Investimento imobiliário pode crescer cerca de 12,5% em 2024

Assim como em 2022, múltiplos fatores de incerteza pairaram sobre o mercado imobiliário em 2023. O investimento global em imobiliário teve uma queda significativa face ao ano anterior, principalmente devido à recessão económica e às elevadas taxas de juro. Em 2023, o investimento imobiliário comercial em Portugal fixou-se nos 1.600 milhões de euros, 50% abaixo do ano anterior. Foram os dados apresentados pela CBRE, esta terça-feira, no evento Portugal Market Outlook 2024. Ambiente de investimento imobiliário mais positivo em 2024 Apesar da abordagem mais cautelosa adotada pelos investidores, as perspetivas para 2024 apontam para um cenário mais otimista, prevendo-se que a atividade recupere no segundo semestre do ano. A consultora antecipa um aumento de 12,5% este ano face a 2023, para um intervalo de 1,6 a 1,8 mil milhões de euros do investimento total em imobiliário comercial. A escassez de produtos mantém-se em quase todas as classes de ativos tradicionais, prevendo-se que continue a impulsionar aumentos nas rendas de escritórios e espaços logísticos. Além disso, setores em fase inicial de desenvolvimento ou crescimento, como alojamento estudantil, habitação sénior, saúde e agronegócio, apresentam várias oportunidades de negócio. Apesar de a sustentabilidade ser indiscutivelmente uma prioridade para proprietários e inquilinos, a CBRE sublinha que há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito a certificações. Assunção Cristas, Ex-ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, refere que «a palavra de ordem é incerteza, definindo o panorama atual. O mundo está longe de estar completamente reconfigurado, e o risco climático também assume proporções consideráveis». Já o economista e consultor António Ramalho comenta que «a componente financeira destaca-se como a menos incerta num ano particularmente marcado pela incerteza». No que diz respeito às tendências, a «tecnologia é a palavra de ordem, com a sociedade a integrar a tecnologia de forma intrínseca nas suas vidas», opina. Quanto ao setor da habitação, António Ramalho diz que «é crucial que os investidores estrangeiros compreendam que o mercado português é um mercado de proprietários». O desafio central reside no facto de «quem está no mercado está bem, enquanto quem não está no mercado enfrenta dificuldades: temos de dar consistência e criar condições». Retalho e hotelaria representaram cerca de 70% do volume de investimento Os escritórios perderam a liderança no mercado de investimento em Portugal. Entre 2016 e 2022, representaram 30% do investimento, todavia em 2023 este valor recuou para 10%, com expectativas de recuperação em 2024. No ano passado, os setores do retalho e da hotelaria, em conjunto, representaram cerca de 70% do volume total de investimento. A hotelaria e o retalho emergem como as principais preferências dos investidores para captar a maioria do capital de entrada, estima a consultora. As taxas de juros desempenharão um papel decisivo na velocidade de recuperação, tanto no número de transações como no volume de investimento. Os centros comerciais e os retail parks apresentaram um desempenho notável ao longo do ano, apontam os responsáveis. Os centros comerciais registaram um aumento de 11% nas vendas e as visitas cresceram 10%. Apesar da previsão de uma desaceleração nas vendas no retalho, espera-se que os bons níveis de desempenho do setor mantenham-se em 2024. O desempenho dos retail parks será um catalisador para novos desenvolvimentos em 2024. Após um crescimento notável de 20% em 2023, o setor da hotelaria está posicionado para atingir um patamar semelhante este ano. Em 2024, prevêem-se novas aberturas, com a expectativa de uma ligeira melhoria nos níveis de desempenho ao longo do ano. Escritórios Em 2023, observou-se um aumento de 4% na renda prime do Lisboa e um acréscimo de 6% na renda prime do Porto Boavista, cifrando-se agora em 28 euros/metro quadrado e 19 euros/metro quadrado, respetivamente. Este crescimento nas rendas é sustentado pela melhoria na qualidade de novas construções ou espaços reabilitados, estabelecendo assim um novo padrão nos critérios de procura, segundo a CBRE. Para 2024, prevê-se uma procura robusta, sendo que fatores como ESG, flexibilidade e qualidade assumirão um papel preponderante na tomada de decisões por parte dos ocupantes. A ocupação de escritórios crescerá 25% este ano, calcula a consultora. Logística O take-up caiu em 2023 devido à escassez de oferta, indica a consultora. Após anos de ocupação logística recorde em 2021 e 2022, o ano transato verificou uma desaceleração de aproximadamente 20%, totalizando 316 mil metros quadrados. Este abrandamento foi motivado pela acentuada redução da oferta de novos espaços. Para 2024, tanto a conclusão de projetos como a absorção irão aumentar, atingindo níveis semelhantes aos de 2022, ao passo que as rendas irão registar novos aumentos, estima a CBRE. Um ano de desafios Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE Portugal, comenta que «2024 afigura-se um ano com bastantes desafios, nomeadamente no mercado de investimento onde enfrentamos a persistência de taxas de juros elevadas. Este fator impacta diretamente o setor imobiliário, mantendo as yields em patamares relativamente altos, o que, por sua vez, contribui para uma menor quantidade de transações de investimento, por haver um gap de preço entre compradores e vendedores. À semelhança do que se verificou em 2023, será um bom ano para determinados setores, nomeadamente o hoteleiro, segmentos alternativos e produtos relacionados com o setor de living».

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