Pela primeira vez desde o final de 2022, o terceiro trimestre deste ano trouxe aos promotores imobiliários um aumento simultâneo da procura e das vendas, conforme revelam os resultados do inquérito Portuguese Investment Property Survey (PIPS). Esta iniciativa da Confidencial Imobiliário e da APPII, realiza trimestralmente um levantamento junto dos principais promotores imobiliários.
No terceiro trimestre, o indicador de sentimento relativo às transações situou-se em +5 pontos percentuais, entrando em terreno positivo após sete semestres consecutivos de queda, durante os quais chegou a atingir -70 pontos percentuais. A recuperação da procura identificada pelos promotores reflete o forte desagravamento das condições macroeconómicas, com descida dos juros, abrandamento da inflação e a perspetiva de maior estabilidade fiscal e legislativa.
De acordo com o inquérito, este regresso da procura ao mercado tem efeitos também nos preços, predominando um sentimento (+35 pontos percentuais) de que a valorização se intensificará, quando no final de 2023, os promotores denotavam uma tendência de estabilização dos valores de transação (+3 pontos percentuais). Com a recuperação em ambos os indicadores, o Indicador de Sentimento atingiu os +20 pontos percentuais, o mais elevado desde o começo desse ciclo.
Num mercado que atualmente apresenta uma reativação da procura e uma aceleração dos preços, as expetativas para o futuro também melhoraram. O Indicador de Expectativas deste trimestre atingiu +36 pontos percentuais, o nível mais elevado dos últimos anos e um dos mais altos de toda a série do Portuguese Investment Property Survey. Este resultado reflete a confiança nas vendas e nos preços, semelhante ao período pós-pandemia, entre o final de 2021 e o início de 2022
A descida das taxas de juro, aliada à expectativa de novas reduções, tem impulsionado a procura por terrenos para novos desenvolvimentos, com 50% dos agentes a reportarem níveis elevados ou muito elevados de procura, um aumento em relação aos 41% do trimestre anterior. O foco dos novos projetos continua a ser a construção nova, que representa 80% do total.
Apenas 25% dos projetos são direcionados para a procura nacional
No entanto, apesar das perspetivas de maior atividade, a oferta ainda não se orienta significativamente para a procura nacional, uma vez que 75% dos projetos visam total ou parcialmente o mercado internacional. Apenas 25% estão especificamente direcionados para a procura nacional, mantendo-se em linha com o padrão dos últimos anos.
De alguma forma em linha com esse registo, a atividade de promoção para arrendamento (Build-to-Rent) mantém níveis muito baixos de atratividade, com o índice respetivo a posicionar-se em -26%, o mais baixo do último ano e meio, somente acima dos -52% registados aquando do anúncio do pacote Mais Habitação.
Um fator que poderá explicar a dificuldade na retoma da promoção mais acessível, dirigida para a procura doméstica ou para o arrendamento, poderá ser o aumento nos custos de construção. O indicador de sentimento em relação à evolução dos últimos doze meses subiu para +48 pontos percentuais, comparado a +27 pontos percentuais no mesmo período do ano passado.
Por sua vez, o indicador de expetativas para os próximos três meses atingiu +16 pontos percentuais, em contraste com +3 pontos percentuais no trimestre anterior, estabelecendo assim um novo recorde na série. No entanto, apesar das perspetivas de um agravamento futuro nos custos de construção, os principais obstáculos à atividade de promoção permanecem a burocracia e o licenciamento, o IVA na construção e os preços dos terrenos.