BTR pode dinamizar mercado, mas ainda "não se reúnem condições em Portugal"

Realizou-se esta terça-feira, no Hotel Real Palácio em Lisboa, o Pequeno-Almoço Debate organizado pela Vida Imobiliária em conjunto com a Cushman & Wakefield. Com o mote "Novos formatos de Living!", foram debatidos temas como o mercado “Built to rent” em Portugal, o mercado de residências de estudantes, o impacto das novas regras de “taxonomia” da União Europeia e entre outros tópicos proeminentes no mercado imobiliário.O início do debate assentou no mercado residencial, em particular no tema do "Build to rent". Ana Gomes, em representação da C&W no debate juntamente com Eric Van Leuven e Isabel Simões Correia, considera que o «BTR ainda não funcionou até agora, porque Portugal não reúne as condições mais adequadas para o desenvolvimento deste tipo de produto, e, os promotores, não estão motivados para isso». No entanto, menciona que o BTR «cresceu muito e teve muita procura, tanto por parte de ocupantes, como também de investidores em toda a Europa de uma forma descomunal. É inacreditável o número de projetos que se desenvolveram noutros países». Por outro lado, Ana Gomes recorda que em Portugal o Build to sell «vendeu sempre bem», apesar de «os custos na construção para arrendamento não motivarem os promotores a construir»."É por via da distância que se encontram soluções"Cada vez mais as pessoas se estão a afastar «não só de Lisboa e Porto, mas também de outros centros urbanos» indica Paulo Caiado, Presidente APEMIP, referindo que estamos a assistir a um «alastrar da escassez», ou seja, o tema não é só «não temos casas para vender em Lisboa, o tema é não temos casas para vender em Torres Vedras, Benavente e entre outros. O que de facto surpreende aqui é a elevada procura por estas alternativas». A título de exemplo, o presidente APEMIP, alude para o facto de «as casas de 200 mil estarem no Sobral de Monte Agraço. Em Benavente não se arrenda uma casa. Por exemplo, dentro da Lourinhã, situada a 70km de Lisboa, não se arrenda uma casa»."O mercado Build to sell tem sido único. A procura tem tido níveis espetaculares"De acordo com as declarações de João Pita, Round Hill Capital, o mercado build to sell até ao momento tem sido único, embora saliente que a gestora de investimento imobiliário tem «olhado bastante para o Build to Rent. No entanto, não existe produto para adquirir, não há escala, o que obriga a ir pelo caminho do desenvolvimento, que traz o risco do licenciamento, custos de construção e regulamentos, por exemplo».Para a Banca: Build to sell ou Build do rent?Em representação da Banca no debate, Luís Vaz Pereira, Millenniun Bcp, refere que o princípio do financiamento é «se o modelo for bom para o promotor, é negócio para nós. Admitimos ambos», acrescentando que a banca «vai acompanhando o mercado» e o que de facto se verifica é que o «segmento mais baixo tem tido menos construções, pelas próprias características do mercado. Por outro lado, houve um grande crescimento de promoção no segmento mais alto». Em termos do Buil to rent, Luís Vaz Pereira relata que «já foram feitos vários estudos em conjunto com vários promotores», no entanto «a conta não fecha», pois «esbarra sempre em algumas dificuldades, como a questão do licenciamento». O responsável pelo financiamento imobiliário empresarial no Millenniun Bcp, sublinha que, acima de tudo, «há muitas condicionantes de mercado que limitam a construção para arrendamento de renda livre»."Há investidores com muita vontade, mas há poucos projetos"Para Cristobal de Castro, Albatross Capital, no que diz respeito ao BTR, «há investidores com muita vontade, mas há poucos projetos». Considera que «é preciso uma mudança nas câmaras para que esses produtos possam ser transformados de uma maneira inteligente», acrescentando que «estamos a viver com regras urbanísticas de há 30 anos, e esse é o problema. A maioria das famílias não precisa de casas superiores a 100 metros quadrados. Temos de tirar as limitações do mercado, para haver uma boa regularização». Cristobal de Castro sublinha ainda que a Albatross Capital está «a arrendar muito bem: a procura fora das grandes cidades é enorme. Estamos a vender e a arrendar. Há muitíssima procura por arrendamento».Residências de estudantesO que tem sido noticiado acerca da sobrelotação das residências é de facto o que tem ocorrido, refere João Pita, indicando que «nós estamos a 100%. A residência no Campo Pequeno está a 99%. Temos fila de espera». No que diz respeito ao reforço no financiamento para residências de estudantes, João Pita diz que «vamos ver se ainda acontece. Em Lisboa a provisão de camas está abaixo dos 5%». Contudo, conclui que «há muito espaço no mercado» e que vão «continuar à procura de produto, para consolidar a plataforma».Pedro Sousa, Brookfield, atenta ainda para o «problema estrutural em Portugal» que se prende com o facto de «o nosso ciclo de vendas ser mais tardio do que qualquer outra parte da Europa, essencialmente as colocações saem em setembro e há muitas pessoas que atrasam qualquer grande decisão até setembro. Em Portugal as vendas fortes são em agosto e deixamos sempre alguns quartos para setembro». Pedro Sousa refere também que nas «nossas residências é sempre importante haver alguns quartos mais acessíveis».O "desequilíbrio entre fluxos de procura e oferta"Paulo Caiado atenta para ainda para a questão da oferta em Portugal ser «muito escassa»: para o responsável pela APEMIP, as poupanças no banco, «têm um grande significado», assim sendo «vamos cada vez mais assistir a um interesse das pessoas que têm estas poupanças, a alocar o seu interesse a ativos imobiliários. Vamos assistir a tomadas de decisões quer por parte de quem vende represente uma reestruturação financeira, quer por parte de quem a compra represente uma decisão de alocar o seu dinheiro». Paulo Caiado assume que tem a expetativa de que «podemos assistir a uma sustentação daquilo que tem sido os preços».No que se refere às novas regras de “taxonomia” da União Europeia, houve um consenso geral de que de facto é uma realidade para todas as empresas, «um dado adquirido, que está na agenda de todos», como refere João Pita. Esta regularização «tem um preço, ou seja, vai ser mais caro construir e mais caro para as pessoas comprarem», indica Cristobal de Castro, no entanto apesar de os custos serem mais elevados, houve o consenso geral de que a longo prazo pode ser mais eficiente.

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