A construção de habitação nova é necessária para responder à falta de oferta no segmento médio. É o que defende Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, que identifica que «precisamos, claramente, de obra nova».
Em entrevista à VI, o responsável da rede recorda que «houve nos últimos anos uma grande aposta no turismo, no segmento de luxo, e isso atrasou a construção nova para os portugueses, ou mesmo para uma procura internacional que procura tickets abaixo dos 300.000 euros».
Com a chegada da pandemia e dos problemas nas cadeias de distribuição, veio também a escassez de mão-de-obra, de matérias-primas e o aumento dos preços dos materiais. A somar ao «lento processo de licenciamento, ou à pouca adesão a processos de industrialização da construção em Portugal, a entrega de construção nova será inferior ao que seria expectável e necessário».
No ano passado, ter-se-ão fechado cerca de 190.000 transações de compra e venda de casa no país. Na zona de Lisboa, por exemplo, Ricardo Sousa prevê que o problema do acesso à habitação «vai alastrar-se a outros municípios da Área Metropolitana de Lisboa. Quem tem poder aquisitivo está a movimentar-se entre concelhos, e isto vai criar uma pressão acrescida».
A rede «tem conhecimento sobre essa procura, e temos de lhe dar resposta». Na zona da Área Metropolitana de Lisboa, a Century 21 tem «mais de 3.000 agentes diariamente em contacto com esta procura, e estamos a trabalhar com vários promotores no desenvolvimento e na definição de preços, bem como na distribuição desses mesmos imóveis. É um trabalho de base que tem de ser feito com a promoção imobiliária, e estamos a trabalhar estreitamente com a APPII, para resolver o problema da oferta da classe média. Queremos ser esse elo de ligação para fechar esse gap que existe hoje entre oferta e procura», afirma.
Entre outros desafios para 2022, Ricardo Sousa destaca o inevitável aumento das taxas de juro, devido à pressão da inflação, o que pode «impactar quem vai entrar no mercado, será mais difícil cumprir os critérios de acesso ao crédito».
Por outro lado, se a recomendação do Banco Central Europeu de que os créditos tenham maturidades de 30 anos passar a ser uma obrigação «terá um impacto grande na classe média que precisa de recorrer ao crédito. O número de portugueses que pode comprar uma casa, vai reduzir-se e isso vai ter impacto na procura».