% (79) das 138 localizações analisadas, uma descida em apenas 14% (19) dessas localizações e uma estabilização nas restantes 29% (40). Isto resultou num aumento médio global das rendas de 4,4%. A América foi a região com melhor desempenho, com 8,5%, impulsionada por um crescimento das rendas de quase 11% nos EUA - mais do dobro face aos 5,2% registados no ano passado - seguida da Europa e da Ásia-Pacífico, com 3,5% e 3,1%, respetivamente. As rendas nas 138 localizações estão agora, em média, quase 6% acima dos níveis anteriores à pandemia, segundo a C&W.
Os principais destinos de retalho analisados parecem ter conseguido, na sua maioria, resistir à instabilidade da subida das taxas de juro para conter a inflação em 2022 e 2023, o que levou a um rápido aumento do custo de vida, um sentimento menos confiante dos consumidores e um crescimento económico lento. O retalho beneficia agora dos cortes graduais nas taxas de juro, da recuperação económica, do abrandamento das pressões sobre o custo de vida e dos aumentos reais dos salários.