Após meses de interrupção da cadeia de abastecimento, as empresas europeias procuram na região de EMEA uma alternativa à produção e abastecimento na Ucrânia e na Ásia, concluiu o relatório “Supply Chain Disruptions”, promovido pela JLL, assinalando que há indícios de que Portugal poderá tornar-se o hub do “reshoring” da Europa.
De acordo com o estudo, há empresas que operam nos setores do retalho e manufaturas, que já decidiram realocar parte ou totalidade da sua produção: os novos beneficiários europeus do “reshoring” são a Europa Central e a Roménia, à medida que as fronteiras europeias da Turquia e Marrocos estão também no radar, indicam os dados internos da JLL.
A consultora refere que a pandemia provocou «uma quebra nas redes de distribuição e um grave estrangulamento nos portos e aeroportos, pelo que as empresas começaram a optar pelo “reshoring” como tentativa de solução para fazer face às interrupções nas cadeias de abastecimento».
Mariana Rosa, Head of Leasing Markets Advisory da JLL, refere que «naturalmente, dois anos de uma pandemia global, seguidos do conflito Rússia-Ucrânia, têm consequências. Com toda a interrupção de abastecimento que estas duas situações causaram, as empresas perceberam que precisam de diversificar a produção para manter bons níveis de stock nos mercados europeus. Além disso, este estudo mostra que o cenário atual continua a ser de perturbações na cadeia de abastecimento e que esta é uma tendência que se manterá»,
A escassez de terrenos e de mão-de-obra contribuirão para o aumento da procura na Europa Central, do mercado primário até ao secundário e terciário, sublinha a JLL, e que mais de 60% das empresas americanas e europeias estão a planear alocar parte da sua produção de volta ao seu país de origem.
Marlene Tavares, Head of Retail & Logistics Investment da JLL, frisa que «a discussão sobre o nearshoring (quando as operações são movidas para um país próximo ao de origem, por oposição ao offshoring) não é recente. O aumento dos salários em localizações de produção de baixo custo e o crescente risco devido às alterações climáticas, greves e acidentes, como o bloqueio do Canal do Suez, alimentaram o debate sobre esta questão na última década. Contudo, uma relação custo/risco mais favorável e o facto de se terem perdido muitas infraestruturas de produção na Europa, continuaram a garantir ao continente asiático a vantagem para a localização dos grandes hubs de distribuição e produção de uma vasta gama de produtos. Este cenário está agora a mudar, devido à recente conjuntura e também pelos novos hábitos de consumo. Neste contexto Portugal apresenta vantagens competitivas, ligadas ao seu posicionamento geográfico e demografia muito aliciantes que nos colocam numa posição de destaque na estratégia europeia de nearshoring».
De facto, segundo as responsáveis, as alterações nas estratégias das empresas em termos de relocalização dos seus hubs de produção e distribuição para mais perto do consumidor europeu, podem beneficiar o mercado português, pelo seu posicionamento geográfico estratégico na ligação entre o continente europeu e o continente americano. Conforme o estudo, o imobiliário deste segmento poderá ser alvo de um forte aumento de procura para ocupação e investimento.