Piorou o nível de confiança (ou desconfiança) dos proprietários no mercado de arrendamento habitacional nos últimos meses. O Barómetro “Confiança dos proprietários” da ALP revela que quase 73% dos seus inquiridos afirma não ter confiança na evolução deste setor, a percentagem mais elevada desde que o barómetro é realizado.
Esta edição inquiriu 314 proprietários de imóveis, 33,8% com idades entre os 65 e os 75 anos, e 9,2% com mais de 75 anos. 26% tem entre 55 e 64 anos.
Nas edições anteriores, a falta de confiança no mercado era admitida por cerca de 55% dos inquiridos. A instabilidade legislativa e fiscal, bem como os acontecimentos mais recentes no que ao Governo diz respeito, agravaram este fator.
89% dos respondentes afirmam que não vão colocar no mercado os imóveis que têm vagos neste momento. Destes, 41% vão optar por vendê-los, e 30% prefere mantê-los devolutos.
Entre os maiores receios dos proprietários com a chegada do novo ciclo político estão o aumento da carga fiscal (com 73,5% das respostas), o aumento da morosidade da justiça (38,5%) e o regresso ao congelamento das rendas, com um terço - ou 33,6% das respostas.
Arrendamento acessível não convence
95% dos inquiridos não confia nem é convencido pelos programas de arrendamento acessível do Governo ou das autarquias. 44,5% tem receio que os termos contratuais e os benefícios fiscais concedidos possam ser, entretanto, unilateralmente alterados.
30,7% preferiam escolher a renda e o inquilino livremente, e 9% acreditam que os preços não são competitivos.
Desce o incumprimento das rendas
Pela primeira vez desde que este barómetro trimestral foi criado, os proprietários registaram uma descida do incumprimento das rendas, depois do pico de 60% de outubro de 2020 e dos 40% das três edições anteriores.
Mas 33% continuam a afirmar que têm rendas em atraso. 35,6% tem até 3 meses em atraso, e 28% tem atrasos superiores a 6 meses.
61% dos proprietários inquiridos pela AHL ainda tem contratos anteriores a 1990.
“Chumbo” ao Governo
Nesta edição do barómetro, 52% dos proprietários inquiridos dão uma avaliação “muito negativa” ao Governo. 36% faz uma avaliação “globalmente negativa e 57% consideram que o Executivo governou contra os proprietários. 38% acredita que o Governo ignorou este setor ao longo da legislatura.
92,6% afirma não ter confiança no Governo. Os inquiridos queixam-se de “perseguição fiscal”, “falta de visão de longo prazo” ou de “regras constantemente alteradas”. Outra das respostas refere que “o Governo não reconhece os proprietários de imóveis como parceiros sociais, mas empurra-lhes a função social”.
A oposição também não convence os associados da ALP, com 70% dos inquiridos a referir que a oposição não defendeu os seus direitos.
Os proprietários reivindicam num novo paradigma o alívio fiscal sobre a propriedade imobiliária (75%), o fim do congelamento das rendas antigas (55%) e a necessidade de promoção de uma efetiva reforma da justiça (37%).
Associação disponível para dialogar
Com eleições antecipadas à porta, 37% dos inquiridos afirma estar disponível para trabalhar com o Governo ou com as autarquias para tentar resolver a crise habitacional do país. 33% afirma “talvez”, e 29,7% diz que “não” está disponível para isso.
Iolanda Gávea, vice-presidente da ALP, comenta que «os proprietários estão disponíveis para o diálogo e afirmam claramente neste estudo da Associação que estão disponíveis para trabalhar em conjunto com o poder político para uma estratégia de habitação equilibrada, não obstante exprimirem que não encontram nenhuma abertura para tal, quer nas forças que governaram o país até agora, quer nas que garantiram a oposição política».
Em comunicado, reforça que «em 2022 vai iniciar-se um novo ciclo político, na sequência do ‘chumbo’ do Orçamento do Estado de 2022. Esta é a oportunidade única para mudar um paradigma bafiento que criou a crise habitacional no nosso país. Reganhar a confiança dos proprietários privados tem que estar na agenda política, e a Habitação tem que estar em foco na campanha eleitoral, mas de uma forma séria, sem manobras eleitorais que não resolvem os problemas de habitação dos portugueses. Na verdade, só os agravaram», conclui.