O I Fórum do Imobiliário estreou-se esta quarta-feira, dia 4 de Maio, no espaço GALLERIA do NorteShopping no Porto. Este novo espaço (GALLERIA) representa um investimento de 8 milhões de euros, com um posicionamento premium e uma oferta distintiva, assinalando a conclusão do projeto de expansão do NorteShopping, iniciado em 2017 e que envolveu um investimento global de 77 milhões de euros.A conferência contou com um painel de discussão composto por Carlos Ferreirinha, Presidente da MCF Consultoria, Hélder Ribeiro, Vice-Presidente da Farfetch, e Pedro Miguel Costa, Diretor Geral da Loja das Meias. Este momento de diálogo centrou-se na evolução da oferta do retalho e de projetos ligados às marcas de luxo.Sancha Trindade, moderadora da mesa-redonda de debate, deu início à discussão questionando os intervenientes sobre quais foram as maiores aprendizagens face aos últimos dois anos, considerados atípicos.Para Carlos Ferreirinha a principal mudança deu-se na esfera social, porquanto as famílias viram-se obrigadas a estar mais tempo nas suas habitações. No seu entender esta condição confluiu numa “postergação do eu”, traduzida num crescimento das possibilidades individuais.Por seu turno, Pedro Miguel Costa defende que as crises permitem explorar oportunidades e ainda que os dois últimos anos tenham sido anos de maiores preocupações, na sua opinião «a maior crise é a concorrência que existe, e com essa lidamos diariamente». Para dar resposta a este desafio a Loja das Meias está numa fase constante de se “reinventar”, condição que o Diretor Geral considera imprescindível para o segmento do pronto-a-vestir.Hélder Ribeiro afirma que o período em causa contribuiu sobretudo para validar a estratégia da Farfetch, empresa que nasceu com o intuito de impulsionar as vendas do retalho de luxo. Hélder Ribeiro recorda que as empresas que estavam a passar por maiores dificuldades eram as que não estavam “digitalizadas”, e face ao encerramento do comércio de rua e dos centros comerciais os serviços de venda online voltaram a demonstrar a sua relevância.Qual o maior desafio para o futuro das lojas de luxo?Carlos Ferreirinha identifica a componente do aumento de custos como a que mais cuidado exigirá no curto prazo. O Presidente da MCF Consultoria acredita que o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia vai ter muito maior impacto na economia do que o que se observou nos últimos dois anos, o que irá levantar a necessidade de novos modelos de gestão para responder a um cenário inflacionário.Carlos Ferreirinha sublinha também que «há que ter em consideração que uma grande parte dos futuros consumidores pertence a uma geração formatada pelo contexto online», o que no seu entender obrigará as marcas a apostarem em novas capacidades, tais como a velocidade – «já não chega ser interessante e contemporâneo, as marcas vão ter de ser mais ágeis e adaptar-se a um novo ritmo».Hélder Ribeiro vai mais longe e refere que existem novas realidades das quais ainda pouco conhecemos, e que também elas podem condicionar a evolução das marcas de retalho de luxo. Em concreto, Hélder Ribeiro mencionou o conceito de “Metaverso” e explicou que se as pessoas viverem cada vez mais sob o modelo online irão criar expectativas de ter um estilo de vida diferente, ou seja, «a preocupação assenta no facto de que o digital pode já nem corresponder ao físico».Partilhando da mesma opinião, Carlos Ferreirinha acrescenta que existe quase uma necessidade de “expressão através de um personagem”. Esta possível evolução não passa despercebida e já existem exemplos de marcas que lançaram novas iniciativas para procurar entrar neste tipo de “realidade paralela”. A título de exemplo ilustrou-se o caso da parceria criada entre a Dior (marca de nicho) e a Nike (marca de massas) para a venda de um modelo de sapatilhas, caso de sucesso que contou com uma fila online de mais de 5 milhões de pessoas, dispostas a comprar um produto com preço base superior a 8 mil euros.«Luxo é um conceito simples. Está presente quando a emoção ultrapassa a razão»Pedro Miguel Costa encara a evolução do comércio online de forma distinta, e relembra que as marcas de luxo trabalham com estímulos, estudados, com recurso à disciplina da psicologia, para introduzir necessidades nas pessoas. E é justamente na relação com a emoção que o Diretor Geral da Loja das Meias destaca a singularidade do retalho presencial, nas suas palavras «o online ainda tem um grande percurso a percorrer para se aproximar das sensações e da experiência que o comércio presencial consegue transmitir».A opinião do painel de discussão foi unânime na perspetiva em que o comércio online não deve representar concorrência para o comércio físico. Pelo contrário, o comércio online não deve ser apenas uma réplica do presencial, deve existir um sentimento de complementaridade, o que por sua vez pode valorizar o comércio físico, dado que ir à loja deixa de ser uma obrigação e passa a ser um desejo.A expectativa é então que o retalho de luxo mantenha a sua expressão, e são já várias as marcas internacionais que consolidam o seu estatuto através de investimentos avultados em novas lojas nos centros históricos das cidades europeias, como é exemplo a inauguração feita pela Dior da boutique XXL na rua Saint-Honoré em Paris.O I Fórum do Imobiliário teve ainda lugar para questões da audiência, composta maioritariamente por investidores e gestores de centros comerciais e retalho, as quais incidiram nos desafios que se podem antever para o setor e também na questão do pagamento de rendas e da recuperação das mesmas para os investidores.No que concerne aos desafios o Vice-Presidente da Farfetch aponta para a necessidade de reinvenção do comércio tradicional sob pena das lojas físicas se transformarem em simples centros de distribuição, com funções principais de armazenamento de produto.Sobre o último tópico Carlos Ferreirinha acredita que a recuperação é possível, mas que a mesma está dependente da alteração da metodologia seguida na definição dos preços de ocupação. «A administração dos centros comerciais não deve continuar a ser comparável à de um condomínio residencial, mudando-se a abordagem a recuperação para os investidores torna-se mais concretizável», conclui o Presidente da MCF Consultoria.