IA pode “revolucionar a mediação imobiliária de várias maneiras”

Esta quinta-feira, o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, foi palco da 2ª Convenção APEMIP | IMOCIONATE, um evento que reuniu especialistas do setor imobiliário para discutir temas cruciais como a habitação, sustentabilidade, crescimento económico, tendências internacionais, políticas de financiamento, smart cities, ou a aplicação da Inteligência Artificial (IA) na mediação imobiliária. Na abertura do evento, Paulo Caiado, presidente da APEMIP, enfatizou a importância da tecnologia no futuro do setor. «É fundamental que tenhamos a capacidade de incorporar todas as soluções tecnológicas que não param de surgir, e zelarmos pelo denominador comum de todos os que aqui estamos: a saúde dos nossos negócios. Vai depender da capacidade corporativa do nosso setor». Fernando Baptista, presidente do IMPIC, também participou na abertura da convenção, sublinhando a relevância do evento. «Esta sala representa a excelência do programa e os temas em debate, que são cruciais para o nosso setor e a nossa economia. Entendemos que é de extrema importância a relação entre o regulador e as empresas e associações do setor» disse, frisando que a atividade da mediação imobiliária «funciona como um barómetro da economia. É a espinha dorsal do setor imobiliário, esta relação entre vendedores e compradores. É muito importante a formação e a profissionalização, e também a informação». Quanto à Inteligência Artificial, considera que esta «tem o potencial de revolucionar a mediação imobiliária de várias maneiras, desde a identificação das melhores oportunidades de investimento, automação de vários processos burocráticos, tornando o processo mais transparente. Que não seja apenas um serviço, mas que contribua para o bem-estar global», afirmou Fernando Baptista. Inteligência Artificial: o novo "copiloto" das empresas Daniel Perdigão, Creative Energiser Officer Partner & Co-founder da UpsideUP, abriu o debate sobre a tecnologia e Inteligência Artificial adaptada ao imobiliário, com uma visão focada na eficiência operacional. «Temos de perceber quais as áreas que cada mediador ou empresa perde mais tempo em vez de estar com o cliente. Queremos obter respostas adequadas e bem estruturadas, que permitam mesmo otimizar e ganhar tempo» afirmou. Destacou o potencial de ferramentas como o ChatGPT, mas também apontou a existência de diversas outras soluções tecnológicas disponíveis. Ricardo Reis da Silva, Real Estate Consulting Associate Partner da Deloitte, destacou o papel da IA na melhoria da experiência do cliente e na digitalização dos processos de comercialização imobiliária. «Pode ser particularmente útil na experiência do cliente, nomeadamente na pesquisa e compra de casa, na digitalização de todo este processo de comercialização. Pode também criar experiências imersivas nas visitas das casas, caminhar dentro de casa, configurar a casa, ver as alterações, etc.» explicou Reis da Silva. O responsável reforçou a ideia de que a tecnologia deve ser vista como um copiloto, proporcionando benefícios significativos em termos de rapidez e eficácia: «é sempre uma lógica de copiloto e não piloto. É um grande acelerador. Há benefícios para os profissionais do setor numa lógica de serem mais rápidos e eficazes». Por outro lado, Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário, recordou que a Confidencial Imobiliário «surgiu quando não havia nem internet, havia necessidade de dados». Explicou como a IA é utilizada na validação de informação e nos processos de codificação de dados, enfatizando a importância de compreender as necessidades dos operadores do mercado. «Usamos IA em várias dimensões, na forma como validamos a informação, nos processos de codificação para suporte ao tratamento de dados, mas o nosso foco é compreender as necessidades dos operadores. Temos uma componente de trabalho B2B; são os profissionais que melhor conhecem o mercado» afirmou. Ricardo Guimarães também destacou a necessidade contínua de profissionais qualificados no mercado, apesar das vantagens da IA. «Julgo que vai continuar a ser necessário um profissional no mercado que assegure o processo. A profissionalização é importante, pois um profissional consegue transformar os dados a seu favor». O responsável pela Confidencial Imobiliário referiu que «devíamos falar mais em competências artificiais» em detrimento de «inteligência artificial». Enfatizou ainda que a IA «tem várias desvantagens, mas na relação com o cliente, a aceleração de certos processos é importante. No entanto, o atendimento ao cliente é diferente. Se utilizar IA e dados, tenho de saber exatamente o que estou a fazer» “Temos hoje 250.000 brasileiros com propriedades imobiliárias em Portugal” A Convenção APEMIP | IMOCIONATE contou com vários painéis e intervenções de figuras proeminentes no setor imobiliário. João Teodoro, presidente do Sistema Cofeci- Creci (Brasil), destacou a forte presença brasileira no mercado imobiliário