E são vários os setores do mercado imobiliário onde essas oportunidades deverão surgir, revelam os especialistas reunidos na edição online da “Iberian Investment Briefing – Why Iberia” que ocorreu na manhã desta terça-feira.
Um deles serão os hotéis. Cristina García-Peri, Head of Business Development & Strategy na Azora, assume que será neste setor - que foi um dos mais afetados pela crise - que deverão surgir «oportunidades tremendas», porque serão vários os “distressed assets” deste tipo que vão ser colocados no mercado. «Acreditamos que as pessoas vão continuar a viajar e a visitar os hotéis» e, portanto, este é um setor que se revela muito atrativo, sobretudo, os hotéis de lazer. Sobre esta matéria, Pedro Coelho, Chairman na Square Asset Management, alerta que a realidade para os “business hotels” deverá ser outra. Na sua opinião, estes ativos «vão sofrer muito com a crise, porque não vai haver reuniões de negócios tão cedo».
Mas esta vaga de oportunidades não deverá ocorrer já. Segundo os dados revelados por Richard Betts, diretor na Real Asset Media e mediador da iniciativa, a grande maioria dos participantes – cerca de 85% - concorda que as “distressed opportunities” apenas deverão aparecer no mercado imobiliário ibérico dentro de pelo menos 1 ano. Já 3% dos respondentes considera que tal não vai ocorrer.
Já a tendência do momento passa por investir em logística, assumem os especialistas. Para José Manuel Llovet, General Manager of Retail, Offices & Logistics at Grupo Lar, a crise pandémica veio reafirmar o investimento em logística que nos últimos dois anos têm evidenciado um crescimento. Agora, acredita que «os fundamentais da logística são muito fortes, pois há procura que deriva do aumento do e-commerce». Mas esta mudança de cenário deverá trazer consequências para o setor, como é o caso do aumento das rendas, e desafios, que passam por um maior investimento em tecnologia e, em particular, em inteligência artificial. Sobre este ponto, Simon Wallace, Global Co-Head of Alternatives Research and Strategy na DWS, considera que a logística deverá estar mesmo no topo até porque «a qualidade do rendimento está bem posicionada».
Outro setor que tem potencial para crescer na Ibéria é o mercado de arrendamento residencial. Cristina García-Peri, acredita que vai haver um «maior apetite dos investidores para este setor». Em particular, o mercado residencial acessível «vai atrair muito investimento estrangeiro», até porque «Espanha oferece um enquadramento legal estável». O representante da DWS considera também que o residencial será um setor que irá atrair «capital institucional» e que deverá ser mais forte junto às grandes cidades ibéricas.
Os ativos alternativos, que mantém um desequilíbrio entre a procura e oferta, deverão também reafirmar-se no mercado ibérico. Para Cristina García-Peri, as “nursing homes” são «uma grande oportunidade de investimento», já que «há falta de oferta no setor para colmatar as necessidades de uma população muito envelhecida». Muito deste investimento deverá concretizar-se através de parcerias público-privadas, acrescenta. Por outro lado, há que «ser seletivos sobre as localizações dos ativos» quando se equaciona investir em residências de estudantes, alerta a responsável da Azora, que explica ainda que «apesar de continuar a haver muita procura, muito investimento já foi feito» neste setor.
Escritórios mantém «procura forte»
Resiliente à crise permanece o segmento de escritórios que, antes, já era considerado um «setor forte», segundo Pedro Coelho. O representante do Grupo Lar confirma isso mesmo, afirmando que agora «vemos uma procura forte, uma ocupação completa e uma atividade muito positiva».
Sobre o futuro do setor, Simon Wallace vai mais longe, projetando que em termos de retornos totais futuros, o segmento de escritórios deverá mesmo superar a média europeia entre 2020 e 2024. Na sua perspetiva, haverá uma tendência para a deslocalização do setor e, portanto, uma procura «por novos espaços e novas localizações em Madrid, Barcelona e Lisboa, que oferecem condições de acessibilidade».
Para já, é certo que se avizinham desafios no setor, como é o caso da conjugação entre o trabalho nos escritórios e o teletrabalho, que segundo o diretor da Iberian Property António Gil Machado, deverá ser flexível.
Futuro do Retalho mantém-se incerto
A «elevada incerteza» continua a afetar o retalho, um dos setores mais afetados pela crise pandémica. O diretivo do Grupo Lar acredita mesmo que esta crise vai «afetar os fundamentais do mercado temporariamente», devido, em parte, às moratórias no pagamento das rendas. Este fator é particularmente importante na hora de avaliar ativos, um «ponto critico» neste momento, que exige maior cooperação entre consultoras, avaliadores e players do mercado, acredita.
Apesar de não ver «muito investimento nos próximos meses», José Manuel Llovet acredita que os negócios de retalho vão voltar em 2021. Aliás, no final do ano já é esperada uma recuperação do setor derivada do aumento de afluência aos centros comerciais.
Medidas dos Governos seguem o caminho certo
Para mitigar os efeitos severos da crise nos negócios, os Governos têm tido um papel importante já que têm desenhados várias medidas de apoio, lembra María Jesús Fernández García, Executive Director, ICEX - Invest in Spain na ocasião.
«As políticas fiscais têm de estar na linha da frente para prevenir as consequências maiores desta crise. Mas o Banco Central Europeu tem também um papel importante no que toca ao financiamento em boas condições», afirma na ocasião. O importante agora passa por apoiar as empresas, minimizar o impacto no emprego e proteger os negócios e famílias mais vulneráveis.
María Jesús Fernández García, considera que estas medidas estão «a seguir o caminho certo» e que este poderá ser o momento para apostar na transição ecológica e numa economia verde. Nesta matéria, Espanha já tem vários incentivos quer para construção nova quer para reabilitar edifícios existentes, garante. O que é certo é que «Espanha está aberta a novos negócios para o futuro», assume.