A crescente preocupação dos consumidores com a sua qualidade de vida e saúde, acentuada pela pandemia, «não vai voltar atrás», e o imobiliário tem de se adaptar. Esta foi uma das principais conclusões do painel “Sustentabilidade e como a pandemia vem mudar o paradigma no mercado imobiliário”, parte da Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal, que se realizou a 30 de junho, em Lisboa. Bernardo Rodrigues Augusto, Manager Climate Change & Sustainability Services, da EY, destaca que estas preocupações, que incluem a qualidade do ar interior, a eficiência energética ou o conforto térmico, passaram de um ponto de não-retorno: «os fatores de qualidade de vida saíram mais valorizados desta pandemia, e dificilmente recuarão», acredita. Nota os clientes «mais interessados em internalizar aspetos sociais e ambientais, nomeadamente ao nível da promoção imobiliária. Alguns players sentem por parte dos seus investidores uma atenção redobrada a estas questões, o que os obriga a ações de melhoria». Por seu turno, Séverine Bodard, CEO da Nhood Portugal, considera que «a pandemia catapultou as cidades para o futuro. Há muitas oportunidades, e temos de tornar o imobiliário mais humano, para todos termos sucesso a nível global». É nesse sentido que trabalha a Nhood, especializada na gestão de projetos imobiliários num contexto de criação de “bairro”. Bodard destaca «três grandes tendências para o imobiliário pós-Covid, nomeadamente a proximidade, o “co-world” e a flexibilidade». E mostra-se otimista com a recuperação da crise, «porque é diferente das anteriores. Mas teremos de nos reinventar». Maria Empis, Head of Corporate Solutions da JLL, concorda que «as transformações que a pandemia trouxe são transversais a todos os setores do imobiliário e da sociedade. Todas estas mudanças já aconteciam mesmo antes da pandemia, o que vemos agora é intensificação e aceleração das mesmas. Mas antes eramos colocados em “caixas”, com um espaço para cada atividade. E a pandemia veio mostrar que tudo é híbrido, modelos não só de trabalho, como de viver e de lazer». E exemplifica: «não vamos aos escritórios só à procura de um posto de trabalho, mas sim para socializar e para termos momentos de lazer com os nossos colegas. A pandemia veio mostrar que a flexibilidade e a mobilidade têm muito impacto». «Já se estão a fazer grandes transformações, e os escritórios vão à frente, com a preocupação de reter e atrair os seus talentos», garante a responsável. Testemunha que a JLL «tem sido muito procurada pelas empresas para saber como se adaptam a esta nova forma. Daqui a 5 anos, será obsoleto pensar que íamos para o escritório das 9h às 17h. Vamos ter um misto».Pedro Vicente, administrador da Habitat Invest, partilhou com este painel o caminho que já vinha sendo feito pela empresa nos últimos anos, nomeadamente de maior investigação e desenvolvimento de produto, nomeadamente no caso do empreendimento Duque 70, em Lisboa, recentemente certificado com o selo co/vida20 by NOVA Medical School. Este empreendimento terá em breve «o primeiro carregador inteligente da Galp», ou novos Lockers 24h de distribuição de encomendas dos CTT. Pedro Vicente garante que «a arquitetura tem de acompanhar estas tendências». Mas o caminho não se faz sem desafios, nomeadamente por parte de quem não parou durante os confinamentos impostos pela pandemia, como a fileira da construção. No caso da Casais, Paulo Carapuça, administrador da construtora, admite que o processo foi «difícil», salientando «a resiliência dos nossos clientes durante a suspensão da cadeia de vendas. Foi um novo mundo». Saúde começa no imobiliárioRicardo Leitão, diretor executivo do Living Lab Si:Saúde e Imobiliário @ NOVA Medical School, Powered by VICTORIA Seguros, salientou a importância «da qualificação do ecossistema» dos edifícios e do imobiliário. «A definição de parâmetros é fundamental, mas é só parte da equação. O que procuramos é um ecossistema dinâmico entre o espaço e os seus ocupantes», com foco na saúde, qualidade de vida e vivência dos ocupantes. Refere que «o desenvolvimento sustentável define a importância deste domínio. A saúde começa nas casas, nos locais de trabalho, na comunidade». Já Carlos Suárez, diretor adjunto da VICTORIA Seguros, concorda que «a saúde não começa no consultório médico. A responsabilidade de uma empresa na saúde e na saúde pública é enorme, e temos de trazer as recomendações para as organizações, enquanto agentes de saúde pública». Sobre os custos mais elevados de algumas medidas de sustentabilidade, pelo menos na fase inicial de um projeto, Suárez responde questionando, por exemplo, «quanto custa a saúde ao longo dos anos?».