Sustentabilidade tem papel de valorização do imobiliário

O financiamento verde e a efetiva implementação da eficiência energética são o desafio atual do setor imobiliário português. Com maior ou menor rapidez, o setor está a preparar-se para as maiores exigências europeias, e os primeiros passos estão a ser dados, até porque um dos objetivos da taxonomia europeia é reorientar o financiamento da banca. Certo é que o imobiliário que não for sustentável não terá o mesmo valor. A sustentabilidade esteve em destaque na conferência “O caminho para o imobiliário sustentável”, organizada pela APPII e pela Greenlab. Como referiu o Presidente da APPII, Hugo Santos Ferreira, «estamos num caminho que é longo mas é certo, e a APPII quer fazer parte dele». Num dos debates desta conferência, moderado por António Gil Machado, ficou patente que a banca vai começar a beneficiar os projetos imobiliários que forem mais sustentáveis, nomeadamente no decorrer da aplicação da taxonomia europeia, que avalia e classifica as atividades das empresas com base em vários critérios de sustentabilidade. Luís Vaz Pereira, do Millennium bcp, admite que «há diferenciação entre os projetos nos quais queremos ou não estar presentes no que toca ao perfil de risco, temos sempre de verificar se os projetos cumprem os critérios de sustentabilidade», e prevê que «num futuro próximo, para ter acesso a determinado financiamento, será preciso apresentar um pré-certificado das certificações ambientais», como LEED ou BREEAM. Já João Folque Patrício, do BPI, assume «um enorme desafio para as empresas e para a banca», e que a descriminação positiva dos projetos mais sustentáveis já acontece no crédito à habitação. Em breve, o mesmo acontecerá com a construção, até porque «as grandes empresas já apanharam esse comboio, o capital e o investimento disciplinam isso. É um caminho que temos de fazer em estreita articulação, são temas que precisam de ser mais simples, numa transição que é crítica e urgente para todos». Para António Fontes, do Santander, «estamos muito no início». O banco já tem de discriminar a sua estratégia de ESG nos seus relatórios de sustentabilidade, e avança que «no início do ano teremos um novo produto relacionado com garantias que possam estar associadas ao BEI ou ao FEI, que poderão fazer uma discriminação positiva pelo facto de precisarem de menos capital». Adolfo Mesquita Nunes, advogado da Gama Glória, recorda que «o objetivo da taxonomia é assumidamente usar o sistema financeiro para orientar o financiamento», mas admite que «estamos muito no começo», e considera que os critérios da taxonomia europeia deveriam ser «densificados e medidos» por parte do setor imobiliário, para conseguir «uma grelha que os projetos possam cumprir», numa altura em que «o investimento em edifícios inteligentes é o mais inteligente a fazer».Concordando com a discriminação positiva ou negativa, João Folque Patrício alerta que «a médio prazo será uma questão de acesso ao financiamento, porque qualquer entidade bancária será penalizada por financiar projetos “Brown”». Acredita que os fundos europeus disponíveis devem ser aproveitados «para ajudar nesta transição». Habitação mais acessível e mais verde? Resta saber como é que a classe média, grupo que tem mais dificuldades em encontrar oferta compatível, vai acomodar o custo adicional das exigências de sustentabilidade, ou da discriminação negativa das habitações mais velhas, que terão financiamentos mais dispendiosos.António Fontes acredita que «o caminho passará por redesenhar os projetos, com árias mais pequenas e maior qualidade». Considerando que a população geral não está suficientemente sensibilizada para estes aspetos, defende que «compete-nos a todos nós evoluir um pouco para sermos mais exigentes». Para Adolfo Mesquita Nunes, «o Estado e as políticas públicas terão de acomodar as exigências de sustentabilidade tendo em conta que temos de ter preços mais baixos», tendo em vista que «a sustentabilidade é a valorização do ativo. Tem de ser claro que uma casa F ou E não será puramente transacionável dentro de pouco tempo. Esta perceção do valor do investimento tem de ser feita», conclui.

CONTEÚDO EXCLUSIVO PARA ASSINANTES