Trazido a palco por de Carlos Moedas, membro do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian e Ex-Comissário Europeu, o tema do futuro sustentável dominou a sessão de abertura das Lisbon RE Investment Talks,organizadas pela Iberian Property.
Aquela que considera ser a próxima tendência no setor, pronta para arrancar a qualquer momenta, afirmou, vai exigir que se invista mais na tecnologia, mas vai implicar também que direcionemos os nossos esforços para melhorar a nossa eficiência nesse campo.
E porque deve ser a tecnologia uma prioridade? Ora, neste momento cerca de 50% das patentes registadas num contexto global são provenientes da Europa, no entanto a nossa capacidade de as desenvolver não segue o mesmo padrão de excelência e acabamos por ter de importar soluções de países como a China, quando as poderíamos ter desenvolvido internamente desde logo.
Carlos Moedas foi mais longe neste tópico, e afirmou com alguma desilusão que «transformamos dinheiro em conhecimento, mas não transformamos conhecimento em dinheiro».
Uma possível explicação para este fenómeno prende-se com o facto de, apesar de termos uma política de inovação presente, a nossa escala nesse âmbito é muito reduzida quando comparada com outras regiões, o que elimina por completo a nossa posição de competição com essas regiões.
A título de exemplo, podemos observar que embora em termos relativos o peso percentual do PIB dedicado a inovação seja muito aproximado entre a Europa e os Estados Unidos da América, a verdade é que em termos absolutos um único instituto de saúde dos Estados Unidos é alvo de quatro vezes mais investimento do que o total dos fundos para a ciência e inovação da Europa.
Face a estas dificuldades o Governo Português deve ponderar de forma cuidada como aplicar esses fundos. Principalmente dado que não é segredo que existem muitas empresas e até partidos políticos preocupados com uma má afetação desses fundos, cenário que se verificaria caso eles fossem utilizados para “tapar buracos” financeiros oriundos de períodos anteriores.
Portanto, na opinião de Carlos Moedas, o Governo precisa de encarar os fundos da União Europeia como uma oportunidade para melhorar estes aspetos de inovação que requerem especial atenção. De qualquer forma, deparamos-nos com uma questão fundamental - onde devemos aplicar esse dinheiro e como o controlar?
O antigo Comissário Europeu destacou as três áreas que no seu entendimento poderiam beneficiar mais desse investimento e simultaneamente contribuir mais para o futuro sustentável.
O setor da construção foi o primeiro protagonista da discussão devido sobretudo aos níveis elevados de desperdício gerados neste negócio. Como refere Carlos Moedas, as empresas de construção devem, agora mais do que nunca, apostar na melhoria da gestão de desperdício - e a solução passa por investir em tecnologia. Em África já se constroem casas com impressoras 3D, o que significa zero desperdício em materiais! Claro que para uma pequena aldeia em África este conceito faz sentido, enquanto que num contexto Europeu não se enquadra tanto, mas o que importa reparar é que a mudança já é visível e a aplicação da tecnologia neste ramo está a evoluir.
Com base no mesmo princípio, o segundo tópico abordado foi a eficiência energética, a qual está a ganhar importância não só através de iniciativas e mecanismos legais, como também pelas próprias opções de consumo dos clientes particulares.
E, por fim, um tema que sem dúvida suscita curiosidade - smart cities. Apesar de ainda não podermos observar as denominadas “cidades inteligentes”, a verdade é que podemos sim observar já exemplos desse conceito. E um dos principais fatores a ser correntemente explorado é a mobilidade - a forma como nos deslocamos de um ponto A para um ponto B é dotada de um enorme potencial.
Uma vez mais a tecnologia desempenha um papel crucial, porquanto através por exemplo das redes Wi-Fi dos transportes públicos conseguimos extrair um conjunto de dados, que podem posteriormente ser transformados em informação relevante para desenvolver novas soluções sobre o planeamento da cidade, sobre o urbanismo, sobre necessidades iminentes de concentração de população em determinada região, etc.
Como nota final, Carlos Moedas ressalvou que, de modo a que estas mudanças sejam possíveis o Governo não pode ter vergonha em pedir ajuda a especialistas destas áreas, o que implica estar aberto à criação de mecanismos de co-decisão…caso contrário nunca teremos cidades inteligentes, porque não teremos um governo inteligente a administrar essas cidades, concluiu.