Atualmente, a procura estudantil internacional está praticamente suspensa e, com o aumento do teletrabalho, a população jovem ativa vê menos motivos para viver no centro das cidades. É cada vez mais evidente que a equação da escolha da habitação está a mudar. É o que destaca a Bloomberg num artigo recente dedicado a este tema.
Tim Lawless, Head of Research da empresa de dados CoreLogic Inc., acredita que é tempo de negociar as rendas em baixa, numa altura em que «a procura é alta e a ocupação desceu abruptamente».
Se as rendas podem vir a descer nos centros das cidades, o mesmo pode não ser verdade nos subúrbios. Muitos profissionais que não têm perspetiva de voltar a trabalhar diariamente num escritório procuram morar mais longe, conseguindo mais espaço e jardins. Segundo a mesma fonte, os preços começam a subir nestas zonas, apesar da recessão mundial que se aproxima.
Nova Iorque é exemplo disto. A zona de Westchester County, a norte da cidade, regista hoje um aumento do preço das casas de 16% face a igual período do ano passado. Mas em Manhattan os apartamentos nunca estiveram tão baratos desde 2013. Os imóveis em oferta triplicaram e a renda média desceu 11% (ainda mais no caso dos estúdios /T0).
Também em São Francisco, uma das cidades do mundo com mais dificuldades no acesso à habitação, muitas empresas tecnológicas esperam manter o teletrabalho durante todo o próximo ano ou mesmo de forma permanente. A renda média para um T0 já desceu 31% em setembro face a igual mês do ano passado.
Em Londres, o peso dos estudantes é muito evidente. Além da pandemia, a cidade enfrenta também os efeitos do Brexit. Nas zonas premium da cidade, as rendas já desceram 8,1% entre janeiro e setembro, a maior descida em mais de 10 anos, segundo a Knight Frank. Esta é mesmo a única região do Reino Unido onde a procura por arrendamento está a descer.
Também em Lisboa as rendas já desceram 11% no terceiro trimestre deste ano, face a igual período do ano passado. O Índice de Rendas Residenciais da Ci mostra que esta é a descida mais acentuada desde que o índice acompanha o mercado, desde 2010. Também na comparação trimestral se registou uma descida de 3,9%, a terceira em cadeia desde o início do ano, acompanhando a pandemia.
Resta saber se estas descidas se vão refletir na acessibilidade à habitação nestas cidades, pois tudo depende do que acontecerá com o emprego nos próximos meses, e como a crise afetará o rendimento disponível das famílias, além das mudanças que o mercado estudantil internacional vai ou não registar.
O futuro destas cidades é ainda uma incógnita, mas Cristian A. Nyaard, investigador em economia social na Swinburne University of Technology, lembra que «a história diz-nos que as cidades conseguem ser surpreendentemente resilientes», e que «a Covid-19 não evapora todo o investimento que foi feito nos centros das nossas cidades».