Nos primeiros três meses do ano, o volume total de investimento em imobiliário comercial atingiu os 260 milhões de euros, valor que traduz uma ligeira quebra de 5% face ao período homólogo, segundo o mais recente estudo trimestral Market Pulse da consultora JLL. Todavia, este valor fica 6% acima da média verificada nos últimos três anos.
A consultora enfatiza que o mercado imobiliário português teve um desempenho idêntico ao do mesmo período de 2023 na generalidade dos setores, sendo que esta tendência observou-se quer no mercado de investimento comercial quer nos segmentos transacionais de habitação, hotelaria, retalho e logística. A exceção foi o setor de escritórios, onde a atividade cresceu consideravelmente face ao ano anterior. Os escritórios agregaram 37% do montante investido, seguidos do retalho, com 35%, e dos hotéis, com 24%.
Joana Fonseca, Head of Strategic Consultancy & Research da JLL, comenta que «já se esperava um início de ano com atividade moderada. Este é sempre um período de maior expetativa em relação à evolução da economia, especialmente devido à inflação e às subidas das taxas de juro. A realização das eleições contribuiu para aumentar a incerteza que naturalmente já predomina no arranque do ano, levando a que os agentes económicos se mostrassem mais cautelosos nas suas decisões de investimento».
Segmento de escritórios destaca-se dos restantes
O segmento de escritórios destaca-se dos restantes pela positiva, registando uma recuperação assinalável face ao ano anterior, com take-up a mais que duplicar quer em Lisboa quer no Porto, com 73.700 e 18.000 metros quadrados tomados, respetivamente.
No setor hoteleiro, o número de hóspedes e dormidas nos dois primeiros meses do ano apresentam ligeiras melhorias face a 2023 (5% e 3%, respetivamente), bem como os níveis de ocupação, que atingiram 60% em Lisboa e 53% no Porto no 1º trimestre, em ambos os casos mais dois pontos percentuais que no 1º trimestre de 2023.
Na habitação, a JLL estima que a procura neste trimestre seja ainda ligeiramente inferior à do trimestre homólogo, contudo, a tendência mais recente é de estabilização nos níveis de transação, destacando-se ainda uma boa dinâmica das vendas em planta para projetos diferenciados e também a manutenção de atividade entre os compradores internacionais.
No retalho, as vendas também sinalizam uma variação residual da ordem de 0,5%, destacando-se a estabilidade operacional dos diferentes formatos de imobiliário de retalho.
De assinalar ainda o comportamento do imobiliário industrial e logístico, no qual a ocupação apresenta uma quebra homóloga de 20%, embora em resultado da falta de oferta para absorver, já que as rendas continuaram a subir.
«A escassez de imóveis disponíveis e adequados aos requisitos da procura continua a influenciar o comportamento do mercado nos mais diversos segmentos. Por isso, apesar de um natural abrandamento da procura do último ano, não se assiste a ajustamentos em baixa de preços e rendas registando-se mesmo subidas de valor em alguns segmentos. Isso é especialmente visível na habitação, na logística e na hotelaria, enquanto setores como os escritórios e o retalho sustentam as suas rendas prime em níveis bastante robustos», acrescenta Joana Fonseca.
A responsável acrescenta que «chegados aqui, quer no âmbito do impacto das condições macroeconómicas quer no âmbito do impacto de envolvente política, conseguimos ter perspetivas mais sólidas para a atividade do mercado em termos de procura. Aguardamos agora com muita expetativa a materialização das novas propostas governamentais para a habitação, de forma a conseguirmos finalmente mobilizar o setor para criar oferta de habitação, fazê-lo com escala e diversificação de gamas de valor. Esta é a questão estrutural que continua a condicionar o nosso mercado e que temos de resolver».