Casas do futuro vão ser híbridas, mais pequenas, digitais e comunitárias

Adaptadas aos tempos de mudança e às novas necessidades, as nossas casas do futuro deverão ser híbridas, densas, mais pequenas, biológicas, digitais, comunitárias, pedonais, e com usos mistos.Quem o diz é Francisco Rocha Antunes, Chairman do Urban Land Institute e presidente executivo da MOME, partilhando um pouco das tendências que antecipa para o mercado da habitação. O responsável falava esta quarta-feira durante a apresentação do NOS Smart Home, um novo produto de casas inteligentes lançado pela NOS para a promoção imobiliária.Explica que cada vez mais as habitações terão de servir várias funções, por isso serão híbridas e terão vários usos. Serão mais densas, seguindo a tendência de diversificação das cidades, porque «um prédio alto é muito mais sustentável, por incrível que pareça». E mais pequenas, porque as famílias portuguesas estão a ficar cada vez mais pequenas nos últimos anos, e os rendimentos baixos só dão acesso a áreas menores.Serão também biológicas, no sentido em que vão incorporar cada vez mais natureza, por dentro e por fora. E digitais, porque «tudo tem de ser medido». A tendência é a de caminhar para casas mais saudáveis, com melhor qualidade de vida, em comunidade.Habitação é o investimento mais resilienteHoje em dia, a nível europeu, a habitação é a classe de ativos de investimento com o rendimento mais resiliente, segundo Francisco Rocha Antunes. Tem vários modelos de negócio, desde as residências de estudantes, ao Senior Living, ao Build to Rent, Serviced Apartments ou arrendamento tradicional, e «capacidade de gerar rendimento acima dos outros mercados», como o retalho ou os escritórios.No ano passado, o mercado residencial foi a maior classe de ativos do mundo, representando 379,7 biliões de dólares. E só este mercado representa quase metade de toda a riqueza global. «De todos os setores, o residencial é o mais resiliente», e prova disso é que é este o segmento que mais interessa aos investidores institucionais, a par da logística, «e com tendência para aumentar substancialmente» nos próximos anos. É o que mostram as conclusões do relatório “Emerging Trends in Real Estate 2024” da ULI partilhadas por Francisco Rocha Antunes.Mas alerta: nos últimos anos, os preços das casas subiram 45% nas cidades europeias, enquanto que os salários subiram apenas 17%. «Acentuámos as desigualdades como nunca».A importância do propósito e da dupla materialidadeFrancisco Rocha Antunes partilhou um dos principais insights do relatório da ULI, que será ainda apresentado em Lisboa em dezembro: a necessidade de preparar o imobiliário para o seu propósito. Nomeadamente, para o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável, que será «crucial em todos os planos a curto, médio e longo prazo».Por outro lado, está uma grande mudança em curso, que traz o princípio da «dupla materialidade. Já não chega a legítima vontade de ganhar dinheiro, é preciso garantir um impacto positivo na comunidade. Isto é uma novidade importante, e os projetos que não estiverem alinhados com isto, não terão espaço por muitos anos».Quer isto dizer que os critérios de ESG (Environment, Social, Governance) não são apenas uma moda, «terão de estar no centro de tudo o que se faz, e temos de nos preparar para isso».Descarbonização não se faz sem o imobiliário. Estamos “na véspera de uma enorme transformação da indústria”Francisco Rocha Antunes enfatiza que a descarbonização da economia não se faz sem a transformação de um setor responsável por quase 40% das emissões. Mas admite que «não é nada fácil falar de descarbonização no imobiliário», depois de décadas em que se utilizaram os recursos naturais «como se fossem infinitos». E exemplifica que, hoje, todos os projetos ainda usam betão e aço, indústrias que têm uma enorme pegada ecológica, tanto ao nível da energia, como dos recursos naturais.Além do mais, a taxonomia europeia está para ficar, vem definir o que é efetivamente a descarbonização, e o Banco Central Europeu «aderiu e vai alinhar os objetivos do sistema financeiro».Na prática, nos próximos anos, «quando pedirmos financiamento à construção, temos de demonstrar que estamos alinhados com a taxonomia europeia». Entende por isso que «estamos na véspera de uma enorme transformação da indústria».Já as avaliações, terão de refletir o impacto da sustentabilidade (ou falta dela) nos imóveis. E quase 80% dos investidores imobiliários inquiridos para a elaboração do relatório da ULI consideram que as avaliações ainda não refletem estes impactos. No futuro próximo, o valor dos imóveis terá de incorporar o seu green premium, se for mais sustentável, ou o brown discount, se estiver abaixo dos standards exigidos.E o que é certo é que «em 2033 todas as habitações com classe energética a partir de E deixam legalmente de se poder transacionar como casas. Vamos ter de investir, e é uma má altura para isso», alerta Francisco Rocha Antunes.

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