2021 vai ser ainda um ano muito difícil para o turismo e a hotelaria em Portugal, em consequência da pandemia. É o que mostram as respostas dos hoteleiros que responderam ao inquérito AHP “Balanço 2020 & Perspetivas 2021”.Cristina Siza Vieira falava à imprensa durante a apresentação do relatório, que revela que mais de 30% dos hoteleiros pensa voltar a abrir portas já a partir de maio. Mas 30% dos estabelecimentos hoteleiros poderão estar fechados até ao final deste ano, incluindo os hoteleiros que não pensam reabrir, que não sabem se vão reabrir ou que não vão reabrir de todo.Cristina Siza Vieira classifica também como «muito preocupantes» as perspetivas traçadas para a região de Lisboa, onde a hotelaria espera abrir a partir de maio, com uma expetativa de 60% dos hotéis abertos a partir de julho. «Vai ser um ano muito pobre em termos de oferta de alojamento», afirma.3.270 milhões de receita perdida em 2020Em 2020, o setor da hotelaria registou uma perda de 73% nas receitas totais, o que soma os 3.270 milhões de euros. Os maiores impactos foram sentidos nos Açores (-81%) e em Lisboa (-80%). A taxa de ocupação anual fixou-se nos 26% a nível nacional, e o preço médio por quarto, durante os períodos de abertura, foi de 86 euros.No ano passado, o encerramento de unidades hoteleiras foi «brutal» entre abril e junho, com os picos de 85% e 84% dos hotéis fechados em abril e maio, respetivamente. Mesmo em agosto, 24% estavam fechados, e em setembro esta percentagem foi de 21%, voltando a subir a partir de outubro, com o início da segunda vaga da pandemia.Apesar das fortes descidas, «o cabaz de mercados emissores manteve-se idêntico, com alterações no posicionamento relativo». Foi o mercado doméstico que dominou a procura, apontado em primeiro lugar por 89% dos inquiridos.Segundo a AHP, 76% dos hotéis não deu uso alternativo às suas unidades de alojamento, nomeadamente porque a maior parte teve os colaboradores em regime de lay-off. 17% alojou profissionais de saúde, 4% usou as unidades como escritórios, 8% para reuniões, 4% para ensino e formação e 3% para habitação.96% dos hoteleiros inquiridos acedeu ao lay-off simplificado, e 75% à retoma progressiva da atividade. Segundo Cristina Siza Vieira, «houve uma necessidade grande e um acesso grande às medidas de apoio. Apenas 1% não aderiu».Reservas muito tímidas para o verãoToda a situação de incerteza que atualmente se vive está a ter impacto nas reservas da hotelaria, com um movimento de reservas para os próximos meses, incluindo os de verão, muito reduzido, de apenas 25% para agosto e setembro. Seria de esperar que o anúncio da vacina aumentaria as reservas, mas não teve qualquer impacto para a esmagadora maioria dos inquiridos.O movimento será feito, acredita a AHP, com viagens de proximidade, domésticas e regionais. A taxa de cancelamentos deverá ser inferior em comparação com o ano passado, e a ocupação deverá melhorar, com a expetativa da eficácia do plano de vacinação. Também a receita total deverá recuperar face a 2020, mas Cristina Siza Vieira lembra que «estamos a comparar com um “copo vazio”».As reservas com reembolso estão para ficar, para ajudar na incerteza, mas terão um grande peso na tesouraria dos hotéis e das empresas. A responsável da AHP destaca que «as reservas não reembolsáveis estão “no congelador”, exige-se hoje muita flexibilidade e reembolso. Isto gera uma instabilidade brutal na operação».Níveis de 2019, só mais perto de 2023Questionados sobre quando esperam que o setor da hotelaria regresse aos níveis de atividade de 2019, os inquiridos da AHP apontam, na sua maioria, para algures entre o segundo semestre de 2022 ou o primeiro semestre de 2023.24% acredita que estes níveis serão atingidos só mesmo em 2024, e muito poucos acreditam que tal aconteça no início de 2022.Entre os principais desafios à atividade este ano, segundo a AHP, estão os custos da operação Covid-19, os reembolsos dos apoios e empréstimos feitos em 2020 e que vão terminar, o aumento das reservas reembolsáveis, a redução dos recursos humanos, o futuro do turismo de negócios, as novas medidas europeias, a eventualidade da criação de certificados de vacinação, ritmo de vacinação, retoma da atividade aérea.Cristina Siza Vieira está convicta de que «precisamos de três planos: um de vacinação, outro de desconfinamento, e outro de promoção. E temos de os executar muito bem».E alerta ainda que a AHP já propôs várias medidas específicas para a retoma da hotelaria: «o programa Apoiar tem de ser robustecido, as linhas de apoio têm de ser continuadas e densificadas, o prolongamento das moratórias é necessário neste momento. Precisamos de linhas específicas, e também de um perfil de apoio diferente do que tem sido traçado para o geral das indústrias». Isto porque o turismo «é uma indústria de capital intensivo, retorno lento, ativos com grandes custos de manutenção mesmo parados. Temos de suportar a TSU dos trabalhadores», exemplifica. «Acreditamos que não se vai deixar cair a porta de entrada do turismo em Portugal, que é a hotelaria», conclui.