Escritórios podem esperar “alteração da ocupação e uso do espaço”

Escritórios podem esperar “alteração da ocupação e uso do espaço”

Partilhando a sua perspetiva sobre a crise que se instalou no setor e no mundo à VI, na rubrica “Conversas Diárias – Especial Covid-19”, o responsável afirma que, com o novo contexto, «rapidamente as empresas de serviços descobrem que, através do trabalho remoto, conseguem ter uma ocupação de espaço diferente sem alteração de produtividade. É algo a que teremos de estar atentos». A confirmar-se esta tendência, «teremos espaços de escritórios com muito mais amplitude. A oferta que existia, que já era escassa, poderá passar a ser mais adequada e permitir que as empresas façam realocação de espaços».

Por outro lado, também o coworking pode sofrer alterações: «a partir do momento em que os espaços começam a ser mais abundantes, muda o perfil da ocupação. É provável que esse modelo de negócio venha a sofrer. E as empresas podem pensar também em realocar-se», diz o especialista.

Em relação ao mercado de industrial e logística, o especialista nota que «os espaços alugados para prazos muito curtos podem deixar de fazer sentido. E as cadeias deverão querer ter os seus espaços de abastecimento mais perto, e pode haver uma tentativa de deslocalização de alguns desses espaços. Não sabemos até que ponto é que a política de stockagem de empresas se pode vir a alterar».

Alerta ainda que o setor imobiliário «tem de ter a perceção de que o valor dos imóveis depende muito das taxas de juro e do risco do país. A forma como for feita a ajuda da europa e os estímulos fiscais e monetários ao país pode alterar muito a perspetiva da taxa de juro. Podemos voltar a ser um país com boas oportunidades de investimento, se os preços caírem».

 

Transporte aéreo e medidas de segurança podem atrasar o turismo

Sendo o turismo uma das áreas mais afetadas pela crise da Covid-19 e também uma das que mais contribui para a economia, importa pensar como é que a atividade poderá ser retomada.

Jorge Marrão considera que é importante perceber «quando voltará a haver normalidade nos voos e na mobilidade das pessoas» e, posteriormente, «perceber as questões de higiene e segurança que serão exigidas pelos turistas», além do futuro dos seus rendimentos. Vão continuar a escolher países onde têm maior poder de compra, e «se a Europa crescer acima da média portuguesa não teremos problemas nisso, basta reativar as nossas infraestruturas. Mas a questão mais incerta tem a ver com o padrão de mobilidade do futuro».

 

Retoma «vai ser relativamente lenta»

De acordo com os especialistas auscultados pela Deloitte, «a retoma da economia vai ser relativamente lenta».

Se, até agora, «os países e as cidades competiam com eventos de high profile, com investimentos de grande dimensão e notoriedade, tudo o que implicar grandes aglomerações de pessoas vai ser um risco adicional» nos próximos tempos.

«Sabemos, em relação a outros eventos, que cerca de 6 meses depois as pessoas se esquecem do mesmo. E isso poderá não acontecer neste caso», antecipa Jorge Marrão.

Num cenário «relativamente médio» a nível de otimismo, o responsável acredita numa quebra no PIB em 2020 na ordem dos dois dígitos. Mas alerta que «neste momento é difícil fazer projeções. Tudo depende do que os Governos vão ser capazes de fazer para, por um lado, eliminar a decisão do confinamento, e para injetar liquidez na economia, para as empresas e para as famílias, a partir daí poderemos avaliar a situação. As medidas lançadas não estão ainda operacionalizadas, e temos de ter um pouco de paciência».