Em circunstâncias inéditas e ainda muito imprevisíveis, devido à pandemia de Covid-19, o setor da construção em Portugal deverá manter a sua evolução globalmente positiva este ano, com o intervalo de previsão de crescimento a apontar para 1,2% a 3,2%, num valor médio de 2,2%.
A informação da Conjuntura da Construção de janeiro, agora divulgada pela AICCOPN e pela AECOPS, mostra que a generalidade das previsões divulgadas pelas principais entidades nacionais e internacionais indicam que Portugal deverá regressar a uma trajetória de crescimento a partir deste ano, mantendo-se o contexto de incerteza devido à pandemia e ao seu impacto. As projeções do Banco de Portugal apontam para um crescimento da economia de 3,9% em 2021 e de 4,5% em 2022, depois da quebra de 7,6% do PIB estimada pelo INE para 2020.
Construção residencial espera descida de -1%
No ano passado, a construção de habitação manteve um nível de elevada procura em Portugal, e, segundo as associações, «continuou a beneficiar de um enquadramento macroeconómico marcado por taxas de juro historicamente baixas». Até novembro de 2020, registou-se uma redução homóloga do número de fogos licenciados em construções novas de 1,3% e de 8,1% das obras de reabilitação de edifícios residenciais.
Este ano, as previsões apontam para uma descida da produção entre -2% e 0%, (-1% em média) uma interrupção da trajetória iniciada em 2014 que se deve «a um elevado nível de incerteza que poderá conduzir ao abrandamento de investimentos já previstos, bem como ao impacto da quebra ocorrida no licenciamento de obras pelas Câmaras Municipais».
Descida da construção não residencial pode agravar-se
No que toca à construção não residencial, prevê-se que a produção registe uma quebra mais intensa que a de 2020, entre -2,1% e 0,1%, que se traduz numa quebra média de -1,1%, que compara com a de -0,5% de 2020.
O relatório explica que esta performance «resulta da diminuição da atividade da sua componente privada, que após a quebra de 2% de 2020, deverá contrair-se cerca de 3,0% em termos reais em 2021, uma vez que, no que diz respeito à componente das obras públicas em edifícios não residenciais, prevê-se um crescimento em redor de 2% para 2021, semelhante ao ocorrido em 2020», pode ler-se.
Esta previsão baseia-se no indicador relativo às áreas licenciadas por destino de edifício, que, na globalidade, diminuiu 4,7% até outubro de 2020, o que corresponde a uma redução em termos absolutos de 106.300 metros quadrados face ao mesmo período do ano anterior, com decréscimos significativos nas áreas licenciadas em edifícios destinados à indústria, turismo, transportes e uso geral.
As perspetivas são melhores para a componente pública da construção de edifícios não residenciais, que «beneficia da evolução muito positiva do mercado das obras públicas ao longo de 2020, com crescimentos acentuados, tanto no lançamento de novos concursos de empreitadas de obras públicas, como no volume de contratos celebrados», aponta o relatório.
Ao longo do ano passado, foram registados no Portal Base cerca de 11.000 contratos de empreitadas de obras públicas, num total de cerca de 3.100 milhões de euros, mais 10,1% em número e 32,9% em valor face aos totais de 2019.
Engenharia civil duplica crescimento em 2021
Nota positiva para o segmento da engenharia civil, que deverá registar «um ano marcadamente positivo» em 2021, com a duplicação da taxa de crescimento face ao anterior, dos 3% de 2020 para 6% em 2021.
A AICCOPN e a AECOPS explicam que «o reforço do peso do investimento público no PIB (de 2,5% em 2020 para 2,9% em 2021, segundo as previsões da Comissão Europeia), em resultado da esperada execução dos fundos comunitários inscritos no Portugal 2020 e do expressivo aumento dos montantes de empreitadas de obras públicas promovidos e celebrados em 2020, fundamenta uma expectativa de um comportamento favorável do segmento da engenharia civil em 2021».