O ex-Presidente da Comissão Europeia e ex-Primeiro Ministro de Portugal foi o convidado do Almoço Imobiliário Solidário de Reis, que decorreu esta quinta-feira, dia 7 de janeiro, sob o mote “O futuro pós-pandemia – o Papel da Europa”. O valor de inscrição desta iniciativa de beneficência reverteu para a ASSOCIAÇÃO ACREDITAR, associando-se à mesma a APPII, APFIPP e ALP, numa organização conjunta Vida Imobiliária e Confidencial Imobiliário.José Manuel Durão Barroso acredita que o plano de vacinação será, assim, crucial para as economias, mas isso «não impede o ativismo orçamental e monetário, para evitar que a crise se transforme numa depressão profunda. Como há boas notícias nesse domínio, se conseguirmos controlar a fase mais aguda da epidemia, pode ser que tenhamos uma recuperação em "V" (não perfeito) mais rápida que aquela que tivemos depois de 2008», prevê.O responsável considera que «a resposta da União Europeia foi, até agora, robusta, porque beneficiou muito com a experiência adquirida na crise anterior. Alguns tabus já tinham sido quebrados, e isso facilitou uma resposta mais ambiciosa», dando o exemplo dos planos de ajustamento dos países, da união bancária e da recente mutualização da dívida europeia, «um grande passo de progressão na integração europeia». Acredita que «a UE está a responder bem no que lhe compete, mas muito falta fazer. As medidas têm de ser levadas a cabo a nível nacional, mas estamos basicamente no bom caminho».Desglobalização, diversificação, digitalização e descarbonizaçãoDurão Barroso não arrisca a fazer previsões concretas para os mercados nos próximos tempos, mas identifica algumas tendências centrais, entre as quais a diversificação e a “desglobalização”: «perante o movimento que existia decorrente da globalização, que serviu para o progresso global, surgiram reações como os movimentos nacionalistas, de que foi expressão o voto do Brexit, e os casos do Brasil, dos EUA, da Turquia. A pandemia provocou uma reação ainda maior». E destaca «a relocalização de cadeias de valor na Europa» em consequência disso, salientando também «o “decoupling” na área tecnológica entre os EUA e a China», e avisa que «a Europa vai ter de escolher. Nessa nova competição digital, os EUA não querem ser ultrapassados pela China, e o caso da Huawei é exemplo dessa tendência de fundo».Na área digital, prevê um «aumento da globalização dos intangíveis», numa altura em que «a pandemia acelerou as transações financeiras online, o ecommerce, a comunicação online, uma tendência espetacular que tende ainda a intensificar-se, que se associa ao novo modo de trabalho». E deixa o aviso: «no setor financeiro, ponderamos se o imobiliário deve continuar tão exposto nas áreas como os escritórios ou o retalho. Provavelmente o investimento nesses setores vai cair». Numa altura em que podemos trabalhar a partir de casa, «parece-me que não vamos ter no futuro previsível o mesmo tipo de investimento que tínhamos, mas sim uma grande procura por data centers ou grandes centros logísticos».Por fim, e não menos importante, mencionou a descarbonização, que classifica como «irreversível» e «uma ideia que veio para ficar, nomeadamente no imobiliário. É algo estrutural, que tem também importância no aspeto financeiro, algo muito importante hoje em dia para muitos fundos de investimento internacionais».Hugo Santos Ferreira, Vice-Presidente Executivo da APPII, lembrou a importância dos novos programas europeus, como o Green Deal ou o Next Generation para o setor imobiliário, programas «que também dão apoios financeiros para a descarbonização, e que devem ser acompanhados», na perspetiva de Durão Barroso.Em todos estes aspetos, acredita que «a Europa está bem posicionada. Antes da crise, já tinha definido a transição verde e digital nas novas perspetivas financeiras», e que o projeto europeu é hoje «mais adulto». Para se defender, «temos de ser mais duros», nomeadamente ao nível da revisão de novas políticas de comércio, concorrência, regulação, privacidade de dados ou ciber-segurança. «Em conjunto, a EU continua a ser um dos maiores blocos do mundo. Somos o primeiro parceiro dos EUA, da Rússia, da China», completa.Instabilidade fiscal: “A pior coisa que pode haver”Durão Barroso considera que, quando se fala de investimento, «a pior coisa que pode haver é instabilidade fiscal». Está convencido de que «mais vale ter um regime fiscal que não é bom que tentar todos os anos ter um ótimo».Respondia a uma questão colocada por Luís Menezes Leitão, Presidente da ALP, que se admite «mais pessimista» quanto aos próximos tempos, nomeadamente «porque o ritmo de vacinação continua a ser lentíssimo», e porque «receio que a pandemia esteja a deixar danos de tal forma permanentes no mercado imobiliário que torne impossível uma recuperação em “V”», alertando para as incertezas em torno do tráfego aéreo e da legislação: «temos novas leis todas as semanas».Questionado por Filipa Arantes Pedroso, Sócia Sénior da ML, sobre a possível harmonização fiscal na Europa, o responsável exclui esta opção. «Mesmo nos EUA há concorrência entre os estados, e quem faz as leis na Europa são os Governos. Não é realista pensar nisso no futuro previsível».Durão Barroso acredita que «que desde que a epidemia esteja controlada, com alguma liberdade para viajar e reunir, voltará o crescimento do tráfego aéreo, e a recuperação do turismo. Mas obviamente que vai demorar a cicatrização destas feridas».Respondendo a Manuel Puerta da Costa, Membro do Conselho Diretivo da APFIPP, que questionou sobre a pouca competitividade da Europa na poupança e gestão de ativos financeiros, Durão Barroso afirmou que «o maior destino de investimento do mundo é a UE, continua a ser. Temos todas as condições para manter essa posição. Europa precisa de um mercado de capitais verdadeiramente dinâmico». E avança: «penso que a Europa vai desenvolver o seu próprio mercado de serviços financeiros, as estrelas estão alinhadas nesse sentido, nomeadamente na Alemanha e na França».Apoio para a casa da associação ACREDITAR no PortoAs receitas angariadas nesta iniciativa solidária reverteram para a casa de apoio da associação no Porto, «aberta a todas as crianças internadas no IPO do Porto e no Hospital de São João de forma gratuita», explicou Margarida Cruz, da Associação ACREDITAR.Na ocasião, a responsável lembrou que «é com a sociedade civil e com esta ajuda que a ACREDITAR conta para fazer o trabalho que faz há mais de 26 anos em Portugal, apoiando as crianças com cancro e as suas famílias em todo o país», através de casas, apoio económico, jurídico, institucional, ou psicológico.Veja ou reveja o vídeo completo aqui.