Build to rent: investir para melhorar a qualidade da habitação

Há precisamente um ano, o estudo European Multifamily Housing Report, divulgado pela CBRE, revelava que 31% das famílias viviam em casas arrendadas, um crescimento de 5% face à década anterior, o que deixa claro que a aposta no arrendamento continuará a crescer. Neste segmento, destacam-se os projetos Build to Rent, ou seja, de construção com o propósito de arrendamento, que cada vez despertam mais interesse pela sua viabilidade e pelo impacto positivo que podem ter nas cidades e no mercado.O mesmo estudo da CBRE mostra-nos que o Build to Rent (BTR) está no radar dos investidores e deverá verificar-se um crescimento expressivo nos próximos anos, sobretudo em países como Portugal, Bélgica, Itália, Espanha ou Luxemburgo, onde esta aposta está ainda numa fase embrionária, mas também em países da Europa Central e do Norte, onde este mercado já atingiu uma fase de maturidade, como a Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Países Baixos, Suécia e Suíça. A título de exemplo, só na Alemanha e nos Países Baixos, a MVGM gere, sozinha, aproximadamente 100 mil casas.Apesar dos entraves e ameaças ao desenvolvimento deste mercado, tais como o elevado preço dos terrenos, a lentidão nos processos de licenciamento, a elevada carga fiscal e a volatilidade da legislação referente ao arrendamento, e que em alguns casos carecem da intervenção do Estado, a verdade é que continuamos no radar de investidores internacionais das mais variadas origens, sendo na maioria europeus, mas também asiáticos e norte-americanos. Além do mercado de arrendamento atual ser vantajoso para este tipo de investimentos, soma-se a atratividade de Portugal para os expatriados — somos frequentemente apontados como um dos melhores destinos do mundo para os acolher, o que demonstra que o nosso país continua a reunir ótimas condições para fazer crescer este mercado nos próximos anos.Atualmente, estão em desenvolvimento em Portugal 12 projetos destinados a Built to Rent, concentrados em Lisboa e Porto, o que poderá significar a entrada de mais 3.200 unidades residenciais no mercado de arrendamento nos próximos anos, um número positivo, mas ainda muito aquém da procura, sobretudo porque devemos ter em linha de conta que alguns dos projetos inicialmente pensados para o BTR, migram mais tarde para o mercado de compra e venda.Em Portugal, a grande maioria das casas disponíveis para arrendamento são casas usadas e antigas, sendo o nosso mercado fortemente marcado pela idade e pela falta de qualidade de grande parte dos imóveis. E também por isso, os investimentos em Build to Rent surgem, cada vez mais, como uma excelente oportunidade de aumentar a oferta no mercado e, simultaneamente, renovar e melhorar substancialmente a qualidade do parque habitacional. Esta oportunidade é tanto maior e mais relevante, quanto o setor público desejar e decidir apostar na habitação acessível, algo que já se tem observado em muitos dos municípios do país. Para o sucesso destes programas contribuirá ainda, de forma decisiva, o envolvimento de investidores privados.Tal como em muitas outras cidades europeias, a nossa oferta ainda não dá resposta à procura existente, sendo esse um dos principais motivos para que seja possível prever que a pressão sobre os preços do arrendamento não vá diminuir. Embora tenhamos já alguns bons indicadores, a verdade é que as nossas cidades precisam de mais casas. Urge a definição de uma estratégia nacional concertada para o problema da habitação e, nesse sentido, será fundamental conseguir alcançar uma maior sintonia entre os interesses dos investidores privados e os objetivos das instituições públicas que tutelam este segmento do setor, de maneira a que todos possamos ganhar, sobretudo as cidades e os seus habitantes.

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