Portugal tem "enorme potencial" para data centers de hiperescala

Portugal tem "enorme potencial" para data centers de hiperescala
Fotografia de vecstock, Freepik.

Portugal está a emergir como um ponto estratégico no panorama global dos data centers, com fortes perspetivas de se afirmar como um dos principais destinos para a instalação de data centres de hiperescala. Quem o diz é a JLL, no seu mais recente estudo que concentra informação relevante sobre o mercado de data centers em Portugal.

Este é o maior tipo de data center, projetados para suportar operações tecnológicas de larga escala, oferecendo soluções para armazenamento de big data e computação em nuvem, essenciais para plataformas de redes sociais e motores de busca.

Maria da Cunha e Menezes, Head of Project & Development Services and Sustainability da JLL, comenta que «temos vários centros de dados instalados em Portugal, num cenário que é dominado pelas instalações detidas e operadas pelas próprias empresas para dar suporte às suas atividades, num formato naturalmente de capacidade limitada. Contudo, existem neste momento vários projetos em desenvolvimento com capacidade que vão desde 20 MW a algumas centenas de MW. Esta evolução sinaliza uma mudança substancial na escala e capacidade dos centros de dados no nosso país».

A responsável acrescenta que «temos condições excelentes a nível de localização, geografia, clima, produção de energia verde, disponibilidade de terrenos e competitividade de custos, além de infraestruturas de conectividade, para captar muito mais investimento nesta área e afirmarmos no mapa global enquanto destino de instalação dos data centers de hiperescala, ou seja, aqueles que agregam capacidades de entre 150MW a 200MW».

O estudo da JLL identifica Portugal como um mercado ainda emergente, considerando o pipeline de centros de dados atualmente em desenvolvimento, e carateriza o enorme potencial do país para se afirmar como um dos mercados secundários, à medida que cada vez mais projetos de hiperescala escolham a região para se instalar. Portugal tem atualmente oito projetos conhecidos de centros de dados em desenvolvimento, dos quais a maioria se situa no distrito de Lisboa. Os distritos de Setúbal, Porto e Braga recebem o restante pipeline.

Entre os projetos de relevo incluem-se o Sines Start Campus, no distrito de Setúbal, e atualmente em construção. Deverá ser o maior projeto de hiperescala do país, ambicionando uma capacidade máxima de 495 MW, 100% alimentada por energia verde.

No distrito de Lisboa, destaque para o Lisbon Data Centre by Atlas Edge, em Carnaxide, cuja primeira pedra foi lançada em abril e pretende alcançar uma capacidade de 20 MW, inteiramente alimentada por energia renovável e sem desperdício de água. No mesmo distrito, o Data Centre da Merlin Properties em Vila Franca de Xira, está já licenciado para uma capacidade planeada de 24 MW, com possibilidade para expandir a 100 MW, sendo o maior projeto deste investidor na Ibéria.

De acordo com o estudo da consultora, atualmente, o mercado de data centers em Portugal é essencialmente composto por instalações desenvolvidas à medida pelas próprias empresas para acolher as suas necessidades individuais. Existem atualmente mais de 30 centros de dados que se distinguem quer pelas suas operações de maior escala, quer pelo foco na prestação de serviços a clientes.

Maioria destes centros situa-se na capital portuguesa

A maioria destes centros (37%) localiza-se em Lisboa, devido à sua forte insfraestrutura de conetividade. O centro da Covilhã, detido pela Altice, é atualmente a maior instalação em operação do seu tipo, possuindo capacidade para armazenar 50.000 servidores numa área de 75.500 metros quadrados.

Segundo o estudo, adicionalmente ao pipeline em curso, Portugal tem condições para escalar o desenvolvimento de data centers, desde logo devido à maior disponibilidade e custo competitivo de terrenos e imóveis para reconversão. Outra caraterística diferenciadora do país é a sua geo-localização estratégica, numa posição que permite ser um ponto de contacto e porta para a Europa, África, América do Sul e América do Norte.

Em termos de condições geográficas e climáticas, o país é visto como muito atrativo, considerando o baixo risco de cheias e furacões, a sua longa faixa costeira e o facto de ter regiões de frente marítima frescas, as quais são condições muito valorizadas nesta indústria, onde as instalações necessitam de fortes sistemas de arrefecimento.

Outra questão, também relacionada com o posicionamento geográfico, é a infraestrutura a nível de conetividade. Devido à sua localização, Portugal é um ponto de passagem ou destino final de diversos cabos submarinos intercontinentais, muitos dos quais situados em Lisboa (Carcavelos) e Setúbal (Sesimbra). Este tipo de cabos gere 95% do tráfego global de internet atualmente e funciona como uma autoestrada para a informação digital, sendo Portugal um dos pontos de passagem de vários destas infraestruturas, incluindo o maior sistema de cabos submarinos na atualidade, o 2Africa, que terá uma extensão de 45.000 km, ligando 33 países na África, Ásia e Europa.

O estudo evidencia ainda um outro fator competitivo de Portugal no mercado de data centers, nomeadamente a produção de energia verde. Em 2023, 61% do consumo elétrico em Portugal era gerado por fontes energéticas renováveis, posicionando o país como um produtor robusto de energia verde, um recurso determinante para quem procura instalar centros de dados.

«Entre outros fatores, como o potencial de expansão e disponibilidade de terrenos, a proximidade dos centros de dados aos locais de passagem ou chegada dos cabos submarinos é crucial, pois reduz a latência e aumenta a velocidade de transmissão de dados. Pela sua configuração e geo-posição, Portugal é um destino importante para este tipo de infraestruturas e está a solidificar-se como um hub internacional de conetividade. Em termos energéticos, temos a vantagem de estar a direcionar-nos para dar resposta à procura de energia 100% renovável, a qual permite reduzir e estabilizar os custos além de melhorar a sustentabilidade. Estes são atualmente requisitos essenciais e Portugal reúne condições de exceção nestas áreas», nota Caetano de Bragança, Head of Consulting da JLL.