Sustentabilidade depende da colaboração e do capital humano

As inovações tecnológicas que vão surgindo são fundamentais para acelerar a transição energética e a descarbonização da economia (e dos edifícios), rumo às (exigentes) metas europeias. Mas a colaboração e o compromisso de todos os envolvidos são a chave para que as metas sejam efetivamente cumpridas. Esta foi uma das principais conclusões das Jornadas de Sustentabilidade, evento organizado pela APFM – Associação Portuguesa de Facility Management esta quarta-feira, em Lisboa.Numa manhã dedicada à sustentabilidade nos edifícios, várias empresas apresentaram casos práticos e debateram a forma como estão a fazer este caminho. Os oradores destacaram algumas daquelas que prometem ser as principais inovações tecnológicas com especial impacto na descarbonização dos edifícios nos próximos anos, como a “sensorização” e algoritmos de gestão dos edifícios, a produção de energia local, a utilização do BIM ou a inteligência artificial e soluções de armazenamento de energia.Seja como for, «a tecnologia terá sempre um papel extremamente importante no futuro, mas depois desse investimento, é preciso investir no capital humano. Não conseguimos fazer nada se não formos capazes de envolver as pessoas, só assim conseguiremos ter bons resultados», afirmou Ana Taveira, da Tarkett.A colaboração é essencial. «A sustentabilidade não pode ir para a frente sem a colaboração entre a indústria, aproveitando todas as oportunidades de automatização, para que haja realmente circularidade da economia», acredita India Oliveira, da Startcampus. A Cleanwatts também se «apoia muito na colaboração», nomeadamente com a academia. E identifica que «há uma grande oportunidade de desenvolvimento de políticas públicas, ao nível das autarquias e das cidades». As comunidades energéticas em particular «podem ser um vetor para o desenvolvimento do espírito de comunidade no território», diz Maria Benquerença.E, «se estas colaborações vierem de cima, de instituições variadas, do Governo, têm ainda mais capacidade de influenciar toda a cadeia de valor. Se as soluções acrescentarem valor ao mercado, haverá mais procura e acesso facilitado às soluções», apontou Margarida Soares, da Nextbitt.Um grande impulsionador de todas estas mudanças podem ser as leis. Bernardo Silva, da Haworth, salientou que «a legislação pode mudar tudo. O setor público consegue acelerar a adoção de medidas necessária, e o privado segue essas mudanças. Por seu lado, o privado consegue trazer outras perspetivas para o mercado, nomeadamente do ponto de vista do utilizador».Startcampus trabalha “num modelo holístico de sustentabilidade”A especialista em centros de dados Startcampus quer desenvolver a sua atividade garantindo um impacto positivo e desenvolvimento sustentável, seguindo «um modelo holístico de sustentabilidade, contabilizando a pegada de carbono ao longo da cadeia de abastecimento, garantindo oportunidades para a economia circular, melhorando a estratégia de adaptação e atenuação, e com relatórios de conformidade, tendo sempre em vista a mitigação das alterações climáticas», explica India Oliveira. Tudo envolvendo sempre a comunidade, e procurando sinergias nos vários projetos em desenvolvimento.O planeamento da construção dos centros de dados é exemplo disso. No caso do projeto de Sines, «com a revisão dos processos, conseguimos reduzir as emissões em 16%, nomeadamente com o uso de materiais locais. Nos próximos anos, vamos continuar a desafiar a nossa cadeia de abastecimento».Comunidades energéticas: mais energia limpa, mais comunidadeAs comunidades energéticas estão a ganhar força, e são apontadas como uma das soluções para a transição energética, numa altura em que «estamos a eletrificar cada vez mais, mas, por outro lado, queremos reduzir consumos. As comunidades de energia tentam ajudar, gerindo a energia onde é mais consumida, aliviando a rede e necessidades de investimento. Na Cleanwatts olhamos para a eletricidade antes e depois do contador», explicou Maria Benquerença.Entre as vantagens estão, não só a redução das emissões associadas a esta energia consumida, mas também o apoio à comunidade local, que pode aceder a energia verde mais barata. Permite também um aumento da competitividade das empresas, sem necessidades de financiamento inicial.A Cleanwatts deu o exemplo do trabalho que está a desenvolver com a Luna Hotels, que tem 12 unidades em todo o país, e que já garante 89% do seu autoconsumo. Fazer parte de uma comunidade energética é particularmente relevante para os hotéis, segundo a responsável, pela sua pouca área de cobertura disponível, que normalmente não é suficiente para garantir todo o consumo necessário. Produções vizinhas podem colmatar essa lacuna.Gestão eficiente do património é essencial à sustentabilidadeNa sua apresentação, Margarida Soares, da Nextbitt, salientou a importância do levantamento e boa gestão do património das organizações, na qual as ferramentas da empresa podem ajudar. Acredita que «a Green Digital Transition nunca será possível sem uma gestão eficiente e sustentável do património das organizações, e sabemos que as infraestruturas são responsáveis por 73% dos consumos energéticos das empresas. É preciso repensar o seu desempenho».A abordagem e monitorização integrada digital proposta pela Nextbitt tem como vantagens «a otimização de processos e recursos, a conformidade legal, credibilidade junto dos investidores e da banca». Mas esta transição só é possível «se todas as empresas derem este passo, é um compromisso global. Requer inovar na implementação de processos, adotar as ferramentas certas, assumir as mudanças necessárias».Equipamentos dos edifícios também podem ser mais sustentáveisA construção dos edifícios pode ser mais sustentável, os consumos energéticos podem ser reduzidos, e também os equipamentos podem ser devidamente reciclados ou reutilizados. É este o objetivo da Tarkett, empresa fabricante de pavimentos de vinil, laminados, madeira, entre outros, que tem hoje 34 unidades industriais e 8 centros de reciclagem por todo o mundo.A empresa já lançou o seu primeiro sistema de reciclagem de vinil em 1957, na Suécia, mas está agora a implementar o seu programa ReStart, com vista a garantir a economia circular dos seus produtos, reciclando tanto pavimentos em final de vida como desperdícios de instalação, porque «não chega fabricar, precisamos de pensar no que fazer no final de vida do produto».O programa foi lançado em 2012, e Ana Taveira reconhece que «as coisas levam muito tempo a fazer». Em Portugal, o sistema de recolha para reciclagem começou a ser implementado há cerca de 6 anos «com muito insucesso» e pouca adesão. Mas hoje, 15% das matérias-primas já são provenientes de materiais reciclados, e até 2030 esta percentagem deverá passar para 30%. Ana Taveira garante que a solução é o investimento e envolvimento das pessoas: «só conseguimos fazer as coisas se estivermos juntos, sem dúvida nenhuma».Também com vista a economia circular, a Haworth está a implementar o seu projeto Second Life, que propõe dar nova vida a equipamento de escritório, nomeadamente cadeiras ou secretárias, seguindo o impulso da nova legislação europeia de países como a França ou Países Baixos, que definem percentagem mínima de reutilização de produtos.O projeto tem serviços de Buy Back, Second Life ou recondicionamento, nesta fase apenas de cadeiras de escritório, mas deverá ser estendido a outras linhas de produto da Haworth. Com este projeto, «queremos prolongar o tempo de vida útil dos produtos, ajudando os clientes a atingir os seus objetivos de sustentabilidade».

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