Dado o atual contexto económico e a sua instabilidade, o Banco de Portugal fez esta semana uma série de alertas no seu Relatório de Estabilidade Financeira, um dos quais para o risco de redução dos preços no mercado imobiliário residencial.
Neste momento, «a invasão da Ucrânia e a evolução económica na China, com impacto sobre a atividade económica e a inflação, geram incerteza com consequências sobre a condução das políticas monetárias no mundo», e existe «elevada incerteza das projeções económicas e uma normalização abrupta da política monetária».
Segundo o BdP, «a incerteza corrente, a potencial perda de rendimento real das famílias e aumentos adicionais das taxas de juro poderão reduzir a procura por ativos imobiliários». No entanto, com as restrições na oferta de habitação, «não é de esperar um excesso de oferta que requeira um período prolongado até que seja absorvida pelo mercado».
Assinale-se também que «a percentagem de transações financiadas com crédito bancário doméstico, cerca de 50% em 2022, é bastante inferior à anterior à crise da dívida soberana, cerca de 75% em 2010. Adicionalmente, a Recomendação Macroprudencial relativa aos novos créditos às famílias promove a resiliência de mutuantes e mutuários nas transações financiadas por crédito». O BdP nota também que «o recurso ao mercado de arrendamento poderia diminuir a pressão da procura de imóveis, moderando a dinâmica de crescimento dos preços e do crédito à habitação».
Segundo a instituição, o crescimento do stock de empréstimos à habitação estabilizou durante os primeiros 9 meses do ano, com a taxa de variação anual ajustada a fixar-se nos 3,8% em setembro. Os novos empréstimos cresceram no 1º semestre, mas contraíram no 3º trimestre.
Outros alertas são deixados quanto à redução do endividamento público, que pode ser «desafiada» pelo aumento das despesas com jutos e pelo abrandamento nominal da economia, e também em relação ao deteriorar da situação financeira dos particulares, devido à inflação e ao aumento das taxas de juro, que aumenta o risco de incumprimento. No nosso país, a proporção de empréstimos à habitação com taxa variável é de 90%, «levando a que a subida das taxas de juro de mercado se traduza num aumento do serviço de dívida no curto prazo. Estima-se que em dezembro de 2023, 11% dos contratos de crédito à habitação passarão a ter um rácio entre a prestação e o rendimento (LSTI, loan service-to-income) superior a 40% (5% em junho de 2022)», pode ler-se no relatório.
Fatores como a redução do rácio de endividamento para um nível inferior ao da média europeia, a concentração do crédito em famílias de classe de rendimento mais elevado, a escassez de mão-de-obra no mercado de trabalho ou a melhoria do perfil de risco dos novos mutuários, em consequência da Recomendação Macroprudencial, são fatores que podem mitigar o risco de incumprimento, segundo o BdP.
Nota também para o risco do crédito associado à exposição da banca às empresas mais afetadas pela pandemia e pelo aumento dos custos da energia e matérias primas. Mas a inflação elevada e persistente, o aumento abrupto das taxas de juro e o forte abrandamento da economia «são os principais fatores de risco para o setor bancário, via risco de crédito e risco de mercado».
Além destes, outros desafios mais estruturais prendem-se com a transição climática, a transformação digital ou a alteração no processo de globalização económica e financeira.