Portugal acelera venda de crédito malparado após 2 anos de quebra

Portugal acelera venda de crédito malparado após 2 anos de quebra

A venda de carteiras de crédito malparado em Portugal vai aumentar este ano, invertendo dois anos de quebra nas transações, de acordo com o estudo ibérico “Investing in NPL in Iberia” da Prime Yield.

Nos primeiros 10 meses do ano, terão sido vendidos transacionados 5,3 mil milhões de euros em Non-Performing Loans (NPL) no país, um volume impactado pela operação sem precedentes de 4,2 mil milhões de euros referente ao Projeto Cascais, a qual envolveu a compra de um servicer e das respetivas carteiras de NPL.

Contudo, mesmo excluindo o efeito desta operação de dimensão atípica, a atividade até outubro atingiu 1,1 mil milhões de euros, apenas 20% abaixo do total de 2023, e estão identificados no pipeline mais 2,3 mil milhões de euros de transações em curso. Se concluídas estas operações até final do ano, além do Projeto Cascais, o mercado terá transacionado outros 3,4 mil milhões de euros, mais que duplicando o volume de 1,4 mil milhões de euros registado em 2023.

Depois da travagem a fundo nas vendas de NPL devido à pandemia – com a atividade a cair de patamares da ordem dos 7,0-8,0 mil milhões de euros em 2018 e 2019 para cerca e 1,0 milhões de euros em 2020 -, as transações reativaram em 2021 para cerca de 3,5 mil milhões de euros, mas há já dois anos que perdiam tração. Em 2022, as vendas terão atingido 1,7 mil milhões de euros, cerca de metade do ano precedente, e em 2023 voltaram a cair cerca de 18% para 1,4 mil milhões de euros

Francisco Virgolino, Managing Director da Prime Yield, explica que «entre 2019 e 2024, passámos de €21,3 mil milhões de crédito malparado no sistema financeiro nacional para 5,1 mil milhões. Naturalmente que o universo de carteiras a chegar ao mercado pela mão da Banca neste período foi reduzindo e isso travou a atividade transacional. Contudo, o mercado também se tornou mais maduro e surgem outros tipos de operação. Numa tendência que é europeia, repensam-se modelos de negócio e estratégias para se adaptar a mercados de menor escala e em mudança, a fim de ganhar eficiência. Nomeadamente, observam-se mais negócios corporativos entre servicers e investidores e um acréscimo de transações no mercado secundário. Portugal não foge à regra. Os bancos continuam a colocar carteiras para venda no mercado, mas o grande impulso deste ano deve-se às transações no mercado secundário, bem como a acordos de venda de servicers, como são os exemplos da venda da Algebra Capital e da Do Value e respetivas carteiras».

Portugal contabiliza 5,1 mil milhões de euros de crédito em incumprimento no seu sistema financeiro, conforme os dados relativos ao 2ºtrimestre de 2024(*), reduzindo €1,2 mil milhões face ao 2º trimestre do ano passado (-19% vs 6,3 mil milhões de euros). O país foi uma das exceções à generalidade da Europa, mantendo a trajetória de redução dos últimos anos.

Em Portugal, as empresas contabilizam 2,8 mil milhões de euros de crédito em incumprimento, o equivalente a 55% do total. Deste montante, 1,1 mil milhões de euros, dizem respeito a empréstimos garantidos por imobiliário empresarial. Os particulares contabilizam 2,1 mil milhões de euros em crédito faltoso (41% do total), do qual cerca de metade é alocado ao crédito à habitação, no valor de 1,1 mil milhões de euros.