A III Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal – COPIP, com organização da APPII e da VI, decorreu ontem, 30 de junho, no espaço O Clube – Monsanto Secret Spot, em Lisboa. O acesso à habitação por parte dos portugueses esteve no centro do debate na primeira parte da manhã do evento. António Gil Machado, iniciou os trabalhos referindo que esta III Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal é «a maior que a APPII já organizou até ao momento».
O Presidente da APPII, Hugo Santos Ferreira, fez um breve resumo do que seria debatido ao longo do dia, e introduziu alguns dos tópicos das sessões. Ao lançar a questão «2022 está a ser um ano desafiante, devido ao fim da crise sanitária em si. Saberá a economia sobreviver a um vírus que “vai e vem”?», o presidente da APPII acredita que a fileira do imobiliário e da construção vai (e está) a ter o seu contributo neste ponto, sendo que para isso é «preciso dar aos portugueses mais habitação, e que elas sejam mais verdes».
Sendo o fornecimento e os custos de matéria-prima uma das «grandes dificuldades que temos hoje», Hugo Santos Ferreira, alertou também para a escassez de mão-de-obra existente que «impede novos projetos de avançar. Falta-nos trabalhadores qualificados. Estima-se que faltam 80 mil trabalhadores na construção (...) é fundamental que Portugal seja mais atrativo para os trabalhadores». Referiu também que o PRR é um programa que tem como objetivo «trazer recuperação e resiliência às empresas e economia, no entanto, não vemos "um cêntimo" desse programa. Pelo contrário, não trouxe recuperação e falta resiliência».
Face ao enorme desafio que a sustentabilidade representa hoje, por conta da «inflação, taxas de juro, mão de obra, custos de construção, incerteza na retoma do turismo e também pelo parque habitacional envelhecido que temos», o presidente da APPII referiu que o setor imobiliário está «fortemente empenhado em trabalhar em prol da descarbonização e da eficiência energética dos edifícios», acrescentando que os promotores «estão empenhados em ajudar os portugueses a construir mais habitações verdes. Mas, para isso, os projetos têm de ser viabilizados».
"Temos novas geografias a procurar habitação em Portugal"
A primeira apresentação do evento teve como foco o estudo de acesso à habitação pelos portugueses, apresentada em conjunto por Ricardo Sousa, CEO da Century 21, e Ricardo Guimarães, Managing Partner da Confidencial Imobiliário.
Ao sublinhar que «o mercado imobiliário é um mercado hiper-local, pois tem dinâmicas muito diferentes», Ricardo Sousa referiu também que «o mercado, e os seus stakehloders, tem mostrado uma grande capacidade de resiliência e adaptação a todos os contextos» e que «estamos com uma procura fortíssima, as pessoas estão a comprar, arrendar e investir. Temos novas geografias a procurar habitação em Portugal, nomeadamente os EUA. As famílias estão com mais poupança, e isso incentiva a procura».
Dando uma perspetiva com base na «informação, com dados factuais e relevantes», Ricardo Guimarães, referiu que «a situação que estamos hoje é completamente diferente daquela que vivemos na crise financeira» e que 2021 demonstrou que «estamos num cenário completamente diferente no que diz respeito à entrega de casas». Indicou também que «temos uma nova geração de promotores imobiliários que vai determinar a forma como devemos “enfrentar” estes novos ciclos, como o aumento dos juros», acrescentando que «em momentos de forte inflação, não se antecipa uma redução dos preços de habitação. Não, não é agora que o preço das casas vai realmente cair».
"Em Lisboa, Oeiras e Cascais, as famílias ganharam poder de arrendamento"
Foi aquilo que Ricardo Sousa indicou quando abordou o tema do arrendamento, designando-o como um mercado «muito mais elástico e flexível». Apresentou também cálculos, com a taxa de juro a 1%, revelando que há um «aumento de 69 euros da prestação de quem compra uma casa, relativamente a esta dinâmica da subida das taxas de juro», frisando que «a promoção imobiliária tem aqui uma prova de fogo».