Para Francisco Horta e Costa, Diretor Geral da CBRE. Portugal, «a tendência que mais se irá destacar este ano é o aumento do investimento imobiliário institucional em habitação para arrendamento».Esta foi uma das conclusões do estudo “Tendências do Imobiliário 2021 – Next Normal, Reset to Change”, evento da consultora que apresentou as principais tendências para o mercado esta quinta-feira.Nuno Nunes, do departamento de Capital Markets da CBRE, destacou neste evento que «Portugal dá ainda os primeiros passos, firmes e seguros. Interesse dos investidores é cada vez maior e mais sólido. Este mercado de arrendamento existe, tem volume significativo, e capacidade para gerar rendas suficientemente atrativas para avançar com o projeto».Ainda assim, está confiante de que «em 2021 possamos assistir às primeiras transações relevantes deste setor, bem como transações de ativos que se enquadram apesar de não terem sido feitos de raiz».Começam agora a surgir os primeiros projetos de construção para arrendamento no nosso país, mas o mercado está ainda numa fase embrionária. Patrícia Clímaco, da Castelhana, identifica que o Multifamily «é tendência no mundo inteiro, mas vai chegar a Portugal mais devagar».Destaca ainda o potencial de atração de trabalhadores remotos, pois «somos um dos destinos mais competitivos para trabalhar em todo o mundo, temos boas infraestruturas, boa qualidade de vida. Mas para atingirmos um volume significativo de pessoas que escolhem o nosso país para viver, temos de retomar a conexão aérea», diz a responsável.Residencial mantém-se resiliente, com ligeira descida dos preçosEste mercado manteve-se resiliente já em 2020. Segundo a CBRE, «não se verificou descida dos preços de venda, o que reflete a persistente escassez de oferta. Aumentou o volume de crédito concedido, e estabilizou o volume de vendas».A escassa oferta de novas habitações «deverá assegurar uma certa estabilidade no mercado residencial ao longo de 20021, embora se possa assistir a uma ligeira queda dos preços, mais acentuada no produto de segunda mão», prevê a consultora, que antecipa que o número de transações de habitação atinja as 165.000 em 2021, valor idêntico ao do ano passado, mas «o impacto da pandemia na economia e a capacidade de manutenção dos empregos vão regular as vendas».Este ano, deverá manter-se a falta de oferta, nomeadamente para os segmentos médios. Patrícia Clímaco partilha que «os produtos destinados ao mercado doméstico, de gama média/média-alta, têm grande absorção no mercado, assim como os produtos de luxo», numa altura em que «a casa ganha nova importância na vida das famílias, nomeadamente no caso dos millennials».A responsável encontra mais dificuldades «no segmento da reabilitação urbana em zonas centrais das cidades, que eram destinados sobretudo a estrangeiros, que agora não nos estão a visitar».As taxas de juro deverão manter-se baixas nos próximos tempos, o que vai manter o imobiliário atrativo, em comparação com outras classes de investimento. Mas a manutenção das moratórias bancárias até à recuperação da economia «é da maior relevância para a estabilidade do setor».“Build to rent” com arranque lentoNo entanto, os promotores imobiliários estão menos otimistas. Participando neste fórum, Pedro Vicente, da Habitat Invest, admite ter «muitas dúvidas. Ouvimos falar muito no “build to rent”, nos esforços do setor público no arrendamento acessível, mas não chegam. São poucas frações que não vão influenciar substancialmente o mercado. e continua a inexistência de apoios à construção nova. Por isso penso que este arrendamento não vai ainda ser uma realidade».José Cardoso Botelho, da Vanguard Properties, também tem dúvidas: «para que se desenvolva grande número de apartamentos, é preciso capital de longo prazo. As empresas portuguesas vão ter de recorrer a investimento estrangeiro, que têm dúvidas em relação à estabilidade fiscal do nosso país. Há poucos terrenos, a fiscalidade é alta, e apesar de haver muita procura, tenho dúvidas que esse mercado desponte como muitos dizem».Licenciamentos atrasaram colocação de nova ofertaSegundo a consultora, em 2020 os processos de licenciamento «ficaram ainda mais morosos, e a oferta de habitação atrasou-se. Precisamos de agilização dos licenciamentos».Segundo Patrícia Clímaco, a digitalização dos processos é um dos principais desafios do setor este ano, já que «é necessário comprar e vender à distância. O Governo tem de tornar possível a assinatura de CPCV e escrituras de forma remota».Multifamily começa a ser a maior classe de investimento na EuropaOs especialistas europeus da CBRE salientaram neste evento que o mercado residencial, nomeadamente o segmento Multifamily, começa a ser a classe de ativos que mais investimento atrai na Europa.Isto porque «os fundamentais são interessantes, há falta de habitação em todos os mercados europeus, e as yields descem em consequência disso. Os investidores aceitam hoje retornos inferiores em troca da estabilidade do setor». Espera-se, por isso, que este investimento se mantenha em 2021.A única exceção será o mercado de luxo, que «está a ter mais dificuldades com a pandemia», nomeadamente devido ao desvio da oferta do alojamento local para o arrendamento de longa duração.