Na conferência da JLL, que decorreu na passada sexta-feira, debaterem-se temas como a evolução do imobiliário e as tendências do futuro. Para além da presença de Pedro Lancastre, CEO da JLL Portugal, e de Carlos Moedas, presidente da câmara municipal de Lisboa, o evento contou ainda com a participação de Maria Empis, responsável pela área de dinâmicas de trabalho da JLL Portugal; Guzman Blanche, responsável de estratégia para o local de trabalho na região EMEA e Andy Poppink, CEO da área de mercados na região EMEA.O Imobiliário "tem um papel crítico na transição energética"Como já era de se esperar, a sustentabilidade foi um dos principais temas na conferência. Maria Empis, responsável pela área de dinâmicas de trabalho da JLL Portugal, ao referir que «desde 1970 consumimos mais recursos que aqueles que a Terra é capaz de produzir», sublinha que «temos de mudar». Assim sendo, temos de «reduzir para metade as emissões de CO2 até 2030, atingir a neutralidade carbónica até 2050, e consumo de eletricidade através de 70 a 85% de energias renováveis até 2050» para que se cumpra o «acordo de Paris que surge para limitar o aquecimento global a 1,5ºC face aos níveis pré-industriais», enfatiza Maria Empis.Atentando para o papel do setor imobiliário na transição energética, a responsável pela área de dinâmicas de trabalho da JLL Portugal, alude para o facto de o imobiliário ser «responsável por emitir quase 40% das emissões de carbono globais», sendo que o caminho para a descarbonização «tem dois passos»: a redução do embodied carbon e o aumento da eficiência energética.A construção de «forma mais limpa, mais leve, com menos mão-de-obra, menos recursos», é o caminho a seguir, de acordo com Maria Empis: «temos de inovar na forma como reciclamos materiais de construção, na melhoria da eficiência energética, tornar os edifícios mais inteligentes, usar mais energias renováveis».A modelação BIM pode ser solução, pois «compatibiliza todas as especialidades de projetos, permite minimizar as alterações e erros em obra, guarda informação para manutenção mais eficiente dos edifícios»."Mudam as prioridades, nomeadamente dos colaboradores, e isto tem impacto no imobiliário"Pelo facto de a pandemia ter acelerado certas tendências nos edifícios e escritórios, Guzman Blanche, responsável de estratégia para o local de trabalho na região EMEA, sublinha que os «edifícios são mais horizontais, com maior sentido de hospitalidade, com todos os serviços e facilities necessários, food strategy (...) na sustentabilidade, têm de ser next level. Rooftop tem de ser mais acolhedor, tentar NZEB, mais madeira, mais terraços, biofilia etc.». Guzman Blanche realça ainda o facto de estarmos «a vender o imobiliário como um serviço» e também que os «edifícios “community building” estão cada vez mais sofisticados, os nossos clientes são o utilizador final, cada vez mais»."Estamos ainda no início, e a implementação de novas tecnologias demora. E o imobiliário é ainda mais lento"É esta a opinião de Andy Poppink, CEO da área de mercados na região EMEA que refere que os os investidores estão a apostar nas proptech, sendo que a JLL «já investiu mais de 350 milhões de dólares em tecnologias destas». Cita ainda que se podem investir nas áreas da «sustentabilidade e bem-estar, future of work, smart buildings, construção, finanças, portfolio management, marketing digital, metaverse»."Vivemos no ESG, temos uma responsabilidade civil"No debate moderado por Marta Lourenço, Avaliações, estiveram presentes Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate; Nuno Silva, fundador da Finsolutia e Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial.Salientando que a «transição energética é o nosso core business», Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, refere que «estaremos livres de carvão em 2025, e queremos ser completamente verdes em 2030. É algo que o mundo terá de abraçar. Empresas começam a por mais foco nos critérios ESG». Revelou também que um dos grandes desafios é o carregamento e que «grande parte das emissões de transporte que temos de reduzir é da frota comercial/empresarial».«Há falta de recuperação no mercado português. Energia verde e carregadores sim, mas serão verdadeiramente sustentáveis?», de acordo com Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate, o ESG é uma responsabilidade civil, «trabalhamos para perceber qual é a melhor forma e a melhor solução, temos de responder às nossas necessidades, sem por em causa a possibilidade da próxima geração responder às suas». Para atender a essas necessidades, a «construção tem de ser mais barata, mais rápida, mais fácil. Desta forma, poderemos criar melhor serviço, melhor produto. No fim do dia, temos de acrescentar valor. E sustentabilidade é também ter projetos a longo prazo. Temos de ter estabilidade e visão, trabalhar juntos para atingir esses objetivos», segundo Nuno Silva, fundador da Finsolutia.Atrair colaboradores é o novo desafio dos escritóriosClaude Kandiyoti, referindo-se à nova realidade dos escritórios, frisa que «temos de atrair as pessoas, criar um conceito em que ir ao escritório seja efetivamente diferente de estar em casa. As empresas começam a colocar novo benchmark, tipo 50%-50%, a ideia é partilhar o espaço, não a secretária. A ideia é criar quase um bairro, como um piso».Vera Pinto Pereira, acredita que para além de consistência na empresa, «precisamos de experiências WOW para trazer as pessoas de volta ao escritório». Nuno Silva atentou ainda para o facto de haver «muita oportunidade na tecnologia. O imobiliário precisa de ser “abanado”. Podemos fazer muitas análises quantitativas, sim, mas as qualitativas (pessoas) são difíceis de substituir».