O mercado de investimento imobiliário em Portugal registou um volume total de investimento na ordem dos 234 milhões de euros, 10% inferior aos volumes observados no mesmo período homólogo do ano de 2022. De acordo com o relatório da Savills, a quebra foi mais notória face ao período pré-pandemia: -54% face a 2019 e -74% comparativamente a 2018.
Foram fechadas 14 operações, com o segmento de retail a ocupar a liderança da tabela devido à venda pelo TREI real Estate à LCN Capital Partners, por 150 milhões de euros, do Portfolio Amália, constituído por 49 supermercados.
Nos primeiros três meses do ano, os norte-americanos LCN Capital Partners foram responsáveis por 68% do volume total de investimento, seguidos pelos investidores oriundos da Alemanha com 13% e dos investidores portugueses também com 13%.
«A evolução do contexto económico que impactou no aumento dos custos de financiamento, que ainda não se mostram estáveis, tem sido uma das razões explicativas para o alongamento nos processos de tomada de decisão. As previsões económicas e financeiras que revelam um carácter de maior otimismo para a reta final de 2023 estão na base deste prolongamento, enquanto o desencontro de expetativas de preços entre vendedores e compradores se mantém, sobretudo na transação dos ativos com um perfil mais “core”, que têm sido os mais penalizados», comenta Paulo Silva, Head of Country, Savills Portugal.
Escritórios - Lisboa e Porto
O mercado de escritórios de Lisboa contabilizou um volume de absorção total de aproximadamente 20.000 metros quadrados, no primeiro trimestre de 2022, o que representa uma descida acentuada de 69% face ao período homólogo do ano 2022. Comparativamente com a média dos primeiros trimestres dos últimos 5 anos, o resultado ficou igualmente 55% abaixo da média cifrada nos 43.900 metros quadrados.
De acordo com a Savills, este ano está prevista a conclusão de aproximadamente 73.500 m², já totalmente destinados a ocupação própria e pré-arrendamento, números bem demonstrativos da dinâmica do mercado português.
«Os resultados do 1º trimestre de 2023 são naturais e expectáveis, devendo ser analisados com o devido enquadramento. 2022 foi o ano dos pré-arrendamentos e owner occupiers que inflacionaram, ao longo de todos os trimestres, o volume de absorção colocando maior pressão nos números de 2023. O pipeline que temos para os próximos 2 meses demonstra uma clara recuperação, quando comparado com o primeiro trimestre», sublinha Frederico Leitão de Sousa, Head of Corporate Solutions, Savills Portugal.
Já o mercado de escritórios do Porto somou um volume de absorção total de 7.689 m², no 1º trimestre de 2023, um resultado 32% superior quando comparado com o mesmo período do ano 2022 e apenas 5% abaixo da média dos primeiros trimestres dos últimos 4 anos. A recuperação do mercado é já um dado adquirido, com o Porto a integrar as listas de destinos empresariais preferenciais de ocupantes internacionais. Para os próximos dois anos, está prevista a conclusão de aproximadamente 90.000 m² de novos projetos.
Indústria & Logística
O volume total de absorção do mercado Industrial & Logístico em Portugal ultrapassou ligeiramente os 200.000 m², entre janeiro e março de 2023, aponta a Savills. Este valor representa uma subida de 159% face ao mesmo período de 2022 e um aumento muito expressivo de 284% em relação ao período homólogo de 2021. A região da Grande Lisboa teve um peso de 52% no volume total de take-up, seguida da região centro com 25%.
«O primeiro trimestre do ano dá-nos indicadores positivos para o restante ano, tendo fechado com um take-up no quarter próximo ao do 1º semestre do ano transato. As rendas continuam em linha com o final do ano passado porém, o upperhand está do lado dos proprietários, motivado pela atual escassez de espaço disponível e de qualidade. O período de decisão está mais longo, mas a intenção de ocupação mantém-se, havendo a expectativa de várias ocupações nos projetos que estão em desenvolvimento nos próximos meses. O sentimento de mercado geral é de um otimismo cauteloso», refere Pedro Figueiras, I&L Director, Savills Portugal.
Retalho
De acordo com a consultora, o mercado de retalho permanece resiliente com destaque para os setores da restauração e distribuição alimentar, a liderarem a procura. O período de absorção dos ativos de retalho aumentou, havendo maior pressão por parte dos ocupantes relativamente ao valor das rendas.
Segundo José Galvão, Retail Director da Savills Portugal, «os primeiros meses de 2023 vieram demonstrar uma tendência que se vem a consolidar nos últimos anos: o sector de retalho em Portugal é fortemente suportado pelo sector do turismo. Os negócios de F&B são responsáveis pela maior parte das aberturas de novas lojas onde os clientes são essencialmente turistas. Consolida-se também a necessidade de retalho alimentar de proximidade e novos conceitos internacionais low-cost, com uma oferta alargada nos setores de moda e casa, estão bastante ativos. Há ainda marcas internacionais de relevo a olhar com interesse para entrarem no mercado nacional».
Residencial
Ao longo dos primeiros três meses deste ano, foram vendidas 35.529 propriedades residenciais em Portugal, um número que reflete uma diminuição de aproximadamente 16% em comparação com o mesmo período em 2022 onde foram transacionadas 41.310 casas.
Para Miguel Lacerda, Lisbon Residential Director da Savills Portugal, «o mercado ainda é incerto, tornando as pessoas mais cautelosas quando se trata de tomar decisões como a compra de casa. Além disso, o aumento constante dos custos de construção, que se refletiu nos preços finais da habitação, o aumento das taxas de juro e regras de financiamento bancário mais rigorosas, estão a exercer o seu impacto. Não obstante os desafios que 2023 encerra para o mercado residencial, a procura mantém-se muito dinâmica e o interesse de investidores estrangeiros não será colocado em causa. Os preços denotam agora uma desaceleração no ritmo de crescimento»
Turismo
Portugal está prestes a superar os números de turismo pré-pandemia: até fevereiro de 2023 o país contabilizou 7,5 milhões de dormidas, sendo que o mesmo período de 2019 registou um total de 6,4 milhões de dormidas, um dado que se traduz numa diferença superior a 15%. Este é um resultado bastante otimista considerando os eventos e desafios de 2022, aponta a Savills.
«2023 deverá ser um ano de sucesso. A previsão é de recuperação total, o que significa que os números relacionados ao turismo deverão bater novos recordes e superar níveis pré-pandémicos. Contamos com 70 novas aberturas de hotéis até ao final do ano, oferecendo mais de seis mil quartos em todo o país. No 1º trimestre de 2023, presenciámos a abertura de 29 novos hotéis», salienta Alberto Henriques, Business Development Director, Savills Portugal.