No SIL Investment Pro, a sessão "Novas Técnicas Construtivas" destacou a emergência de mudanças significativas no setor da construção. Num painel moderado por Margarida Ordaz Caldeira, Founder & Director da WIRE Portugal, especialistas do setor partilharam insights valiosos sobre as mudanças em curso no setor da construção e as novas técnicas construtivas.
Manuel Collares Pereira, Scientific Advisor da Vanguard Properties, destacou o impacto da Kozowood, empresa da Vanguard Properties que produz casas de madeira, no setor. «As pessoas têm uma ideia de que a construção em madeira é muita associada a módulos, mas não há razão nenhuma para estar reduzida somente à construção modular», afirmou, acrescentando que «é possível substituir integralmente as componentes tradicionais da construção dos edifícios, com as componentes de madeira. Não há nenhuma limitação arquitetónica».
O assessor científico da Vanguard indicou que a Kozowood «fabrica as componentes para que essa revolução na construção possa acontecer. Em termos de sustentabilidade, esta mudança de paradigma é muito importante pelo lado da redução de emissões, mas também pela retirada do CO2 da atmosfera». Quanto ao conhecimento das pessoas sobre este novo paradigma, acredita que «há um progresso que se está a fazer e uma forte evolução, sendo que também é importante olharmos para o que tem sido a construção em madeira noutros países e aprender com eles».
"A industrialização traz um aumento de qualidade do produto e do serviço"
Nuno Fernandes, Diretor-Geral do Grupo Casais, salientou os desafios associados à revolução na construção, observando que «falamos muitas vezes de mudança tecnológica, mas associada a esta mudança há toda uma mudança de mindset». Falando sobre a industrialização, enfatizou que este processo «traz um aumento de qualidade do produto, do serviço e práticas do ESG». Quando se fala em técnicas construtivas, «falamos também de dar novas competências às pessoas, dado que há todo um processo de “evangelização” das pessoas que é preciso fazer, convencer, ouvir muitos “não” etc.».
Na Casais, «a lógica é mais de plataforma e de ambiente colaborativo. Quando assim é torna-se premente que haja um pensamento antecipado da aplicação destas técnicas». No que diz respeito à circularidade dos produtos, «quando nos referimos a produtos que podem ser claramente identificados e futuramente desmontados, há uma potencial circularidade e mercado de segunda mão que porventura aparecerá no futuro. É uma componente de valor para o qual o mercado pode ainda não estar preparado, mas é inevitável», sublinha Nuno Fernandes.
Por outro lado, José Martos, CEO da Saint-Gobain Portugal, realçou a urgência de descarbonizar o setor da habitação, dizendo que «temos de reconhecer o impacto que a construção tem no meio ambiente: 40% das emissões de CO2 são relativas a habitação. Há uma pegada carbónica muita forte do setor da habitação, se queremos atingir a neutralidade carbónica, temos de descarbonizar a habitação». O responsável pela Saint-Gobain Portugal reiterou que «a nossa forma de construir não é sustentável» e que na Saint-Gobain «temos um compromisso total com a neutralidade carbónica 2050».
"O Governo tem um desafio enorme pela frente se quer atingir a neutralidade carbónica"
José Martos reforçou a necessidade de «reabilitar o parque habitacional que temos em Portugal e que, para isso, o Governo deve ser inteligente na forma como vai abordar a situação». Os apoios que o Governo vai disponibilizar para reformar o parque habitacional «devem dirigir-se a melhorar as envolventes dos edifícios e, numa segunda fase, melhorar o sistema ativo»
Margarida Correia Pires, Head of Business Development - New Downstream da EDP, abordou os desafios da transição energética, salientado que «na EDP atuamos bastante na produção de energia renovável, mas queremos mais do que isso: queremos que as famílias participem nesta implementação da transição energética e na diminuição da pegada carbónica». Para a representante da EDP no debate, «se queremos atingir a neutralidade carbónica, todos nós temos de atuar sobre ela».
Em termos de produção de energia local, «estamos sem dúvidas à frente, uma vez que fomos um dos primeiros países a pôr uma legislação possível para a produção de energia locável de uma forma em que existia uma planta fotovoltaica e que fosse possível autoconsumo por várias pessoas».
No entanto, no quesito mobilidade elétrica «não estamos à frente», considerou Margarida Correia Pires, enfatizando que «existem países que têm legislações que permitem facilitar esta adoção; em Portugal temos um grande constrangimento, a potência dos próprios edifícios, a nossa rede não está preparada».