Portugal é o segundo país mais atrativo para instalar indústrias numa lógica de nearshoring, de acordo com o estudo da Savills "Impacts 2022". De acordo com Pedro Figueiras, Associate Director de Industrial e Logística da Savills, «Portugal tem feito um caminho muito relevante nas diferentes vertentes ESG, o que a par com outros parâmetros levam a sermos neste momento uma das melhores alternativas para deslocalizar investimentos na indústria».
Por via da pandemia, tensões geopolíticas e a crescente importância da sustentabilidade, cada vez mais as empresas procuram bons critérios de Sustentabilidade, o que está a pressionar os fabricantes para melhorar seu desempenho ESG.
Uma das tendências é então o nearshoring, o aumento da produção para locais mais próximos dos locais de consumo, que assume agora uma importância acrescida em detrimento da produção offshoring, onde os custos de mão de obra e os critérios ESG são mais baixos.
A pandemia evidenciou que é possível que uma cadeia de abastecimento complexa e dispersa seja interrompida, e, segundo o FMI, a invasão russa da Ucrânia é capaz de «alterar fundamentalmente a ordem económica e geopolítica» a longo prazo.
Pedro Figueiras destacou que «o segmento de Logística já estava a assistir a um forte crescimento de investimento. Também na área da indústria há um interesse cada vez maior, tendência que esperamos que se mantenha, o que serão excelentes notícias para o nosso país».
Segundo o estudo, «podemos estar próximos ponto de inflexão, onde as megatendências globais estão a alterar os incentivos a favor do nearshoring». A título de exemplo, uma combinação de salários crescentes na China e avanços tecnológicos está, cada vez mais, a negar a realidade do offshoring, sendo que os custos de trabalho aumentaram cerca de 250% desde a sua adesão à OMC.
O que também está a reduzir a participação do trabalho na produção são tecnlogias da quarta revolução industrial, como a robótica e a IoT.
Pressão política e sustentabilidade
A política, segundo o estudo, é outro dos fatores que está a moldar as decisões de localização das empresas, especialmente as que estão afetas ao setor de tecnologia. Os governos estão cada vez mais dispostos a utilizar a política industrial para incentivar a produção nacional, sendo que as economias desenvolvidas, cada vez mais, se centram em questões de ESG: «a deslocalização prejudicou o ambiente: em grande parte, transferiu a produção para economias com padrões ambientais mais fracos, menor eficiência energética e maior consumo de combustíveis fósseis», refere o estudo.
A PWC desenvolveu um estudo em 2018 que refere que cerca de 80% dos investidores consideravam as políticas ESG importantes na tomada de decisão de investimento e 50% estavam dispostos a mudar de empresa caso esta não tomasse medidas suficientes neste sentido.
A produção offshoring de baixo custo demonstraram um desempenho negativo entre as normas ambientais e de proteção do trabalho, revela o Savills Nearshoring Index.
Pontos positivos e negativos do modelo de nearshoring
O modelo de nearshoring alteraria os mercados mais atraentes, «as aproximações favorecem economias estáveis, enquanto que os países de baixa renda com políticas de proteção ambiental e de RH pobres, perdem terreno», como revela o estudo.
A OCDE, através de simulações, destacou que o PIB global cairia 5% num cenário localizado, onde os mercados estariam menos conectados através de cadeias de abastecimento globais: assim como refere a Savills no seu estudo, «uma estratégia de nearshoring aumentará a despesa contínua, devido ao custo mais elevado do trabalho em mercados desenvolvidos e da manutenção do inventário nesses mesmos mercados».