Na última terça-feira, realizou-se a mesa-redonda intitulada "O futuro a bater-nos à porta!", no âmbito da Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal (COPIP), abordando questões sobre o futuro da construção, tais como a industrialização, a tecnologia e a Inteligência Artificial (IA).
José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, destacou a complexidade do tema da industrialização na construção, dividindo-o em três fases: «a primeira é a visão, perceber o que se quer fazer; a segunda é trazer essa visão para o concreto; a última fase, onde estamos agora, é fazer com que tudo isto trabalhe de forma coordenada».
O responsável pela promotora portuguesa realçou ainda as reservas existentes em relação à construção em engineered wood, apontando o «desconhecimento como principal barreira», pois é uma tecnologia que «embora seja mais comum no Norte da Europa, no Sul é muito pouco utilizada», comentou. «A nossa fábrica teria de estar a trabalhar três ou quatro anos para suprir a necessidade de mercado por este tipo de produto que existe hoje. Infelizmente, um investimento deste tipo, em industrialização, é algo que demora algum tempo até estar operacional: encomendámos a maquinaria há seis meses e só a receberemos para o ano, mas a necessidade do mercado não para de crescer», salientou.
“Industrialização é a aproximação do mundo digital ao mundo físico"
Ao falar sobre a escassez de mão de obra, «um problema crescente e cada vez mais urgente», Botelho considera que a industrialização «é a aproximação do mundo digital ao mundo físico; o que estamos a fazer será uma alteração radical no mundo da construção e do imobiliário».
Por outro lado, Luís Corrêa de Barros, CEO da Habitat Invest, trouxe à discussão a importância da taxonomia europeia e do financiamento verde, sendo que «Luís Corrêa de Barros, CEO da Habitat Invest, trouxe à discussão a importância da taxonomia europeia e do financiamento verde, afirmando que «isto passa por uma série de vertentes, a começar pelas certificações energéticas, pela economia circular e por toda uma série de outras medidas. Temos uma obrigação europeia, e também moral, que é a necessidade de ter edifícios Net Zero». Além disso, os investidores «querem cada vez mais edifícios sustentáveis e o que não cumprir critérios de sustentabilidade não lhes interessará. Além disso, temos o financiamento bancário que já está ligado a tudo isto».
“A redução dos impostos é fundamental para colocar mais habitação acessível no mercado"
O líder da Habitat Invest sublinhou que «este é um caminho sem retorno e, embora vá ter muitos recuos e obstáculos, é um caminho incontornável. Se não o traçarmos, vamos ter de sair do mercado». Destacou ainda a necessidade de colaboração e apoio público para avançar na sustentabilidade, «pois ninguém está no mercado para perder dinheiro e, para ir mais além na sustentabilidade, é essencial mais apoio público». Luís Corrêa de Barros frisou ainda que «a redução dos impostos é fundamental para colocar mais habitação acessível no mercado».
“A Inteligência emocional irá sempre prevalecer sobre a IA"
Ricardo Sousa, CEO da Century 21, focou-se no papel da IA no setor imobiliário, destacando a importância da inteligência emocional. «A inteligência emocional irá sempre prevalecer sobre a Inteligência Artificial. E essa tem de ser aliada a todas as tecnologias que hoje existem». A tecnologia «está a avançar muito mais depressa que os reguladores e as autoridades: este é o grande desafio de hoje». Ricardo Sousa refere que «vai entrar em jogo rapidamente o RegTech, a tecnologia regulatória, e a regulação que irá existir para controlar o perigo destas tecnologias». Outro desafio para as organizações é «como utilizamos hoje a tecnologia disponível, sendo que temos de estudar muito bem qual a tecnologia em que vamos investir. A tecnologia deve servir para melhorar a qualidade e a produtividade das empresas».
Imobiliário “tem um atraso em IA" face às outras indústrias
Sérgio Ferreira, Partner da EY, abordou a imprevisibilidade e o potencial da Inteligência Artificial. «O que era verdade em novembro de 2022, hoje é muito diferente; todas as semanas as coisas mudam a um ritmo muito rápido». Atualmente, «há muitas empresas que estão a aproveitar a oportunidade dos dados e dos algoritmos para prever aquilo que vai acontecer e, assim, gerar mais negócio», comentou Sérgio Ferreira, acrescentando que «isto tem potencialidade para chegar ao setor imobiliário, pois os dados existem, todavia o que acontece é que o setor tem um atraso em relação às outras indústrias, mas tem agora uma oportunidade para recuperar. Com a Inteligência Artificial generativa será possível resolver esse atraso de forma mais ou menos rápida».
Sérgio Ferreira afirmou que «não vai demorar 24 meses até termos robôs pedreiros ou carpinteiros – isto não vai ser para já em Portugal, mas irá surgir certamente».
Por outra vertente, Francisco Campilho, CEO da Victória Seguros, alertou sobre a necessidade de ação rápida e eficaz, especialmente em relação aos seguros na habitação. «Enquanto seguradores, temos a urgência de prever eventos que, embora de baixa probabilidade, têm um impacto gigantesco, e falo especificamente do caso dos sismos em Portugal». O responsável destacou a baixa adesão aos seguros em Portugal, referindo que mais de 45% das habitações não têm seguro contra incêndios ou multirriscos e mais de 80% não têm seguros antissísmicos.
O futuro do imobiliário em Portugal numa palavra
No final do debate, a moderadora Patrícia Barão, Head of Residential da JLL, dirigiu uma pergunta aos intervenientes: como veem o futuro do imobiliário em Portugal nos próximos anos, numa palavra? Ricardo Sousa respondeu que será «incrível, porque o futuro somos nós que o fazemos». José Cardoso respondeu simplesmente: «tecnológico, pois vai moldar muito do que vamos fazer nos próximos tempos». Luís Correa de Barros descreveu que será como «uma montanha-russa de desafios, porque vai haver muitas inconstâncias mesmo com toda a tecnologia e inteligência emocional». Já Francisco Campilho opinou que «o setor da construção tem todas as características para continuar a ser uma locomotiva da economia». Sérgio Ferreira concluiu com «transformação, sendo que todos devemos começar a criar uma agenda sobre a IA, juntamente com a literacia e formação».