Certificação dos edifícios é ponto de partida para a sustentabilidade

«A certificação dos edifícios não é um produto que se compra, é, sim, transformar uma empresa». As palavras são de Adrià Casas, Solutions Architect, Schneider Electric, que participava na mais recente conferência das Jornadas de Facility Management, dedicadas ao tema “A importância do FM no atingimento da Neutralidade Carbónica”. Esta foi uma das principais conclusões da sessão, até porque «a eficiência energética é um processo, um tema em evolução», defende Miguel Agostinho, diretor executivo da APFM, organizadora do evento, em conjunto com a VI.Casas explica que «não basta comprar uma solução, há uma mudança que tem de ser feita, nomeadamente através de consultoria. O FM tem uma grande visão e sabe como conseguir um edifício mais eficiente resiliente, e pode ajudar os clientes nisso», nomeadamente propondo soluções logo nas fases iniciais dos projetos.Bruno Miguel Jorge, Facilities Management & Maintenance do BPI, partilhou um pouco da experiência do banco nesta área, explicando que a instituição já assumiu o compromisso da neutralidade carbónica, e «a certificação ambiental é o motor para o banco BPI», que está focado na redução e não na compensação das emissões: «70% da pegada de carbono do banco dizia respeito ao consumo de energia e 20% à frota. Era fácil adquirir os créditos de carbono no mercado, mas queremos atuar na redução, e é aí que o FM tem um papel preponderante, dotando os nossos edifícios de sistemas mais eficientes». Completa que «temos de ser nós e outras grandes empresas a levar o mercado connosco. Se todos contribuirmos para a redução e para a neutralidade com processos credíveis e certificados, não tenho dúvida de que o mundo será mais sustentável».Na área do retalho, a Lidl já começou o processo de transformação há vários anos, como explica Carina Fiche, Head of Facility Management, da Lidl Portugal, com certificações BREEAM, LEED, ou ISO500001. Desde 2019 que 100% da energia comprada pela marca em Portugal é de origem sustentável. E se em 2018 70% da pegada dizia respeito às lojas e o restante aos transportes, hoje «quase 100% da pegada diz respeito à frota».Mas a responsável garante que «as certificações são um caminho e fornecem-nos apenas uma orientação e ferramenta para um processo de facility management de melhoria contínua». As certificações, diz, «obrigaram a rever processos e a ver o que podemos implementar adicionalmente. Os desafios são imensos», como satisfazer as exigências, mantes os custos de construção e operação reduzidos, intervenções futuras podem estar condicionadas, os processos são longos. Mas «temos maior redução dos consumos, identificação dos pontos de melhoria, impacto na imagem e visibilidade da empresa».Mais eficiência, mais valor no imóvelCaetano de Bragança, Head of Sustainability & Workplace Strategy da JLL, destacou nesta conferência que «a sustentabilidade é hoje um objetivo e obrigação moral e corporativa. Os clientes são muito mais exigentes». Na procura desta neutralidade carbónica, «as empresas acabam por optar por escritórios mais eficientes, procurando também políticas ambientais e sociais corporativas, proprietários, inquilinos e investidores “verdes”, saúde e bem-estar». E completa que «notamos que muitas empresas internacionais, quando agora saltam para um novo escritório, escolhem espaços com certificações ou com compromissos com a transformação dos edifícios».O responsável defende que «temos de mostrar aos nossos clientes que compensa ter um edifício sustentável. Ajuda a cumprir as metas, a atrair clientes, traz benefícios económicos a médio/longo prazo». Dando o exemplo de outros mercados europeus mais maduros, explica que os edifícios de escritórios mais sustentáveis têm menor taxa de desocupação, rendas 6% a 11% mais altas e um valor 15% a 20% superior. «Se investir hoje em sustentabilidade, sei que o meu edifício vai desvalorizar muito menos que um edifício não sustentável», conclui.Esta maior preocupação das empresas com a sustentabilidade pode exigir mais competências dos prestadores de serviços. Bruno Miguel Jorge considera que «as empresas de FM podem ver aqui um nicho de negócio» mais especializado.Frotas: Caminho da eletrificação não se faz sem desafiosA mobilidade é outra das áreas que mais emissões produz, e na qual também o facility management pode ter uma responsabilidade direta, por exemplo na criação de mobilidade elétrica, o que vai desde logo reduzir a pegada de carbono.Miguel Agostinho chama à atenção de que «independentemente da função das nossas frotas, nenhuma é demasio pequena para justificar que não seja bem gerida, não só na ótica da otimização do custo e do ciclo de vida das viaturas, como também na responsabilidade de se repensar a organização das mesmas».A eletrificação é também importante já que «dentro das cidades existem cada vez mais zonas limitadas à circulação. Se quisermos ter uma frota mais flexível, temos de atualiza-la tendo isso em conta».Um dos principais desafios prende-se com a infraestrutura de carregamento: «é um receio dos utilizadores. A nossa realidade imobiliária faz com que nem toda a gente tenha garagem para carregar o carro, e isso cria desafios de gestão de rede, de baterias e também da sua reciclagem e utilização fora dos momentos de pico».A Nestlé deu o seu exemplo de gestão de frota e de redução de emissões, nomeadamente através de uma carpool, do pagamento de parte do passe dos trabalhadores ou de uma shuttle de Lisboa para a sua sede, em Linda-a-Velha. Alexis Pinheiro, Workplace Solutions Manager, Nestlé, identifica os pontos de carregamento como um dos principais desafios, apesar dos bons sinais do mercado: «temos uma rede invejável se compararmos por exemplo com Espanha ou Itália», a par da mudança necessária de mindset, que vai implicar não só conduzir mais devagar ou planear a viagem.A Siemens usa também um sistema de carpool e de shuttle para os seus colaboradores, e gere uma frota de 600 carros: «o grande foco é conseguir uma política de sustentabilidade que respondesse às necessidades de todas as empresas do grupo. Há investimentos que nos parecem avultados, mas a longo prazo podem compensar muito mais». E garante que «a sustentabilidade não é só ter carros elétricos, as preocupações são imensas».A EDP também já tem atribuídas viaturas elétricas aos colaboradores, e adotou plataformas de gestão desta mesma frota. João Hormigo, Presidente da APFM e também diretor da área de energia da EDP, testemunha que «entre as maiores dificuldades que sentimos está muitas vezes a infraestrutura, nomeadamente entre o quadro elétrico ao carregador. Muitas vezes esses ramais não são de custo desprezável».Veja ou reveja a sessão completa:

CONTEÚDO EXCLUSIVO PARA ASSINANTES