«Mercados ibéricos são exemplo para a indústria de NPL»

As palavras são de Hugo Velez, o diretor-geral da Hipoges Ibéria, a servicer que nasceu há doze anos, em plena crise financeira, para se tornar uma referência no mercado de gestão de ativos de dívida em Portugal e Espanha.Após o «boom» de malparado que afluiu aos balanços dos bancos ibéricos no rescaldo da crise financeira de 2008, o diretor-geral da Hipoges Ibéria considera que hoje «ambos os países são um exemplo para a indústria de NPL Distressed pela forma como têm realizado o seu processo de deleverage. São dois mercados que construíram uma capacidade de servicing bastante respeitável, a evolução destas empresas é uma realidade e a evolução verificada pelos bancos e seus respetivos consultores permitiu que os processos de venda sejam transparentes e eficazes e, com isso, ambos os mercados sejam bastante competitivos e dinâmicos».A seu ver, «creio que ambos os mercados têm evoluído de forma bastante semelhante, sendo que em Portugal estará em média “two years behind” do que vai ocorrendo em Espanha que, sendo uma economia mais forte, tem níveis consideráveis de liquidez, mas, em contrapartida, tem um sistema judicial muito mais lento e burocráticos», comenta Hugo Velez. Por isso, diz ainda, «os Portugueses têm que estar muito satisfeitos com a evolução e eficiência do processo judicial em Portugal e correspondente tecnologia».Embora o «o processo de redução de NPL em ambos o país tem sido feito muito em base de vendas de carteiras de crédito por parte dos bancos, em processos transparentes e competitivos, a grande diferença é que «Espanha adotou um modelo misto, com a criação de um Bad Bank e que, creio, que tem cumprido o seu objetivo, e isso poderia ser algo a ser considerado pelo Governo Português e pelo Banco de Portugal», advoga.Apesar de todos estes progressos e do balanço ser, em geral positivo, a verdade é que aquando da chegada do COVID-19, o legado do malparado da última crise estava longe de estar totalmente saneado na Ibéria. «Os stocks de NPL mantêm-se ainda em níveis não desejados, sendo que Portugal está numa situação pior que Espanha», reconhece Hugo Velez, embora realçando que «o processo de redução dos respetivos stocks tem sido um sucesso».Maturidade do setor vai estender-se pelo menos por mais dois anosFace a isto e perante as projeções que antecipam que o final do regime das moratórias «COVID-19» possa resultar numa nova enchente malparado, o sistema financeiro enfrentará desafios acrescidos nos próximos meses, o que poderá marcar uma nova etapa no mercado de NPL a nível europeu.«Falando especificamente dos mercados de Portugal e Espanha, não temos quaisquer dúvidas que são dois países muito bem preparados para enfrentar um novo processo de deleverage, pelos argumentos referidos anteriormente. A realidade é que o feito da COVID-19 e respetiva crise económica, inevitavelmente já está a incrementar os rácios de NPL, e continuará a fazê-lo», reconhece Hugo Velez, adiantando que «esta realidade fará com que a maturidade de ambos os mercados se estenda por um mínimo de mais dois anos», prevê.Já em relação às oportunidades que possam surgir no mercado imobiliário em 2021, «creio que ainda é difícil e arriscado termos uma visão firma sobre o próximo ano, respetivamente na classe de ativos REO», admite. No seu entender, «o facto de o plano de vacinação anti-COVID ser uma realidade em ambos o país irá certamente incrementar os níveis de confiança na economia, o que nos faz estar mais positivos para uma recuperação mais rápida. E, caso o mercado de financiamento se mantenha em níveis razoáveis certamente será um mercado bastante ativo e líquido em termos de imobiliário e, mais especificamente, nos REO».«Queremos ser parte da solução»Confiante no futuro, Hugo Velez acredita que este cenário «não condicionará a estratégia de crescimento e consolidação da Hipoges» para 2021, embora reconheça que «certamente que manter os níveis de performance nos ativos dos nossos clientes será um desafio maior e muito mais pendente de como a economia no geral e o mercado imobiliário em específico irá evoluir nos diferentes países».Assim sendo, «temos a ambição e expectativa de, por um lado, recuperarmos parte da performance afetada durante o ano de 2020 por alguma desaceleração económica, pois é fundamental para os interesses dos nossos clientes. Por outro lado, o incremento dos stocks de NPLs e REOs é uma realidade e queremos ser parte da solução e como tal participar na grande maioria das transações expectáveis durante o ano de 2021», revela o diretor-geral da Hipoges, reconhecendo que «estamos muito positivos».De 2020, «foca o registo de um ano extremamente desafiante e complicado, mas também o sentimento incrível da capacidade de adaptação dos nossos profissionais a esta nova realidade social e económica», comenta o responsável. «Poderá parecer estranho ou arrogante, mas a realidade é que a Hipoges manteve o seu plano estratégico e de negócio definido para 2020 e não deixou de crescer em negócio…por isso mesmo, temos um orgulho forte de não termos optado por decisões difíceis como lay-offs ou medidas mais extremas e inclusive houve um investimento em mais capital humano e também tecnológico».Mais de 20.000 milhões em ativos sob gestãoCom um percurso de crescimento «constante, mas sólido» desde a sua criação em 2008, hoje em dia a Hipoges Ibéria tem presença em Espanha, Portugal e Grécia, contando com 750 colaboradores e seis escritórios operacionais. Trabalhando para mais de 30 clientes diferentes, incluindo banca de retalho e de investimento, fundos de crédito e hedge funds, atualmente a Hipoges tem sob gestão cerca de 21.000 milhões de euros correspondentes a mais de 80 portfólios e mais de 100.000 ativos. «Esta carteira é composta maioritariamente por NPLs colaterizados por imobiliário e no segmento de SME e Resi Mortgage», esclarece Hugo Velez. «A maioria dos ativos está sedeada na Península Ibérica, dos quais 60% em Portugal e 40% em Espanha», diz ainda.Atuando «em toda a classe de ativos de dívida”, a Hipoges Ibéria tem no mercado de NPL (Non Performing Loans) e REO (Real Estate Owned) o seu core business. No entanto, «os nossos serviços não se limitam a estes ativos e serviços, pois temos uma área de atuação ao nível da consultoria muito focada na avaliação de carteiras, incluindo avaliações imobiliárias, due diligence e corporate services (gestão contabilística de veículos de investimento)», atuando ainda no mercado de titularização de créditos, detendo para o efeito uma Sociedade Titularizadora de Créditos (STC) regulada pela CMVM, um «veículo utilizado por diferentes investidores de NPLs no mercado nacional e europeu», esclarece Hugo Velez.

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