Com o regresso gradual das empresas ao escritório e a crescente disputa por talento, a Cushman & Wakefield identifica uma mudança clara nas prioridades de ocupação. O estudo Return to the Core aponta para uma revalorização das localizações centrais nas principais cidades europeias, onde a proximidade a transportes, serviços e polos empresariais se torna decisiva. A localização volta a assumir o papel de trunfo estratégico e Lisboa surge entre os mercados mais ativos nesta reconfiguração.
Segundo Nigel Almond, Diretor Sénior da Cushman & Wakefield, “nos doze meses até junho de 2025, quase três quartos dos contratos de arrendamento nas principais cidades europeias ocorreram em áreas centrais, um aumento significativo face aos cerca de 60% registados antes da pandemia. Este crescimento acentuado demonstra como a localização se tornou um fator decisivo na estratégia dos ocupantes, mesmo num contexto de subida contínua das rendas prime”.
Os principais centros de negócios continuam a concentrar a procura por escritórios na Europa, com os arrendamentos em zonas centrais a crescerem 10% no último ano, face ao período homólogo, enquanto os arrendamentos fora do centro registaram uma quebra de 4%, segundo a Cushman & Wakefield. Doze cidades, uma das quais Lisboa, registaram um aumento da atividade de arrendamento em zonas centrais no período até ao segundo trimestre de 2025, face ao ano anterior.
A tendência tem levado à redução da taxa média de desocupação nos CBDs, que desceu para 7,1% no segundo trimestre de 2025. Lisboa acompanha o movimento, com as zonas mais centrais da cidade a registarem níveis mínimos de desocupação (4,5% e 3,8%, respetivamente), contrastando com os 12,9% das áreas periféricas. A diferença entre as taxas de desocupação nas zonas centrais e fora do centro alargou-se para 585 pontos base, o valor mais elevado desde o primeiro trimestre de 2016.
Em Lisboa, este desequilíbrio é particularmente visível no chamado Corredor Oeste, onde a taxa de desocupação se fixou nos 13,6%, traduzindo uma diferença superior a 900 pontos base face às zonas centrais. O aumento da atividade de arrendamento e a menor disponibilidade de espaços nas zonas centrais estão a impulsionar um crescimento mais acelerado das rendas prime.
No final do segundo trimestre de 2025, as rendas prime em localizações centrais registavam um crescimento médio anual de 3,7%, face a 2,3% nas zonas periféricas. Nos últimos três anos, as rendas nas áreas centrais aumentaram 13,2%, quase o dobro do crescimento observado fora do centro (7%).
Os investidores seguem o movimento dos ocupantes, concentrando-se cada vez mais em ativos localizados nas zonas core. As yields prime nestas áreas estabilizaram em 2024 e começaram a mostrar ligeira compressão, descendo de 5,3% para 5,2% até ao segundo trimestre de 2025. Fora dos centros, as yields subiram para 6,8%, refletindo menor procura. Como resultado, o valor dos ativos centrais aumentou 5% no último ano, ao contrário das localizações periféricas, que recuaram 0,2%.
Pedro Salema Garção, Partner e Diretor de Escritórios da Cushman & Wakefield em Portugal, refere que “olhando para o futuro, é expectável que a preferência por localizações centrais se mantenha como uma prioridade para os ocupantes. A facilidade de acesso, a oferta de serviços e a qualidade dos espaços de trabalho, que promovem ambientes flexíveis, colaborativos e estimulantes, continuam a ser fatores decisivos, especialmente num contexto em que as empresas procuram incentivar o regresso dos colaboradores ao escritório. Apesar da existência de espaços de qualidade fora do centro, as empresas tendem a valorizar mais a localização, reconhecendo o papel que os escritórios bem situados desempenham na promoção do trabalho híbrido e na intensificação da colaboração presencial”.