Reforçando a sua aposta crescente em Portugal, nos próximos quatro anos, a belga Krest Real Estate Investments deverá investir um total de 150 a 200 milhões de euros, que se somam ao seu portfólio atual de 350 milhões de euros.
Em entrevista à Vida Imobiliária, Claude Kandiyoti, CEO da promotora imobiliária, afirma que a empresa pretende «criar projetos sustentáveis para o mercado português, seguindo o trio “Environment, Social and Governance”. Queremos criar uma nova forma de viver».
Portugal está inclusive a tornar-se no principal mercado da Krest, que já está a fazer um “downsizing” da sua operação na Bélgica, um mercado mais maduro e com menos oportunidades que o português. O responsável considera que este é um mercado «quente», mas ainda em crescimento, e que «tem muitas oportunidades». Mostra-se confiante relativamente à pandemia, mas alerta que «precisamos de processos de licenciamento muito mais rápidos para responder ao problema da falta de habitação e escritórios que temos atualmente», salienta.
Entre os mais recentes projetos da Krest estão o Jardim Miraflores, um complexo habitacional de 120 apartamentos e três edifícios, dois dos quais já em construção, com mais de 80% das unidades vendidas em fase de pré-venda, maioritariamente a portugueses.
Claude Kandiyoti destaca que este é «um projeto muito sustentável, com muitos terraços», o que originou «muitos mais pedidos de informação durante o confinamento do que numa situação normal». Assegura que o projeto «está a funcionar bem, em linha com os nossos objetivos».
Por outro lado, o novo hotel Moxy, no Parque das Nações, em Lisboa, já foi concluído, e deverá abrir portas em junho. O hotel vai inserir-se num complexo imobiliário misto, que inclui também a torre de escritórios K Tower, cuja construção arrancou há duas semanas.
Resultado de um investimento de 55 milhões de euros, o complexo deverá ser totalmente concluído em abril de 2023. Além dos escritórios e do hotel, vai incluir espaços verdes e públicos, ou uma componente de street art. O objetivo «é que as pessoas vivam tanto no exterior como no interior dos edifícios. Inicialmente os jardins eram mais decorativos, mas isso mudou com a pandemia», explica o responsável.
Mais a sul, no Algarve, está em construção o projeto de lazer Lakes 24, em Vilamoura, que terá um conjunto de 25 apartamentos junto à marina, 70% dos quais já vendidos. Representa um investimento de 10 milhões de euros.
Por outro lado, junto à praia do Forte Novo, em Quarteira, está em processo de licenciamento o Horizon, um projeto de 52 milhões de euros que terá 129 apartamentos junto à praia. Kandiyoti destaca que este «é um projeto muito sustentável e pouco densificado. Será NZEB (Near Zero Energy Building) e estamos a ter muitos pedidos, maioritariamente por parte de portugueses, e ainda não começámos as vendas. Contamos receber o licenciamento dentro de alguns meses».
Novo projeto misto de 20 milhões de euros em Campanhã
É no Porto que está uma das mais recentes novidades do grupo. Ainda sem nome, o projeto pensado para a zona de Campanhã é assinado por Eduardo Souto Moura e vai custar um total de 20 milhões de euros.
O empreendimento terá cerca de 4.000 metros quadrados de escritórios, 7.500 metros quadrados de habitação, 3.000 de hotel (“short/medium stay”), incluindo restauração.
Também este projeto deverá seguir o conceito “live, work, play”. Será um projeto «100% sustentável, também NZEB. Acreditamos muito nesta zona da cidade e na necessidade de criação de habitação acessível», afirma Kandiyoti.
O pedido de licenciamento deverá ser submetido à Câmara Municipal do Porto dentro de alguns meses. «Prevemos começar a construção dentro de um ano e meio. Queremos bons projetos, mais do que projetos rápidos, que respondam às necessidades do mercado», explica.
Nos planos, está também um «grande projeto» misto deste género, de habitação e escritórios, para a zona da Grande Lisboa, a desenvolver nos próximos 5 a 6 anos, mas o responsável diz que ainda é cedo para revelar mais pormenores ao mercado.
Habitação acessível é possível sem os programas públicos
Claude Kandiyoti não deixa de destacar a necessidade de habitação para o segmento médio em Portugal, e acredita que é possível criar esta oferta, mesmo sem aderir aos programas existentes, sejam do Governo ou das autarquias. «Podemos criar essa oferta, nomeadamente através da redução da área dos apartamentos, e trabalhando no custo da construção, mantendo a qualidade».
Considera que «os programas de habitação acessível disponíveis não são atrativos para o nosso business model, apesar de serem distintos. Nas áreas onde estamos interessados em investir, no Porto por exemplo, já existem benefícios fiscais semelhantes aos prometidos pelos programas municipais por se situar em ARU, por exemplo. Só pagamos 6% de IVA da construção e não temos outras restrições», exemplifica.
Sustentabilidade é prioridade
A Krest não abdica da sustentabilidade, e quer que todos os seus projetos sejam NZEB. «É um dos desafios que colocamos logo aos arquitetos, o projeto tem de ser sustentável logo à partida, e a pegada energética tem de ser zero». Os arquitetos parceiros devem ser capazes de encontrar estas soluções, «é um critério para trabalhar connosco».
A Krest está a desenvolver mais de 6.000 unidades de habitação e mais de 85.000 metros quadrados de escritórios em toda a Europa e, na sua experiência, «custa-nos mais 100 euros por metro quadrado se seguirmos estes princípios de sustentabilidade. Não é normal que nos digam que o custo vai ser 40% superior, temos de fazer sustentável sem uma grande subida dos custos».
Mas, para isso, «precisamos que as autarquias sejam claras e entendam o que é a sustentabilidade. Se submetermos projetos com novas técnicas que depois não são aprovadas, ficamos presos, por isso precisamos de manter esse diálogo». Por outro lado, «precisamos de perceber como vamos ajudar os clientes a perceber o seu papel numa habitação mais sustentável: menos metros quadrados, mais terraços, menos carros, mais transporte público. É um processo de longo prazo».
“Ser promotor imobiliário hoje é complicado em toda a Europa”
Na experiência de Claude Kandiyoti, «ser promotor imobiliário hoje é complicado em toda a Europa. Os processos de licenciamento são complicados em todo o lado, e é por isso que temos tantos problemas de falta de habitação. Em Portugal, o processo é ligeiramente mais lento a comparar com a Bélgica, por exemplo, mas aí os problemas são mais políticos, e aqui tem mais a ver com a burocracia», explica.
O líder da Krest garante que «queremos passar a mensagem de que estamos para ficar, e trabalhamos numa comunicação séria entre as autoridades e os promotores imobiliários. Precisamos de respostas rápidas». Por outro lado, salienta a necessidade «de um procedimento claro para que se perceba o que é necessário para levar o projeto avante», e da definição de timings, pois «é impossível trabalhar em projetos de dezenas de milhões de euros sem saber quando vamos ter respostas, o licenciamento, etc». E especifica que, atualmente, «em média, temos o nosso licenciamento em 20 meses, é muito tempo, é quase tanto tempo para a licença como para construir o projeto em si. E isso custa muito dinheiro».