A arquitetura é uma disciplina que está sempre a adaptar-se à realidade e às novas exigências e, hoje, as variáveis em cima da mesa são muitas. E a arquitetura tem de se reinventar para dar resposta. Às exigências dos projetos é preciso acrescentar as preocupações económicas, sociais e ambientais; as variações de preços dos materiais, a inflação e as taxas de juro que continuam a impactar o mercado imobiliário, a crise económica à escala global e a instabilidade política causada pela guerra na Ucrânia. Arrancamos 2023 com uma certeza: a de estarmos preparados para nos adaptar e inovar.Entre as novas exigências do mercado estão: a necessidade de construções mais eficientes, o uso de novas tecnologias para criar edifícios mais seguros, a criação de espaços flexíveis e multifuncionais e a procura por edifícios mais inteligentes e adaptáveis às mudanças climáticas. A pandemia também mudou a maneira como as pessoas vivem os espaços, o que conduz a novas abordagens para o design de edifícios públicos, de saúde e de escritórios.Isto significa que os arquitetos precisam de estar atualizados em relação às tendências e tecnologias emergentes e também estar abertos a colaborações com outras disciplinas, como engenharia, design de interiores e paisagismo, branding e multimédia para oferecer soluções integradas e mais completas aos clientes.Mas os novos desafios devem ser enquadrados num cenário complexo e incerto. Não é possível ignorar a crise, por um lado, mas por outro Portugal parece continuar a afirmar-se junto dos estrangeiros como investimento de retorno garantido e essa é uma oportunidade para o mercado imobiliário e, claro, para a arquitetura.No que toca à nossa atividade planeamos crescer em diferentes vertentes; a corporativa é uma delas. Os edifícios de escritórios vão continuar a multiplicar-se em 2023: está comprovado que o trabalho remoto não matou os escritórios e as empresas estão a investir em espaços que, por um lado, são personalizados e criam sentimento de pertença e, por outro, que se adaptam ao modelo de trabalho híbrido. Espaços que promovem a interação entre colaboradores e que combinam a dose certa de informalidade com a porção adequada de presença de marca.Por outro lado, setores como o da hotelaria prometem manter o investimento, como resposta a uma nova explosão do turismo – afinal, em 2022, as receitas do turismo em Portugal mais do que duplicaram em relação ao ano anterior e até superaram 2019, segundo o INE – e o setor residencial apesar de enfrentar todos os conhecidos constrangimentos não apresenta sinais de abrandamento muito por força do investimento estrangeiro.A unir projetos corporativos, industriais, de saúde, hotelaria ou residenciais surge uma grande tendência: a sustentabilidade. Por força do contexto atual que vivemos os critérios ESG vão assumir-se como fundamentais. Afinal, o setor da construção é responsável por quase 50% das emissões globais anuais de CO2 e as operações de construção em concreto representam 27% dessas emissões (dados da International Energy Agency IEA). A arquitetura, que está na retaguarda de todo o processo, promete encontrar novas soluções para a estrutura dos edifícios de forma a reduzir a pegada carbónica e o consumo energético e a dar novas respostas para a própria escolha dos materiais: a arquitetura biobased está em ascensão com a meta de erguer construções baseadas em plantas e substâncias orgânicas.Se no início de 2020 nos pedissem previsões para o ano teríamos adiantado muita coisa – mas nenhum cenário incluiria uma pandemia à escala global com um dramático impacto em todas as frentes dos setores económico e social. Foi um ano que nos forçou a ser cautelosos e um ensinamento para o futuro. Dito isto: temos tudo para olhar para 2023 com alguma prudência, mas com igual dose de otimismo.