português. «Temos hoje 250.000 brasileiros com propriedades imobiliárias em Portugal. A movimentação financeira entre o Brasil e Portugal tem sido altamente satisfatória. Esta relação bilateral é bastante profícua, e temos oportunidade de fazê-las crescer muito mais» afirmou. Ao ser questionado sobre um possível arrefecimento da procura, João Teodoro foi categórico: «não, acho que esse interesse está a crescer ainda, depois das mudanças bruscas com as eleições brasileiras. Temos grande dimensão, o mercado brasileiro teve uma recuperação grande depois da pandemia e da crise. Hoje, Portugal tem deficiência de produção de habitação, mas acredito que o país pode superar esse problema». Patrícia Barão, Head of Residential da JLL, apresentou uma visão detalhada sobre o comportamento do mercado. «Temos sentido um arrefecimento que já vem desde final de 2022, menos unidades vendidas e menos volume transacionado. Mas em 2023, no mercado internacional, 8% de todas as transações feitas foram a clientes estrangeiros, mais 2% que no ano anterior, ou seja, aumentam os negócios com estrangeiros», observou. Investimento americano continua a crescer em Portugal A responsável destacou ainda as principais nacionalidades investidoras: «quando olhamos para as nacionalidades principais, temos ingleses, franceses; os brasileiros continuam a investir muito, e temos vindo a sentir um aumento exponencial no investimento dos norte-americanos no mercado residencial em Portugal. O nosso país já está no radar há muito tempo, e temos feito um trabalho muito consistente na sua notoriedade, o que é altamente atrativo para uma série de nacionalidades por motivações muito diferentes». Por outro lado, Anthony Domathoti, Real Estate Broker - Owner da EXIT Realty Premium (EUA), mencionou que «há alguma instabilidade política e fiscal nos EUA. A procura está a aumentar em Portugal, e os anos de 2024, 2025 e 2026 deverão ser muito positivos. Os próximos 18 meses poderão ser decisivos neste investimento» previu. «A recuperação económica sólida depois da pandemia tem sido muito atrativa para os EUA. Portugal apresenta-se de uma forma muito positiva para os americanos. O que o dólar pode comprar em Portugal, e respetivos retornos, são muito mais altos que nos EUA», sublinhou. Casa Yes conta com mais de 150.000 imóveis e 1.300 empresas presentes O presidente da APEMIP apresentou na ocasião o portal Casa Yes, uma plataforma inovadora que reúne imóveis para compra, venda ou arrendamento das agências e agentes imobiliários. «Um projeto importante para a APEMIP e para o setor. nunca tivemos uma cultura de valorização dos dados que produzimos, e temos de fazê-lo com investimento e esforço». Atualmente, a plataforma já conta com uma vasta oferta com mais de 150.000 imóveis e 1.300 empresas presentes. O responsável pela associação explicou que a dimensão e o sucesso do projeto foram possíveis graças a um compromisso firmado com três grandes redes imobiliárias. «Este projeto foi possível, e tem esta dimensão, graças a um entendimento e compromisso obtido entre a C21, a Remax e a Zome, que assumiram o compromisso de ter os seus imóveis, nos próximos três anos, primeiramente nesta plataforma por um prazo de 5 dias. Fez com que outras empresas se sentissem importantes a empenhar-se neste projeto», afirmou. Quanto ao rigor e à qualidade da informação disponibilizada, Paulo Caiado destacou o papel crucial da plataforma. «No que diz respeito ao domínio profissional, todos nós contratamos serviços profissionais para várias áreas. Mas, no Casa Yes, primamos pelo rigor da informação. Temos várias obrigações legais que recaem sobre a mediação imobiliária, damos aos cidadãos a possibilidade de aceder a uma plataforma que garante rigor», disse. Além da importância da precisão dos dados, destacou a dimensão empresarial do Casa Yes. «É uma plataforma com dimensão empresarial relevante, com acionistas da atividade imobiliária, representatividade transversal ao setor. O nosso objetivo é que sejamos capazes de ter uma plataforma reconhecida pelo rigor da informação que passamos, e que nos permita valorizar a informação que produzimos». APEMIP passa a integrar agentes imobiliários Durante a convenção, Paulo Caiado destacou também uma das mais recentes novidades da APEMIP que, depois da última Assembleia Geral, «é capaz de acolher os agentes imobiliários que queiram juntar-se à associação, em condições especialmente diferenciadas». Na base desta alteração, «está o facto de termos total consciência de que aquilo que nos caracteriza é o que nos une. Os agentes são maioritariamente prestadores de serviços a agências imobiliárias, por isso há muito mais aspetos que nos unem do que aqueles que nos poderiam separar». «Todos nós estamos agora a operar num setor de atividade onde prestamos serviços na transação de imóveis. Têm um valor muito relevante para a generalidade das pessoas, e daí recai sobre nós uma enorme responsabilidade», conclui.

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