A transformação digital está a moldar profundamente o setor imobiliário, impulsionando uma mudança radical na forma como compramos, vendemos e interagimos. Num painel sobre "Inteligência Artificial ao Serviço do Imobiliário", realizado durante a conferência SIL Investment Pro, no passado dia 3 de maio, especialistas discutiram o impacto e o potencial da inteligência artificial neste domínio.
António Gil Machado, Diretor da Vida Imobiliária, destacou o crescimento exponencial da tecnologia, comparando-o ao impacto revolucionário da internet. Com uma estimativa de que a IA possa representar até 15% do PIB até 2030, sublinhou a «necessidade de adaptação e colaboração com parceiros estratégicos, pois o impacto vai ser rápido e brutal», afirmando que «estamos perante uma tecnologia de mais rápida adoção, com o ChatGPT a angariar 100 milhões de utilizadores em dois meses». Neste sentido, «estamos todos a correr atrás do prejuízo e a tentar perceber como nos podemos encaixar nesta enorme engrenagem», disse o diretor da VI, acrescentando que «a plataforma que conhecer melhor o cliente e melhor o conseguir ajudar vai ganhar maior fidelidade».
Ao ser questionado sobre quais são as áreas de maior impacto no mercado imobiliário, Nuno Alpendre, Partner da Deloitte, disse que «a pergunta poderia ser quais são as áreas onde não terá impacto». O responsável ressaltou que «o impacto da IA é transversal a muitos domínios do mercado imobiliário, desde a experiência do cliente até à smartificação dos edifícios. Estamos a apostar em todas as componentes de comercialização, personalização de acordo com as preferências dos consumidores e smartificação dos edifícios».
Comercialização de imóveis vai ser revolucionada
Nuno Alpendre abordou a possibilidade de «quando procurarmos uma casa, a plataforma começar a mostrar ao utilizador escolhas que realmente fazem sentido para aquela pessoa. É uma evolução que está a acontecer, estamos no início». Quanto ao riscos que a inteligência artificial coloca a certos empregos, o representante da Deloitte considerou que «vai haver um período de transição, onde há algumas pessoas que serão afetadas, mas vão surgir novas profissões, skills e necessidades. Algumas profissões vão ser afetadas, mas isto é um processo normal, há profissões que há 50 anos não existiam e foram substituídas por outras. Vejo isto mais como uma oportunidade do que um risco».
Por outro lado, Sérgio Ferreira, Partner, Europe West Consulting Services | Ernst & Young, identificou três áreas-chave onde existe espaço para aquilo que é o impacto da IA no imobiliário: «melhoria de insights de clientes, serviço ao cliente 24x7 e automação de fluxos de trabalho», salientando que «o setor imobiliário está um pouco atrás daquilo que é a utilização do que a tecnologia hoje já disponibiliza. Outras setores, como o do retalho, estão mais avançados nesta ótica».
Para Sérgio Ferreira, «hoje temos vindo a falar muito em Chatgpt, mas isto é apenas o princípio para a transição que realmente pretendemos. Estes novos dispositivos que estão a ser lançados tentam cumprir lacunas que nós temos nos modelos de linguagem de grande dimensão. Foram treinados com dados, informação de livros etc. Mas falta-lhes ação».
Na ótica de João Caiado, Fundador da Mirage Virtual Reality, «quem não utilizar IA ficará para trás. Aconselho a todos a integrar IA no dia a dia, especialmente os mais experientes, pois têm mais informação para aplicar nestes modelos». O Fundador da Mirage Virtual Reality diz que atualmente «há um bocadinho de discrepância no hiper-realismo, sendo que não é possível chegar ao hiper-realismo. Acredito que vamos passar a ter embutidos dentro de softwares certos comandos, por exemplo, “make me a blue sky”; “put rainy day” etc.» O responsável adiantou ainda que «embutimos todas as nossas memorias descritivas que tínhamos no escritório para dentro do chatgpt. Antes demorávamos 2 dias a fazer uma memória descritiva, hoje em dia demoramos 1 ou 2 horas».
“O BIM vai avançar numa ótica mais hiper-realista”
«Hoje um bom projeto feito em BIM tem uma quantidade de controle maior, uma diminuição dos problemas futuros em termos de reduzir emissões», enfatizou João Caiado, acrescentando que «o BIM vai avançar numa ótica mais hiper-realista, mas ao mesmo tempo acho que vai acabar por funcionar por prompts. Além disso, vai ser possível embutir algumas das leis das nossas Câmaras para dentro do próprio BIM».