Os promotores imobiliários arrancam o ano menos otimistas quanto ao futuro do mercado da habitação, e temem que as vendas abrandem, mostra o inquérito Portuguese Investment Property Survey, realizado pela Confidencial Imobiliário em associação com a APPII.
O inquérito de janeiro mostra que, entre as principais dificuldades relacionadas com o lançamento de nova oferta de habitação, estão os atrasos nos processos de licenciamento e a burocracia, por um lado, e o aumento dos custos de construção, por outro. Paralelamente, os indicadores da procura e os preços das casas continuam a evoluir positivamente.
Ricardo Guimarães, diretor da Ci, comenta em comunicado que «o sentimento geral do mercado continua a ser positivo, mas há, de facto, uma visão menos otimista em relação ao futuro, influenciada pelas dificuldades que se fazem sentir no lançamento de nova oferta. O desequilíbrio entre a oferta e a procura está claramente identificado como um dos fatores de subida dos preços, mas, mais do que isso, é algo que começa a preocupar quem atua neste mercado, por poder afetar o ritmo da atividade».
Apesar das dificuldades reportadas, não se regista uma diminuição na procura por novos terrenos, que mantém a sua rota de crescimento observada desde o segundo semestre de 2020, com 61% dos inquiridos a dar nota de estar à procura de terrenos para desenvolver novos projetos.
Notam-se diferenças no perfil da oferta, com os projetos de reabilitação urbana a perder cada vez mais quota, e a construção nova a ganhar destaque. A Ci recorda que no início de 2020 a construção nova representava 62% das intenções de investimento, indicador que passou para 81% no final de 2021.
Isto reflete uma alteração «particularmente importante da procura», com uma grande descida dos projetos dirigidos apenas ao público internacional. No início de 2020, 43% dos inquiridos posicionava os seus projetos apenas para compradores internacionais, quota que não representa mais de 8% no final de 2021.
No entanto, esta mudança não se refletiu no modelo de ocupação previsto, com os promotores a continuar a preferir vender em detrimento do arrendamento. Apenas 41% dos promotores considerava o segmento build-to-rent atrativo no último trimestre de 2021, o resultado mais baixo da série, e longe dos 73% do início do ano passado.
Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII, afirma que «há que resolver de uma vez por todas, o caos dos licenciamentos urbanísticos, que se agudizam nas câmaras municipais. Este deve ser um desígnio nacional e não apenas de motivação camarária, já que, por causa da morosidade e complexidade destes procedimentos, os portugueses não estão a poder comprar a sua casa de sonho, primeiro porque tardam a chegar ao mercado e depois porque ficam mais caras».
O responsável dá um exemplo de Lisboa, onde se pode pagar em média «mais 1.500 a 2.000 euros/m2 na sua casa. Ou seja, em vez de a poderem comprar de forma acessível a 2.000 euros/m2, só por causa dos 3 e 4 anos que pode tardar um licenciamento nesse município, os lisboetas compram a sua casa a 4.000 euros/m2. É por isso que o tema do licenciamento não é uma questão corporativa, ou autárquica, é nacional: inviabiliza os portugueses de terem acesso a um direito fundamental, que é ter habitação», conclui.